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Presumir gênero é inerentemente antitrans?  0

Presumir gênero é inerentemente antitrans?

Aviso de conteúdo: Esta é uma postagem sobre presunção de gênero. Ela é contra a presunção de identidades de gênero, mas como o público-alvo são pessoas que se acham justificadas em presumir gênero, ela menciona exemplos que podem machucar quem lida com disforia de gênero ou com questões similares.

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Termos de identidades de gênero que remetem à infância  0

Bandeiras barnean, fleurlingen, gênero-menino, gênero-menina, emboyinmaic e gênero-fofo.

Aviso de conteúdo: A introdução desta postagem e o segundo parágrafo do primeiro item mencionam brevemente pedofilia e abuso sexual de menores de idade. Não há exemplos ou detalhes gráficos, mas quem preferir pode querer pular tais seções.


 

O tema do último Rodízio NHINCQ+ foi infância, então tive a ideia de fazer uma postagem reunindo termos para identidades não-binárias que remetem ao assunto. Infelizmente, não a terminei dentro do prazo, mas ainda assim quis terminar e postar.

Por ser uma forma de trollagem popular, quero ressaltar que identidades de gênero de qualquer tipo não são justificativas para realizar quaisquer ações abusivas. Alguém com uma identidade de gênero relacionada a ser criança não necessariamente tem atração por crianças e, independentemente disso, não pode usar sua identidade como desculpa para tentar ter qualquer relação inapropriada com menores de idade. Pessoas dizendo que quaisquer facetas de suas identidades dão algum tipo de permissão para cometer abuso e/ou violência contra outres com menos poder e ter isso respeitado estão ou querendo se aproveitar de pessoas desinformadas ou tentando se aproveitar de pânico moral para virar grupos de pessoas contra pessoas marginalizadas.

Enfim, aqui estão alguns termos que podem ser usados por pessoas de quaisquer idade para descrever que seus gêneros passam sensações de características relacionadas com ser criança. A maioria deles são xenogêneros, então recomendo entender o conceito antes de ler as definições nesta página.

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Alguns termos cunhados em 2021  2

Imagem composta por várias bandeiras, em várias rotações e tamanhos, como se fossem uma pilha de papéis.

Bandeiras, desde o canto superior esquerdo, seguindo no sentido horário e terminando no centro: nonangi, gênero-humano, inmo(ssexual), diomni, plurabro, gênero-diário, ambix, diatraída e mavári. As bandeiras inmo e diomni usadas são diferentes das que aparecem durante a postagem.


Então, né, no ano passado, eu tinha até começado a reunir termos cunhados durante o ano para que eu não tivesse que ir correndo atrás deles na última hora e demorar demais com a postagem.

Porém, por conta de vários ocorridos na minha vida pessoal, eu acabei parando de juntar tais termos em abril, e quando me organizei o suficiente para poder postar aqui, já não estávamos mais no início do ano.

E então… veio junho. O mês do orgulho. Então pensei, por que não fazer esta postagem agora? As únicas coisas que eu não queria deixar de fazer também eram postar algo em meu blog pessoal, além de postar 60 termos na conta @termos em colorid.es, sendo que esta última meta está em progresso.

Enfim, aqui vai uma seleção de termos para orientações e identidades de gênero que foram cunhadas no ano passado! Os termos traduzidos virão primeiro, e, caso os termos originais sejam diferentes, eles aparecerão entre parênteses em seguida.


Subtipos da orientação abro

Retângulo composto por 7 faixas horizontais, nas cores verde, verde clara, branca, preta, branca, rosa clara e rosa. As faixas brancas possuem a metade do tamanho das outras faixas.

Bandeira nulabro

No dia 8 de março, Dexter (neopronouns no Tumblr) postou uma série de termos específicos a pessoas cuja atração é fluida, mas com um aspecto fixo. São estes:

  • Enabro: Alguém abro que sempre sente atração por identidades não-binárias;
  • Feeabro (finabro): Alguém abro que sempre sente atração por gêneros femininos;
  • Homabro (manabro): Alguém abro que sempre sente atração por homens/gêneros relacionados;
  • Meeabro (minabro): Alguém abro que sempre sente atração por gêneros masculinos;
  • Monabro: Alguém abro que sempre sente atração por um gênero. A postagem não explica se é alguém que sempre se atrai por um gênero específico e cuja atração por outros gêneros que vai e volta, ou se é alguém cuja atração é sempre por um gênero só que ela muda de gênero em gênero, mas considerando plurabro, acredito que a intenção tenha sido a segunda coisa;
  • Mulhabro (womabro): Alguém abro que sempre sente atração por mulheres/gêneros relacionados;
  • Neeabro (ninabro): Alguém abro que sempre sente atração por gêneros neutros;
  • Nulabro (nullabro): Alguém abro que é sempre a-espectral;
  • Plurabro: Alguém abro que sempre sente atração por múltiplos gêneros.

Ambix, angix

Assim como o próprio Roswell disse em sua cunhagem, é comum que pessoas caracterizem androginia e ambiguidade como a mesma coisa. Por conta disso, ele pensou nos seguintes termos, postados em 25 de abril:

  • Ambix: Um gênero ambíguo, mas que não é andrógino.
  • Angix: Um gênero andrógino, mas que não é ambíguo.
Retângulo composto por 5 faixas verticais, nas cores roxa, roxa clara, rosa, roxa clara e roxa.

Bandeira angix

Neste contexto, androginia é uma derivação/mistura de feminilidade e masculinidade, enquanto ambiguidade é algo incerto e enigmático que pode ser interpretado de várias formas.

Assim, algumas pessoas podem ter um gênero que é tanto ambíguo quanto andrógino, porém há pessoas cuja ambiguidade não tem necessariamente qualquer proximidade com gêneros binários ou com qualidades relacionadas a eles, assim como pessoas cuja androginia não tem nada de ambíguo.


Diatraíde

Retângulo composto por sete faixas horizontais, nas cores amarela clara, laranja clara, roxa, roxa escura, verde, azul e rosa. A faixa central possui o dobro do tamanho das outras faixas.

Bandeira diatraída

Diatraíde (tradução de diattracted) é alguém que sente atração por todos os gêneros de alguma forma caso esteja contando com todos os seus tipos de atração, mas que talvez não chegue a ser pan/omni/etc. em todos os seus tipos de atração.

Por exemplo:

  1. Uma pessoa que é pansexual, mas que é arromântica, analternativa e afins, que não é atraída por ninguém de qualquer forma que não seja a sexual, pode se dizer diatraída;
  2. Uma pessoa torenromântica que só não sente atração romântica por mulheres que também é feminassexual (ou seja, só sente atração sexual por mulheres) pode se dizer diatraída;
  3. Uma pessoa que só sente atração sexual por homens, romântica por pessoas que não são homens ou mulheres e queerplatônica por todos os gêneros menos algumas identidades não-binárias pode se dizer diatraída;
  4. Uma pessoa que sente atração por todos os gêneros em todas as suas orientações pode também se dizer diatraída.

O termo foi também cunhado por Dexter, e a versão arquivada de sua postagem, feita no dia 29 de abril, pode ser encontrada aqui.

É importante não confundir este termo com a orientação di, que é para pessoas que só sentem atração exatamente por dois gêneros.


