Um espaço de aprendizagem

Os resultados da Feira da Diversidade 2024  1

Um céu majoritariamente nublado sob o qual estão três tendas (há mais no fundo), com algumas pessoas: na da esquerda, há uma bandeira intersexo pendurada e um banner escrito "Orgulhe-se do Museu da Diversidade Sexual", além de um tapete e de algumas cadeiras e pranchões. Na do meio, há dois pranchões, sendo que o da esquerda tem uma toalha de mesa e uma bandeira arco-íris. Acima deste, há uma bandeira da Câmara de Comércio e Turismo LGBT, e no fundo há uma bandeira do Brasil e uma bandeira arco-íris, com outra bandeira arco-íris estando pendurada na frente. À direita disso, ainda na tenda central, na direção que uma seta roxa adicionada no Paint está apontando, há um banner do Orientando e nosso pranchão, cheio de panfletos, com dois displays A4 e com duas caixas com canetinhas disponíveis. Na tenda da direita, há uma mesa cheia de coisas, e alguém está prestes a pendurar um banner, o qual não está virado para a câmera.

Para quem não sabia, Orientando.org foi escolhido como um dos coletivos chamados para compor a Feira Cultural da Diversidade LGBT+, no Memorial da América Latina em São Paulo. Por termos entrado como coletivo, não pudemos comercializar qualquer produto: tudo o que oferecemos foram informações, panfletos informativos e adesivos de conjuntos de linguagem.

Infelizmente, nossa posição estava entre as mais desprivilegiadas. Colocaram um palco à nossa frente, o qual teve música altíssima pela maior parte do evento; também estávamos próximes à entrada restrita a idoses e pessoas com deficiência, mas estávamos nas últimas tendas do ponto de vista da entrada pela qual a grande maioria iria chegar.

É muito difícil dizer quantas pessoas que pegaram nossos panfletos foram atrás de mais informações no site. Não houveram novos registros no nosso fórum desde antes da feira, e houve um pico de atividade no site que começou na segunda (dia 27), enquanto o dia após a feira (sexta, dia 31) foi onde houveram menos visitas nos últimos dias. Além disso, como estamos no mês do orgulho, também é comum que pessoas achem o Orientando enquanto estão tentando pesquisar assuntos do site por conta própria, como o que significa a sigla LGBTQIAPN+ (nossa página mais acessada desde que a sigla popularizou) ou quais identidades não-binárias existem.

Captura de tela de um gráfico do plugin Burst, mostrando um período de 5 de maio até 3 de junho. As estatísticas de visualizações (pageviews), sessões (sessions), visitas (visitors) e pulos (bounces) são relativamente proporcionais nessa ordem, sendo que parecem ter havido menos pulos proporcionalmente a outras estatísticas no dia 17 de maio e muito mais visualizações proporcionalmente a outras estatísticas dos dias 27 a 29 de maio. As visualizações em geral ficaram abaixo de 1000, ficando um pouco abaixo de 1200 no dia 17 de maio, acima de 3000 no dia 27 de maio, acima de 1500 nos dias 28 e 29, um pouco acima de 1000 no dia 30 e acima de 1200 nos dias 31 de maio e 01 de junho.

Estatísticas do último mês que contam todas as páginas em orientando.org

Outra captura de tela, desta vez só dos últimos dias. O número de visualizações de 28 de maio está acima de 1800, 29 de maio está acima de 1600, 30 de maio e 01 de junho estão por volta de 1200, 31 de maio está um pouco acima de 1000 e 02 de junho está quase em 1500. Os outros dados possuem curvas similares, mas menos drásticas, com pulos ficando em volta dos 400, visitantes ficando em volta dos 600 e sessões ficando em volta dos 800. Pulos e sessões são os únicos números que ficaram mais altos no dia 02 de junho em comparação a 29 de maio.

Estatísticas da última semana que contam todas as páginas em orientando.org

Enfim, conseguimos entregar:

  • 98 exemplares de Tudo, ou pelo menos muita coisa, sobre linguagem pessoal (texto original aqui);
  • 97 exemplares do nosso panfleto sobre espectro assexual e arromântico (listado aqui);
  • 94 exemplares do nosso panfleto sobre orientações (também disponível na nossa seção de orientações de materiais para imprimir);
  • 94 exemplares de O que é intersexo? (listado aqui);
  • Mais de 90 exemplares de um panfleto que combinou Qual é a sua linguagem? com o Guia rápido para o uso de conjuntos no estilo artigo/pronome/flexão (listados na seção de linguagem. A falta de números exatos é devido a algumas folhas terem que ter sido descartadas devido a erros de impressão);
  • 86 exemplares de Sobre atração por mais de um gênero (outro da seção de orientações);
  • Pelo menos 86 adesivos de conjuntos de linguagem (não temos dados sobre alguns porque algumas pessoas pediram para recortar folhas e levar adesivos para casa). Temos dados concretos sobre os seguintes adesivos terem sido pegos:
    • 39 apenas com o conjunto o/ele/o;
    • 29 apenas com o conjunto a/ela/a;
    • 7 com a informação de que qualquer artigo/pronome/flexão podem ser utilizades;
    • 4 apenas com o conjunto ê/elu/e;
    • 2 com [espaço para preencher artigo]/elu/e e a/ela/a;
    • 2 com [espaço para preencher artigo]/elu/e e o/ele/o;
    • 1 com os conjuntos ê/elu/e e o/ele/o;
    • 1 com os conjuntos a/ela/a e o/ele/o;
    • 1 com os conjuntos o/ele/o e a/ela/a (mesma coisa, só a ordem que inverte);
    • 1 com espaço personalizável para um conjunto organizado em artigo/pronome/flexão e mais o conjunto [espaço para preencher artigo]/elu/e;
    • 1 com o/ele/o e espaço personalizável para outro conjunto organizado em artigo/pronome/flexão;
    • 1 com um conjunto envolvendo o pronome ela e espaços personalizáveis para artigo e flexão;
    • 1 com um conjunto envolvendo o pronome éli e espaços personalizáveis para artigo e flexão;
    • 1 com um conjunto envolvendo a flexão o e espaços personalizáveis para artigo e pronome;
    • 1 com um conjunto envolvendo a flexão a e espaços personalizáveis para artigo e pronome;
    • 1 com a informação de que qualquer artigo/pronome/