Gênero-diário

Retângulo composto por uma série de losangos, todos eles um em volta do outro até que os maiores passam a sair da imagem. O losango central menor é preto, o que fica em volta dele é marrom escuro. Este é contornado por outro losango preto, o qual é contornado por um losango marrom. Em volta deste há outro preto, seguido por um marrom claro, outro preto, um bege e, finalmente, os cantos são pretos, só aparecendo como pequenos triângulos neste ponto.

Bandeira gênero-diário

Este termo, que é uma tradução de genderjournal, foi cunhado por Jesper (amerafluid no Tumblr) em 1º de março. É uma identidade de gênero que descreve uma multiplicidade de gêneros guardada como se tais gêneros fossem páginas num diário. Quando parece que um gênero não se aplica mais à pessoa, tal gênero é “arrancado” da mesma forma que uma página seria.

Esta é mais uma forma de descrever multiplicidade de gêneros, assim como álbum de gêneros, polifractal de gêneros e afins. Porém, esta descrição parece dar ênfase na coleção de gêneros e em algo que pode ser ou uma fluidez que não volta atrás (como mutare) ou um processo constante de autodescoberta.

Caso alguém não conheça os termos que acabei de citar, eles podem ser encontrados aqui.


Diomni

Retângulo essencialmente composto por 5 faixas horizontais do mesmo tamanho e uma faixa diagonal preta que vem do terço superior direito ao terço inferior esquerdo da bandeira. À esquerda da faixa diagonal, as cores estão na ordem rosa clara, rosa, roxa escura, azul e azul clara, mas a ordem das cores se inverte à direita da faixa diagonal. A faixa central permanece da mesma cor dos dois lados.

Uma das bandeiras diomni

Diomni, um termo que pode ser usado assim ou reduzido para dioni para quem não gosta de ficar com a letra M extra, descreve uma pessoa o(m)nissexual e o(m)nirromântica que possui preferências de gênero diferentes em sua atração sexual e romântica.

Por exemplo, ainda que sinta atração por todos os gêneros em ambas estas orientações, uma pessoa diomni pode preferir ter relacionamentos românticos com pessoas não-binárias, e se atrair sexualmente mais frequentemente por homens do que por pessoas de outros gêneros.

Pessoas que querem usar um sufixo para esta orientação, mas que não querem priorizar seu aspecto sexual ou romântico, podem usar termos como dioniatraíde ou diomniorientade.

Este termo é creditado a Morgan Finn, Dümpasepäkre na rede de wikis Fandom. Seu artigo na (atualmente deletada) LGBTA Wiki foi originalmente postado no dia 25 de agosto.


Gênero-humano

Retângulo composto por nove faixas horizontais do mesmo tamanho. A ordem das cores é amarela, branca, amarela, branca, verde clara, branca, laranja, branca e laranja.

Bandeira gênero-humano

Uma pessoa anônima cunhou gênero-humano (genderhuman) em envio(s) para o Tumblr neopronouns. A postagem original com sua definição foi feita em 11 de fevereiro.

O termo descreve uma identidade no espectro agênero onde a humanidade de alguém está no vácuo onde o gênero da pessoa estaria, de forma que humane é praticamente o gênero da pessoa. Pessoas gênero-humano também tendem a sentir (mais) euforia de gênero ao serem chamadas de humanas do que quando termos associados a gêneros específicos são usados para se referir a elas.


Enco

Este termo foi cunhado por mim em 11 de março nesta postagem, mas ei, não é como se esses fossem “os melhores termos do ano”, então não tem problema em ser parcial de vez em quando.

Enfim, sua definição base é a seguinte:

Enco-: Uma orientação para pessoas que só sentem atração por pessoas de certa(s) identidade(s) igual(is) à(s) sua(s), por esta(s) ser(em) identidade(s) marginalizada(s) ou subcultura(s) excluída(s) das culturas dominantes. A pessoa pode também sentir atração por pessoas de identidades parecidas ou que são marginalizadas da mesma forma.

Mais especificidades estão detalhadas na postagem linkada ali em cima, mas esta é basicamente uma orientação que cobre todas as que são do tipo “pessoa trans que não sente atração por pessoas cis”, “pessoa autista que só sente atração por outras pessoas autistas”, e por assim vai. Só que enco não só esconde o fator específico, como também pode ser aplicada a quem só sente atração dentro de certo grupo ainda que não seja necessariamente marginalizado (como uma pessoa gótica que só sente atração por outras pessoas góticas).

Eu ainda não vi ninguém se identificando desta forma, mas como já vi várias pessoas cunhando ou pedindo para saber sobre termos que se encaixam na definição de enco, acredito que seja um termo útil.


Juxári, mavári, proxrel(l)

Eu anotei que esses termos foram publicados no dia 28 de março, mas como as postagens originais no Tumblr plurgai (posteriormente plurgai-archive) foram apagadas, talvez não seja possível provar que tais identidades foram realmente cunhadas em tal data.

Imagem retangular com fundo preto e planeta com um anel, três luas e três estrelas. Os elementos sobre o fundo são compostos por faixas horizontais de diferentes tamanhos nas cores turquesa, laranja clara, marrom avermelhada, verde água e laranja. No meio da faixa laranja clara há um triângulo equilátero branco com uma das pontas para cima.

Bandeira juxári

Juxári/Júxari/Juxari (juxari) é uma identidade de gênero que tem conexão com feminilidade, mas em um plano separado. Não é alinhada com feminilidade de uma forma padrão, e é conectada a uma forma de feminilidade que não é sentida por outras pessoas. Não tem conexão com o gênero mulher e é apenas fracamente conectada com feminilidade comum.

Este termo também pode ser usado como um gênero feminino (no sentido de feminilidade, não de ter a ver com o gênero mulher) alienígena ou de outra dimensão.

Imagem retangular com fundo preto e planeta com um anel, três luas e três estrelas. Os elementos sobre o fundo são compostos por faixas horizontais de diferentes tamanhos nas cores amarela, esmeralda, verde escura, amarela clara e verde. No meio da faixa esmeralda há um triângulo equilátero branco com uma das pontas para cima.

Bandeira mavari

Mavári/Mávari/Mavari (mavari) é uma identidade de gênero que tem conexão com neutralidade, mas em um plano separado. Não é alinhada com neutralidade de uma forma padrão, e é conectada a uma forma de neutralidade que não é sentida por outras pessoas. Não tem conexão com não-binaridade e é apenas fracamente conectada com neutralidade comum.

Este termo também pode ser usado como um gênero relacionado com neutralidade alienígena ou de outra dimensão.

(É esta basicamente a definição, porém não sei se a parte de não ter conexão com não-binaridade faz muito sentido. Talvez seja só no sentido de ser uma identidade de gênero que pareça estar em um plano separado, e portanto separada de certa forma de outras pessoas não-binárias, ou talvez tenha sido uma declaração feita às pressas ao tentar achar um sinônimo apropriado para ser homem/ser mulher que funcione para uma identidade fundamentalmente não relacionada com nada que tenha a ver com isso.)

Imagem retangular com fundo preto e planeta com um anel, três luas e três estrelas. Os elementos sobre o fundo são compostos por faixas horizontais de diferentes tamanhos nas cores salmão, laranja pálida, índigo escura, vinho e vinho escura. No meio da faixa laranja pálida há um triângulo equilátero branco com uma das pontas para cima.

Bandeira próxrel

Próxrel/Proxrel/Proxrell (proxrell) é uma identidade de gênero que tem conexão com masculinidade, mas em um plano separado. Não é alinhada com masculinidade de uma forma padrão, e é conectada a uma forma de masculinidade que não é sentida por outras pessoas. Não tem conexão com o gênero homem e é apenas fracamente conectada com masculinidade comum.

Este termo também pode ser usado como um gênero masculino (no sentido de masculinidade, não de ter a ver com o gênero homem) alienígena ou de outra dimensão.

Estes três termos foram baseados conceitualmente em termos como juxera, proxvir, cenrel e fessari, e os nomes juxári e próxrel também vêm daí. O nome de mavári vem de maverique e censári, mas com as exceções de ambas serem identidades não-binárias e de censári ser um gênero neutro, não há muito em comum entre tais identidades.


Inmo

Retângulo composto por seis faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores rosa clara, preta, rosa, cinza, azul e azul escura. As cores são pouco saturadas.

Bandeira inmossexual (que talvez possa ser usada como bandeira inmo geral, já que não há bandeiras para outros tipos de atração)

O termo inmo foi cunhado com esse nome por ele ser omni de trás para frente. A definição também pode ser considerada “inversa” de certa forma: pessoas inmo sentem atração por mais de um gênero, sem sentirem atração por todos os gêneros, sendo que tal atração é igual para todos os gêneros pelos quais a pessoa sente atração. Ou seja, pessoas inmo não possuem qualquer preferência de gênero.

Ou seja, este termo não só é único por ser definido explicitamente como um termo para pessoas múlti que não sentem atração por todos os gêneros – muites acham que gente poli não podem ter atração por todos os gêneros, mas isso não é necessariamente verdade – mas também por explicitar uma ausência de preferência por gênero, algo comum em pessoas pan mas que não é um fator necessário para que pessoas se identifiquem como tal.

A cunhagem de Inmo foi feita em 13 de abril, por Emberfrost-cat na rede de wikis Fandom.


Nonangi

Retângulo composto por sete faixas horizontais, sendo que a primeira e a última são maiores do que as outras. Suas cores são roxa clara, branca, lilás, cinza escura, lilás, branca e roxa clara.

Bandeira nonangi

Nonangi – e eu vou omitir aqui o nome alternativo do termo, que é baseado nas versões originais de nonvir/nonera que a pessoa que cunhou pediu para que não fossem mais usados – foi um termo cunhado por AP do Tumblr Beyond MOGAI Pride Flags, no dia 15 de fevereiro.

Esta junção de non (não) com angi (de andrógine) descreve alguém cujo gênero tem uma forte conexão com androginia, mas que não é andrógine de forma nenhuma. O termo difere de inavire por este precisar de uma conexão com ambas feminilidade e masculinidade, o que pode ocorrer de forma separada, enquanto androginia é uma mistura de ou algo entre essas qualidades (ou mesmo outras qualidades, ocasionalmente).


Obviamente, vários termos são cunhados todo ano. Outros que também foram cunhados em 2021 incluem lovemine, orionemine, sodemine, daleko, solipastelle, eldurgênero, tulipiane, tulim, amato e illusio. E alguns cunhados em 2022 incluem distaregênero, nóstique, osci, aceactial e zódium.

Mesmo assim, espero que quem esteja lendo esta postagem tenha apreciado o destaque destas identidades!

Queerspectivas 4: Experiências de fluidez de gênero  0

Queerspectivas: Experiências de fluidez de gênero

Queerspectivas é uma série de transmissões ao vivo (que depois são gravadas e postadas) feitas com o objetivo de pessoas com certas identidades poderem falar sobre suas próprias experiências sem terem que depender de painéis conduzidos por pessoas que não fazem parte do grupo, ou que são voltados a grupos completamente alheios às questões tratadas na transmissão.

Link para assistir no YouTube

Link para assistir no Nextcloud (ou baixar)
Errr… o Nextcloud tá apontando um tamanho de arquivo diferente do meu computador, então avisem se esta versão der problema, ok?

Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Outros links:

Não temos ninguém para transcrever Queerspectivas no momento, mas entre em contato caso você queira fazer isso ou tenha feito uma legenda ou transcrição!

Também é possível se oferecer para participar ou sugerir assuntos neste tópico.

Queerspectivas 3: Não-binaridade e narrativas trans  0

Queerspectivas é uma série de transmissões ao vivo (que depois são gravadas e postadas) feitas com o objetivo de pessoas com certas identidades poderem falar sobre suas próprias experiências sem terem que depender de painéis conduzidos por pessoas que não fazem parte do grupo, ou que são voltados a grupos completamente alheios às questões tratadas na transmissão.

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Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Outros links:

Não temos ninguém para transcrever Queerspectivas no momento, mas entre em contato caso você queira fazer isso ou tenha feito uma legenda ou transcrição!

Identidades de gênero que poderiam ser mais populares  1

Uma combinação das bandeiras gênero-dissidente, gênero-cor e paragênero.

Existem centenas de termos relacionados a gênero, e por conta de uma série de fatores – como idade, popularidade de quem fez ou espalhou tais termos e originalidade em relação a outros termos existentes – alguns vão ser mais populares e conhecidos do que todos os outros.

Nesta postagem, eu gostaria de destacar termos que vejo que poderiam se encaixar a muitas situações que presenciei, mas que são conhecidos e/ou utilizados por pouquíssimas pessoas.


Uma bandeira composta por cinco faixas horizontais, nas cores vermelha, laranja, amarela, verde e azul. Todas as cores possuem tons relativamente claros. A proporção das faixas é 2:3:8:3:2.

Bandeira centrigênero

Centrigênero se refere a qualquer gênero entre ou no meio de um ou mais gêneros. Isso significa que identidades como andrógine, neutrangi, androx e aporagine podem ser consideradas centrigêneros.

Mas além de poder agir como guarda-chuva, centrigênero dá a liberdade de alguém falar que seu gênero está entre outros sem ter que depender de cunhar uma palavra própria para isso. Alguém pode dizer que é centrigênero maverique/caelgênero, ou centrigênero nímise/femigênero/ceteroneutre/homem, por exemplo.

Também existe gênero-poção, mas o uso de centrigênero ou de gênero-poção vai depender do quanto a pessoa sente que seu gênero é apenas um ponto entre identidades diferentes em um diagrama ou uma mistura/mescla de outras identidades.


Ceterogênero é um gênero não-binário relacionado com masculinidade, neutralidade ou feminilidade. É uma identidade relativamente antiga, mas foi possivelmente ignorada por existirem outras formas de comunicar essas características, como femigênero, mascugênero e neutrois.

O que acho interessante em ceterogênero é que pode ser uma forma de dizer que a pessoa não é mulher, homem ou gênero neutro, ainda que tenha um gênero não-binário associado com características associadas com estes gêneros.

Por exemplo, identidades como mulher não-binárie/zenina e transfeminine podem informar feminilidade, mas também podem informar mulheridade, ou até mesmo uma separação de gêneros binários em sua identidade de gênero mas uma conexão com mulheridade ou feminilidade por conta de outros aspectos, como expressão de gênero, pautas políticas ou aspectos da transição. Pessoa não-binária feminina também pode acabar tendo tal abrangência. Esses são termos muito populares, e que por isso acabam sendo bastante abrangentes. Nonpuella/nonera é um gênero fortemente feminino completamente nada a ver com ser mulher, mas esta não é necessariamente a experiência da pessoa. Fingênero e femigênero informam que a pessoa possui um gênero feminino de forma mais maleável, mas colocam feminilidade como a característica primária da identidade. Por isso, ceterofeminine pode funcionar como uma identidade separada destas, sendo mais específica em alguns pontos e mais abrangente em outras.

Cinco faixas horizontais do mesmo tamanho: Roxa, rosa, cinza, azul e verde.

Bandeira ceterofluida

Além disso, é possível interpretar ceterogênero como uma espécie de identidade próxima/relacionada a femigênero, mascugênero ou gênero neutro, mas sem ser exatamente tais identidades. Juxtaneu existe (sendo que ainda é recente em comparação com ceteroneutre), mas os gêneros juxera e proxvir são mais relacionados com gêneros binários do que com feminilidade ou masculinidade por si só.

Também existe a identidade ceterofluida, que pode ser útil para quem só muda entre gêneros não-binários que podem ser classificados como ceterogêneros. Ceterofluide é um termo mais curto do que gênero-fluido entre femigênero, mascugênero e juxtaneu, por exemplo.


Empilhadore de gêneros ou hordidem é uma identidade poligênero caracterizada por alguém ir achando identidades de gênero que se encaixam e as colocando em uma “pilha”, de forma que a pessoa tem todas aquelas identidades de uma vez só (e possivelmente mais outras que não foram cunhadas ainda, que a pessoa não achou ou que nem sabe como descrever ainda).

Esta identidade é bem mais recente do que colecionadore de gêneros, um termo cunhado lá por 2015 e que é citado ou usado por bastante gente, onde a única diferença é a questão de colecionadore de gêneros ser apenas para pessoas cuja identidade de gênero muda de tempos em tempos.

Acredito que hordidem seja um termo útil por eu já ter visto muitas pessoas com dezenas de gêneros (e gêneros parciais, identidades que denotam ausência de gênero, etc.) que não se veem como pangênero por também não serem de vários gêneros e nem como colecionadoras de gênero por suas identidades não mudarem de tempos em tempos. Muitas vezes, são até pessoas que frequentemente vão atrás de termos novos para adicionar às suas pilhas, e/ou que cunharam várias identidades para poderem descrever mais aspectos da sua.


Seis faixas horizontais do mesmo tamanho, começando com três tons de rosa e seguidas por três tons de azul. As faixas vão formando um degradê, de forma que as faixas centrais são mais claras e as faixas das pontas são mais escuras.

Bandeira femacha

Femache é alguém que é homem e mulher ao mesmo tempo. Não há especificação em relação a se este é um gênero como ambonec (que pode ser visto como um gênero ou como mais de um), ou se é referente especificamente a ter os gêneros homem e mulher (como alguém bigênero desses gêneros ou poligênero que inclui esses gêneros) ou a ser algo como gênero-poção ou andrógine/centrigênero de tais gêneros.

As únicas especificações são que ume femache não é especificamente 50% homem e 50% mulher, e que femaches não precisam só ser femaches (podem ter outros gêneros também).

Esta identidade me parece útil porque são várias as pessoas bigênero homem/mulher ou com outras experiências “mulher + homem” que podem não necessariamente se encaixar em andrógine ou ambonec. Além de ser uma identidade abrangente em relação a como alguém é mulher e homem, também é mais específica do que bigênero para quem tem estes dois gêneros, já que pessoas bigênero podem ter dois gêneros quaisquer.


Gênero-cinza é alguém que é parcialmente de um gênero não-binário ou sem gênero, mas que possui uma ambivalência natural em relação ao seu gênero e/ou à sua expressão de gênero. Pessoas gênero-cinza sentem possuir gênero, e inclinação ou desejo de expressá-lo, mas tal inclinação é fraca ou indefinível/indeterminada de certa forma, ou não é sentida pela maior parte do tempo, ou a pessoa gênero-cinza não se importa muito com sua inclinação.

Embora pareça ser algo meio específico ou complexo, o termo gênero-cinza foi feito para cobrir pessoas que não são totalmente agênero/sem gênero mas que ainda se encontram num espectro similar, da mesma forma que o termo gris/gray-a foi feito para abarcar pessoas a-espectrais que sentem alguma atração.

É relativamente comum ter pessoas com um gênero fraco, ou que se consideram basicamente sem gênero mas que possuem alguma conexão com gênero. A conexão parcial com ausência de gênero e não-binaridade está na definição para que não se confunda alguém gênero-cinza com alguém cis que não liga pra gênero (uma acusação que acredito que seja mais direcionada a pessoas casgênero hoje em dia), mas acredito que a definição possa ser resumida a ser alguém com um gênero fraco ou com uma experiência similar.

Desta forma, pessoas demigênero ou nanogênero que possuem um gênero parcial por ele ser fraco (e não por serem menores/parciais em relação a outros gêneros) ou pessoas gênero-Libra que sentem que sua conexão com algum gênero está mais para uma versão fraca de um gênero podem se dizer gênero-cinza, caso queiram.


Gênero-cor é algo que acaba sendo estigmatizado apenas por ser um xenogênero, mas é um termo bastante útil. Um gênero-cor é definido por remeter a uma cor ou a coisas que a pessoa relaciona com alguma cor.

Um fundo índigo com uma roda de cores em seu centro. A cor índigo cria um espaço na roda de cores.

Bandeira gênero-índigo

A questão é que isso pode ser usado para qualquer coisa. Pode ser usado como uma associação xenina, como algo sinestésico, como algo relacionado com outras identidades de gênero existentes, etc. Por exemplo, o termo gênero-índigo pode ser usado para descrever:

  • Um gênero definido por um tipo de masculinidade relativamente formal e adulta;
  • Um gênero similar a homem, mas que contém ao menos parcialmente algum elemento de androginia nele;
  • Um gênero que remete a frutas que são doces mas que não são necessariamente muito doces, como mirtilos, uvas, ameixas e amoras;
  • Um gênero definido por libertação e criatividade em relação às concepções tradicionais de gênero;
  • Um gênero não-binário fraco que remete a um céu vazio;
  • Um gênero que remete ao frio de uma noite de inverno pelo quanto é forte e difícil de ignorar.

Isso tudo vai depender de associações pessoais com a cor, mas também de como uma pessoa pode usar uma cor para descrever uma identidade de gênero. Ainda assim, acho que deu pra perceber como a identidade é versátil!


Gênero-dissidente ou gênero-inconformista é um gênero propositalmente similar a maverique, mas que também é definido por subversão intencional das expectativas de gênero da sociedade. Sua definição completa (ainda que resumida) é:

Uma experiência de gênero não tradicional (e não-binária) caracterizada pelo senso de desconexão e independência em relação a gêneros binários, e também pela intenção de subverter as expectativas de gênero da sociedade.

O motivo que vejo esta identidade como uma que poderia ser mais popular é que maverique é um gênero popular, e muitas pessoas não-binárias falam que querem intencionalmente confundir pessoas quanto ao seu gênero ou quebrar barreiras sobre o que é gênero ou coisas assim. Caso isso faça parte de sua experiência de gênero, gênero-dissidente expressa essas duas coisas em uma identidade só.


Gênero-estrela é outra identidade que pessoas rolam os olhos só de ver o nome, por conta do estigma contra xenogêneros, especialmente gêneros com adjetivos ou substantivos no nome. Enfim, gênero-estrela pode se referir a uma destas descrições:

  • O gênero de uma estrela;
  • Um gênero que não parece ser humano ou terrestre, por estar além da compreensão;
  • Uma identidade para quem acha que, não importa quantos rótulos para gênero inventarem, nenhum deles vai encaixar.
Um fundo azul escuro com uma estrela branca em seu canto inferior direito de onde saem três faixas curvas nas cores branca, azul clara e azul em direção à esquerda. No resto da bandeira, alguns brilhos brancos podem ser vistos.

Bandeira gênero-estrela

É comum ver essa primeira definição e pensar “ah não, que ridículo, a pessoa pensa que é ou quer ser literalmente uma bola de gás” sem ver qual a lógica ou o contexto desta definição. (Aliás, existem indivíduos que são kin com estrelas, mas isso não é o que gênero-estrela descreve. Ser de um gênero comparável a algo não significa ser kin com aquela coisa, embora pessoas possam ser os dois.)

A questão é que esta identidade foi cunhada quando havia pouquíssimo vocabulário para descrever gêneros fora da tríade homem/mulher/neutre, e mesmo vocabulário já existente como aporagênero e maverique era possivelmente pouco circulado. Assim, a pessoa que cunhou gênero-estrela estava tentando descrever um gênero distante dos binários a ponto de ser “alienígena”, e que era possivelmente grande e complexo.

Mesmo assim, as divagações de quem cunhou o termo e as definições que foram espalhadas por aí abrem portas para que gênero-estrela possa ser uma identidade que esteja descrevendo:

  • Alguém cujo gênero é difícil de entender por estar além de gêneros mais conhecidos;
  • Alguém cujo gênero é relacionado com o espaço;
  • Alguém cujo gênero parece ser extraterrestre;
  • Alguém que vê seu gênero como o gênero de uma estrela;
  • Alguém cujo gênero é potencialmente neutro, mas que também inclui ao menos feminilidade e masculinidade, ao mesmo tempo;
  • Alguém cujo gênero é grande de forma que parece um pequeno universo;
  • Alguém cujo gênero não se encaixa em nenhum termo mais específico.

Isso tudo geralmente é compactado como “um gênero relacionado a espaço que é distante de gêneros binários e que é possivelmente além da compreensão humana”, mas todas estas definições podem ser motivos válidos para se dizer gênero-estrela. Aliás, não é à toa que esta deve ser uma das identidades mais populares que pode ser considerada um xenogênero.


Paragênero é uma identidade de gênero para pessoas que se sentem próximas a certo gênero, sem serem exatamente de tal gênero. Gênero- (ou gênero-menos) é alguém cuja identidade pode ser descrita como algo próximo de certo termo, mas que não se encaixa completamente nele. Um termo ou outro pode ser escolhido por preferência pessoal ou pelas particularidades da identidade de gênero de alguém, mas estes são ambos termos para identidades próximas mas que divergem de certa identidade.

Acredito que tal proximidade possa ser interpretada de várias maneiras; alguém que é para-homem ou homem- poderia ter um gênero como proxvir, mas talvez esteja mais para magi-homem, quiver-homem, melle, hxmem, androx ou neuvir, por exemplo.

Desta forma, estes termos são úteis para quem acha algum termo que quase se aplica a si, sem se ver completamente como tal termo. Tem um gênero não-binário feminino, mas que não é exatamente só feminino? Dá pra dizer que é parafemigênero ou parafeminine (ou paraceterofeminine, parafingênero, etc). Tem um gênero meio ambíguo ou indefinido, mas que ao mesmo tempo não parece ser completamente bem descrito por isso? Dá pra dizer que é nímise-. Tem uma experiência de gênero que parece alienígena, grande e complexa, mas não quer usar o termo gênero-estrela por parecer descrever bem mais do que isso? Dá pra se dizer estrela-menos.

Muitas pessoas usam o termo demigênero para isso, por ser mais conhecido, mas quem quer evitar a conotação de seu gênero ser parcialmente algo ao invés de ser completamente algo, só que algo diferente/adjacente pode usar paragênero e/ou gênero-.


4 faixas horizontais na proporção 22:13:11:10. Suas cores são amarela clara, laranja, vermelha e marrom avermelhada.

Bandeira vanabrela; fogo/calor

O sistema vanabrela (ou vanabrella, vanarela ou vanarella) foi cunhado como uma forma de falar sobre algum xenogênero que é de alguma forma relacionado a algo, de forma abrangente ou específica.

Isso significa que, se uma pessoa só quer descrever que seu gênero é relacionado ou comparável a algo como, por exemplo, fogo, chuva, arrepios, pétalas caindo ou o que for, sem especificar além disso, a pessoa só precisa dizer que seu gênero é vanarela (fogo), vanabrella; chuva, vanarella – arrepios, vanabrela [pétalas caindo], etc.

Embora ainda termos mais específicos ainda sejam úteis em vários casos, o sistema vanabrela ajuda quem só quer descrever seu gênero como alguma palavra ou expressão curta. Assim, qualquer pessoa que saiba o que é vanabrela vai entender do que o gênero se trata, quando teria que pesquisar ou perguntar caso um termo mais específico fosse usado.

Uma pessoa que usa esse sistema pode ser chamada de vanabrélica.


Espero que esta lista tenha ajudado mais pessoas a considerarem usar ou espalhar informações sobre estas identidades de gênero. Todos estes termos estão em nossa lista de identidades não-binárias, embora vários destes não tenham páginas específicas.

Fontes:

Como expressar linguagem em eventos físicos LGBTQIAPN+  0

Buttons contendo diversos conjuntos de linguagem por cima de uma série de folhas de adesivos que também contém diversos conjuntos de linguagem.

(Nota: Caso você esteja procurando por um texto mais básico que explique o que são conjuntos de linguagem pessoal, sugiro este texto se você quiser algo mais resumido, e este texto se você quiser algo mais completo.)

Eventos físicos são boas oportunidades de oferecer espaços de expressão que muitas vezes não existem na escola, no trabalho, na família ou em outros ambientes. Esses espaços podem ser úteis para trocar experiências, ajudar no processo de questionamento das próprias identidades, normalizar a existência de pessoas LGBTQIAPN+, trocar contatos, fazer amizades, etc.

Uma questão importante quando se tem interação direta entre pessoas é a da linguagem. Na maior parte dos ambientes, ao menos no período no qual este texto está sendo publicado, nenhum tipo de neutralização da linguagem sequer é considerada, e pessoas se referem entre si presumindo que alguém é “feminine” e portanto “deveria aceitar” a/ela/a, ou que alguém é “masculine” e portanto “deveria aceitar” o/ele/o.

Isso acaba por maldenominar (errar a linguagem e/ou o gênero de) muitas pessoas. Às vezes é só a pessoa corrigir que as outras respeitam, mas muitas vezes nem isso é respeitado. Por isso, em alguns lugares se tornou prática se apresentar já falando a própria linguagem, ou usar algum adesivo ou crachá com a própria linguagem. E isso vale para todes, não só pra quem não usa a linguagem que seria presumida no dia-a-dia, justamente para normalizar a ideia de que linguagem não deve ser presumida.

Mas então, como isso funciona? Como podemos incluir a linguagem como uma informação importante, excluíndo o menor número de pessoas possível?

 

1) Métodos visuais constantes (crachás, adesivos, camisetas, buttons, etc.)

Essas ideias funcionam de forma similar, afinal são rótulos de identificação que a pessoa pode usar no evento e depois guardar, devolver ou jogar fora.

Questões que precisam ser pensadas ao usar esses métodos são:

  • Os materiais necessários (papel, adesivo, caneta, etc.) precisam ser distribuídos na entrada, já que as pessoas podem não lembrar ou ficar com preguiça de trazer os próprios; especialmente quem acha que “é bobagem”.
  • A linguagem precisa estar disposta de forma que todes possam utilizá-la. Por exemplo, colocar opções pré-prontas como “masculina”/”feminina”/”neutra”/”outras” prioriza pessoas masculinas que usam o/ele/o e pessoas femininas que usam a/ela/a, enquanto pessoas neutras que usam o/ele/o, pessoas femininas que usam a/ila/e e pessoas que querem especificar sua linguagem além de “neutra” ou “outras”, entre outros casos, não são corretamente contempladas dentro dessas opções. Colocar um campo para gênero ao invés de linguagem também não ajuda a identificar a linguagem de pessoas não-binárias e/ou que não usam os conjuntos normalmente associados a suas identidades de gênero.
  • Pessoas precisam ser ensinadas a ler e usar sistemas de conjuntos que não sejam excludentes de pessoas que não usam “conjuntos óbvios”. Alguém que pensa que é só colocar sua linguagem como “ele/dele” ou como “feminina” pode não saber o que fazer quando ver alguém com “ze/elz/e” ou “o/ele/e”, e isso é um problema. Um panfleto informativo ou um exemplo junto ao preenchimento podem ajudar.
  • Como as pessoas no evento serão lembradas de que devem sempre checar a linguagem escrita, ao invés de presumirem? É um problema grande e comum existirem eventos aonde alguém pode preencher “-/elu/e” ou “ELD” em algum campo de conjunto ou pronome, sem ninguém perceber que esses termos são os que devem ser utilizados. Lembretes e repreensões podem ser bem-vindes.
  • Como serão tratadas as pessoas que não sinalizarem nada? Algumas pessoas podem não ter entendido o sistema, estarem se questionando e/ou estarem no armário. Se a pessoa colocou -/-/-, ok, nada deve ser utilizado, mas se a pessoa realmente não preencheu ou não está usando nada? O ideal seria evitar usar qualquer tipo de linguagem diferenciada, mas acho sempre bom preparar um conjunto neutro e avisar sobre ele. Por exemplo, um cartaz no local dizendo: Pessoas que não sinalizarem nenhum conjunto de linguagem serão tratadas por ê/elu/e.
  • Como será o apoio a quem usa mais de um conjunto? Pessoas que mudam de linguagem de tempos em tempos poderão ter mais de um crachá/adesivo? Se o registro for eletrônico, há como alguém mudar facilmente o conjunto que usa? Há espaço para colocar mais de um conjunto?
  • É necessário pensar nas pessoas que não vão conseguir ler ou enxergar as linguagens das outras pessoas; é recomendável que métodos orais também sejam utilizados em conjuntos com os visuais.

 

Prós de usar adesivos, pulseiras ou crachás:

  • Geralmente são feitos de forma barata e descartável, permitindo que pessoas mudem facilmente seus conjuntos e não precisem perder muito tempo escondendo o sinal de que não usam a linguagem esperada ao mudar de ambiente;
  • Geralmente possibilitam que as pessoas possam usar os conjuntos que quiserem, pois todo mundo tem que escrever os seus;
  • Ao serem preenchidos na hora do evento ou da inscrição, há como ensinar pessoas a usar conjuntos de linguagem mais completos e inclusivos;
  • Adesivos e crachás podem ser relativamente fáceis de ler em um evento de tamanho pequeno ou médio.

 

Contras de usar adesivos, crachás ou pulseiras:

  • Alguma forma de ensinar a escrever e interpretar conjuntos precisa ser providenciada;
  • O tamanho pode acabar sendo limitado e dificultando que pessoas leiam os conjuntos umas das outras, ou que alguém possa usar quantos conjuntos quiser;
  • Pode ficar muito óbvio que pessoas que podem querer esconder que não sabem que conjunto usar não estão usando o item;
  • Pulseiras podem ser difíceis de ler, por conta de sua posição.

 

Prós de usar buttons ou broches:

  • As pessoas podem utilizá-los em múltiplos eventos, por serem resistentes;
  • Caso a ideia seja fazer antes um item personalizado por pessoa, é possível incluir qualquer conjunto, desde que seja combinado com antecedência;
  • Ainda que não seja o método mais barato, pode ser uma opção viável para eventos menores;
  • Por ser algo que possa ser “bonitinho” ou “legal”, pode ser mais fácil convencer algumas pessoas a usar estes do que a usar crachás ou adesivos.

 

Contras de usar buttons ou broches:

  • Estes itens tendem a ser menores, e portanto mais difíceis de ler, do que crachás, adesivos ou camisetas; Como precisam ser feitos com antecedência, existe a possibilidade de algumas pessoas mudarem de ideia sobre seus conjuntos, caso os itens sejam personalizados;
  • Caso os buttons ou broches não sejam personalizados para cada pessoa, há a possibilidade de sobrarem ou faltarem buttons de certos conjuntos;
  • Pessoas que precisam de mais de um conjunto com certeza vão precisar de buttons/broches extras;
  • Algumas pessoas não usariam estes itens em lugares facilmente visíveis, por não quererem furar suas roupas ou seus acessórios.

 

Prós de usar camisetas:

  • É possível ter bastante espaço para deixar os conjuntos bem visíveis;
  • Caso sejam feitas com antecedência, é possível incluir quaisquer conjuntos;
  • Não há como alguém ter a desculpa de não querer estragar a roupa;
  • Dependendo da situação, pode ser possível usar as mesmas camisetas para múltiplos eventos.

 

Contras de usar camisetas:

  • É o método mais caro entre os citados, e eu só recomendaria para grupos pequenos com encontros frequentes;
  • Assim como buttons e broches, como camisetas precisam ser feitas com antecedência, ou há o risco de pessoas mudarem de ideia entre a confecção das camisetas e o evento, ou há o risco de faltarem e/ou sobrarem camisetas por não checarem quantas pessoas querem quais conjuntos;
  • Algum vestiário precisará ser providenciado, e muitas pessoas cisdissidentes não se sentem seguras em vestiários ou banheiros divididos entre gêneros binários;
  • É difícil de não notar alguém sem a camiseta, o que pode causar problemas para quem não quer declarar seu(s) conjunto(s).

 

2) Métodos ditos (apresentações, correções, perguntas na hora, etc.)

São métodos que não precisam de materiais prévios, e que só dependem de uma pessoa dizer para outras qual é a sua linguagem (ou qual é a linguagem de outra pessoa).

Apresentação seria quando alguém diz seu nome e outras informações relevantes para o evento, que neste caso incluiria um ou mais conjuntos de linguagem. Dependendo do evento, uma outra pessoa pode anunciar o nome e o conjunto de linguagem de cada pessoa. Correção seria esperar alguém maldenominar para corrigir com o conjunto certo. Perguntar na hora seria esperar até o momento de se referir a alguém para perguntar a palavra certa a ser utilizada.

Questões a serem pensadas em relação a isso:

  • É necessário incentivar pessoas a não presumirem linguagens alheias mesmo sem lembretes visuais de que nem todo mundo tem uma linguagem “óbvia”;
  • Ainda é bom ter uma explicação sobre artigo/pronome/final de palavra ou algum sistema inclusivo, para que pessoas não tenham que passar por invalidação ou vergonha;
  • Caso algum dos métodos específicos seja recomendado, isso precisa ficar bem explícito para todes es participantes do evento;
  • Para que pessoas com conjuntos de linguagem fora da norma se sintam confortáveis em dizer/afirmar seus conjuntos, é preciso haver pistas de que o ambiente é seguro para isso. Isso pode ser feito de várias formas, mas explicações sobre conjuntos de linguagem e presença forte de pessoas com conjuntos fora do padrão pode ajudar;
  • A pronúncia de palavras dentro da neolinguagem pode confundir algumas pessoas. Existe alguma forma de garantir que os conjuntos sejam entendidos por todo mundo, sem constranger pessoas para que soletrem seus conjuntos ou expliquem funções gramaticais?
  • Como não deixar pessoas “de linguagem óbvia” em sua zona de conforto, tirando sarro da ideia de que linguagem não é sempre óbvia, se recusando a dizer a própria linguagem e maldenominando outras pessoas, sem forçar pessoas a falar seus conjuntos caso realmente não queiram escolher ou culpar pessoas por não conseguirem lembrar dos conjuntos de todo mundo na sala?

 

Prós de uma apresentação que inclui conjunto(s) de linguagem:

  • Cada pessoa pode incluir que elementos quiser de seu conjunto de linguagem, e quantos conjuntos quiser, geralmente sem limites de espaço;
  • Pode ser mais fácil alguém que não quer revelar seu(s) conjunto(s) deixar de revelá-lo(s);
  • Ao pronunciar palavras, pessoas podem entender melhor como falar de quem usa neolinguagem sem terem que chutar se baseando em materiais que são somente visuais.

 

Contras de uma apresentação que inclui conjunto(s) de linguagem:

  • Não há como esperar que todas as pessoas lembrem dos conjuntos de todo mundo, especialmente se houverem várias pessoas que se apresentaram;
  • A inclusão do conjunto na apresentação pode pressionar alguém a escolher entre falar seu conjunto corretamente (e talvez explicá-lo) naquela hora ou arriscar ser maldenominade;
  • Por ser um formato mais livre, pessoas podem descrever seus conjuntos de formas pouco inclusivas ou complexas demais;
  • Pessoas podem esquecer ou omitir seus conjuntos com mais facilidade, o que pode desencorajar algumas pessoas de falarem de seus conjuntos, e/ou prejudicar pessoas que queriam ser chamadas por seus conjuntos.

 

Prós de corrigir pessoas quando ocorre maldenominação:

  • É mais fácil de alguém lembrar da linguagem certa para se referir a alguém quando há um lembrete na mesma hora sobre ela;
  • A maioria das pessoas não vai precisar falar seus conjuntos, já que eles só vão ser relevantes se alguma pessoa falar sobre outra, o que ajuda pessoas que não querem dizer seus conjuntos.

 

Contras de corrigir pessoas quando ocorre maldenominação:

  • Esperar ocorrer maldenominação para corrigir coloca esta responsabilidade somente na pessoa que está sendo maldenominada, o que vai afetar desproporcionalmente pessoas cuja linguagem não é presumida corretamente no dia-a-dia;
  • Enquanto é possível não usar linguagem específica para ninguém para não ocorrerem maldenominações, a maioria das pessoas não pensa em fazer isso, o que pode causar constrangimento para certas pessoas, que vão ter que ser corrigidas o tempo todo;
  • Algumas pessoas podem não se sentir à vontade de interromper a fala de alguém para corrigir, e algumas falas podem ser inadequadas de parar para corrigir, o que faz com que algumas maldenominações possam ficar sem ser corrigidas.

 

Prós de perguntar conjuntos para pessoas na hora de falar com elas/sobre elas:

  • A maioria das pessoas não é pressionada a falar de seus conjuntos;
  • Não há a necessidade de lembrar das apresentações de várias pessoas, apenas de lembrar de perguntar conjuntos na hora de falar sobre elas;
  • Não há nem a necessidade de presumir conjuntos, nem a necessidade de se forçar a não usar nenhuma linguagem específica.

 

Contras de perguntar conjuntos para pessoas na hora de falar com elas/sobre elas:

  • Caso a pessoa em questão vá embora, não vai mais ter como saber a linguagem da pessoa;
  • Pessoas que não querem revelar seus conjuntos podem ser mais intimidadas por esse jeito de lidar com a situação do que pelos outros;
  • Alguém pode ter que parar no meio de uma frase para perguntar a linguagem alheia, quebrando o ritmo de uma fala.

 

Mas e então, o que seria melhor?

O motivo desta postagem oferecer várias opções e seus prós e contras é que não existe uma solução perfeita, ao menos não enquanto existe a prática de presumir conjuntos de linguagem de outras pessoas.

Ao escolher que métodos serão utilizados, o tipo de evento deverá ser considerado: é um piquenique entre um grupo fechado aonde a maioria se conhece? É uma roda de conversa pública aonde poderão haver dezenas de pessoas que desconhecem o assunto? É um evento de premiação aonde não haverá muita interação entre quem está falando e a plateia? É um evento dividido entre várias atividades diferentes acontecendo ao mesmo tempo, sendo que haverá um mesmo período de confraternização para todes? É um evento aonde quase as mesmas pessoas se encontram toda semana ou todo mês, ou é provável que a maioria não se conheça?

Além do formato do evento, também pode ser importante considerar outros fatores: o quanto é esperado que quem vá para o evento saiba sobre o quanto é errado maldenominar pessoas? O quanto é esperado que vão saber lidar com o modelo de conjunto de linguagem escolhido? Ao levar em consideração com que roupas as pessoas vão para o evento, o quanto é provável que rejeitem adesivos, camisetas ou broches?

Eu diria que o fator mais importante nisso é que as organizações de eventos levem essa questão de conjuntos de linguagem a sério, a ponto de oferecer para todes es participantes explicações efetivas sobre conjuntos e sobre não presumi-los. Para que maldenominações, piadas com neolinguagem e descaso com explicações acerca de linguagem pessoal parem de ser norma, as organizações dos eventos precisam pensar em como vão lidar com estes problemas, e não só esperar que o oferecimento de crachás, adesivos ou possibilidade de falar dos próprios conjuntos enquanto cada pessoa se apresenta vá magicamente fazer com que pessoas com conjuntos de linguagem “inesperados” sejam respeitadas e contempladas.

Mais mitos e verdades sobre pessoas não-binárias  2

Mitos e verdades é uma série de postagens que vão direto ao ponto sobre opiniões preconceituosas ou errôneas de alguma outra forma.

A presente postagem não cobre assuntos cobertos por esta outra postagem.

Mito: Qualquer conjunto que não é o/ele/o ou a/ela/a é neutro.
Verdade: Linguagem dita neutra é a utilizada para se referir a grupos de pessoas que usam diferentes linguagens, ou a pessoas às quais você não sabe como se referir. Existem conjuntos que raramente são utilizados como neutros (como i/íli/i ou u/ilu/u), e, em nossa sociedade, é possível assumir que o/ele/o é geralmente utilizado como conjunto neutro.
Caso alguma pessoa disser que “usa linguagem neutra”, recomendo perguntar qual a linguagem que utiliza como neutra, afinal neolinguagem oferece opções infinitas que alguém poderia teoricamente considerar neutra.

Mito: Todas as possibilidades de gêneros envolvem masculinidade, neutralidade, feminilidade ou relação a estes conceitos de alguma forma.
Verdade: Limitar as possibilidades de gêneros é sempre prejudicial a alguma categoria de pessoas. Existem diversas experiências de gêneros diferentes que utilizam outros conceitos para serem descritos, existem diferentes gêneros que rejeitam estes conceitos de diferentes formas. Alguns exemplos são maverique, egogênero e caelgênero.
Além disso, é possível ser mulher, ser homem, ou ter algum gênero relacionado a estes sem ter alguma ligação particular com masculinidade, neutralidade ou feminilidade.

Mito: Não existem orientações para pessoas não-binárias atraídas apenas por algum gênero binário.
Verdade: Existem diversas orientações feitas com esse propósito em mente, como home- e mulhe- e diversos prefixos que foram feitos para substituir tanto estes quanto andro- e gine- (prefixos que algumas vezes são utilizados como “atração por pênis” e “atração por vagina” e que por isso são evitados por muita gente). Viramórique ou vir- para atração por homens e feminamórique ou femina- para atração por mulheres são os termos mais populares atualmente, mas isso pode mudar, afinal criam termos novos para isso frequentemente.
Pessoas não-binárias que se sentem confortáveis com isso e que acreditam que estes termos se aplicam à sua experiência também podem utilizar gay, lésbica ou similares.

Mito: Pessoas não são atraídas por pessoas não-binárias, e sim por qual gênero cada pessoa parece ser.
Verdade: Atração por gêneros é por gênero. É possível mentir para si mesme para ver uma pessoa como outro gênero ainda que a pessoa não seja de tal gênero, ou mentir para outras pessoas para que vejam certa pessoa como outro gênero, mas pela consciência e conhecimento sobre o gênero alheio, a atração vai naturalmente começar a ocorrer, deixar de ocorrer, mudar de intensidade, etc., dependendo das orientações e dos gêneros envolvidos.

Mito: Pessoas que se identificam como bi/poli/multi que não sentem atração pelo próprio gênero estão fetichizando gêneros não-binários e tentando esconder que só aceitam sentir atração por um tipo de corpo.
Verdade: Pessoas que deixam de se identificar como hétero por reconhecerem que alguém por quem possuem atração possui um gênero diferente do qual imaginaram estão respeitando mais a existência de gêneros não-binários do que quem quer manter a “pureza” da comunidade LGBTQIAPN+ com a ideia de que só atração pelo mesmo gênero pode ser considerada não-hétero.
Pessoas multi sem atração pelo próprio gênero possivelmente aceitam mais a ideia de que corpo não determina gênero do que pessoas que suspeitam que alguém que (aparentemente) só sente atração por pessoas com certo tipo de corpo seja secretamente hétero.

Mito: Pessoas não-binárias não possuem demandas próprias, diferentes das de pessoas trans binárias.
Verdade: Exorsexismo existe. Pessoas não-binárias precisam de ao menos uma opção de neolinguagem sendo reconhecida oficialmente, precisam da aceitação da sociedade em relação à diversidade de identidades de gênero existentes, precisam de banheiros e espaços que não obriguem a escolher uma opção binária de gênero, precisam de acesso a procedimentos de transição que não assuma ou force pessoas a se identificarem com algum gênero binário. Precisam de que haja acesso à informação sobre pessoas não-binárias para a população geral, precisam poder ter suas identidades respeitadas em consultas, aulas e profissões. Precisam que a sociedade respeite que linguagem, nomes e maneiras de se vestir não devem ser sempre consideradas masculinas ou femininas, e nem prova de que alguém está mentindo sobre seu gênero. Um mundo ideal para pessoas não-binárias precisa de muito mais reestruturação social do que um mundo ideal apenas para pessoas trans binárias.

Mito: Neurogêneros (identidades exclusivas para pessoas neurodivergentes) dificultam o processo de recuperação de pessoas neurodivergentes.
Verdade: Nem toda neurodivergência é “curável”. De qualquer forma, pessoas neurodivergentes merecem palavras para descrever suas experiências, ainda que elas mudem no futuro por conta de certos sintomas amenizarem ou desaparecerem. Ninguém precisa ficar prese a rótulos que não são mais úteis.

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Libertação x Cissexismo  0

Existem dois extremos em relação a como tratar gêneros.

Um deles é o cissexista: só existem dois gêneros, determinados por dois sexos, que supostamente causam também certas escolhas em comportamento e apresentação. Cada um desses gêneros possui uma linguagem associada a tal (o/ele/o para homens e a/ela/a para mulheres).

O outro é supostamente libertador e vanguardista: a ideia de que gênero não existe e não deveria ser levado em consideração, de que pessoas deveriam utilizar qualquer pronome e roupa porque nada dita o gênero de alguém. De que deveríamos ser uma sociedade pós-gênero.

Enquanto esta segunda opção é tentadora para várias pessoas não-binárias, ela também é desrespeitosa com várias pessoas não-cis, e ignora a realidade em que vivemos. Ela também reproduz partes do cissexismo, dependendo de como é tratada.

Bandeira genderqueer

A comunidade genderqueer é formada tanto por pessoas que querem quebrar as normas e o conceito de gênero quanto por pessoas que querem ter sua identidade respeitada, seja qual for.

Caso você queira se identificar como alguém que vai além de gênero – seja como pomogênero, pangênero, sem gênero ou sem rótulos – você pode fazer isso pessoalmente. Caso você queira aceitar qualquer tipo de linguagem e usar qualquer tipo de roupa, você também pode fazer isso.

Porém, você não pode forçar pessoas a agir desta forma, ou fazê-las se sentirem culpadas por perpetuarem estereótipos de gênero, quando estas pessoas também são vítimas do cissexismo.

Uma pessoa gênero-estrela que enfrenta forte disforia social e não aguenta mais escolher entre ser chamada de “ela” ou “ele” não deveria ter que se sentir culpada por buscar um visual ambíguo e insistir em linguagem alternativa.

Uma mulher trans que tem medo de andar na rua e sofrer violência por parecer “homem vestido de mulher” não deveria ser culpada por “perpetuar estereótipos femininos” como se depilar e usar maquiagem e roupas vistas pela sociedade como femininas, para parecer menos com o que a sociedade enxerga como homem e se sentir mais segura.

Uma pessoa transmasculina que tem sua identidade constantemente invalidada por sua família e escola tem o direito de se sentir braba com pessoas que acham que essa pessoa deveria aceitar usar qualquer pronome e qualquer roupa, já que tecnicamente essas coisas não possuem gênero.

Uma pessoa dois-espíritos não deveria ter que encontrar pessoas dizendo que gênero e rótulos relacionados a gênero não importam e deveriam sumir.

Não, você não pode olhar para uma pessoa e decidir sua linguagem, seu gênero, e se essa pessoa é trans ou cis ou não. Mas só agir como se gênero e linguagem não tivesse significado nenhum – especialmente quando isso é direcionado a pessoas não-cis – só isola pessoas que possuem a coragem de explorar e de se identificar com gêneros que a sociedade cissexista e exorsexista diz que não podem. E tem pouco efeito em uma população cis que pode justificar seu gênero de acordo com uma lógica cissexista, sexista e diadista.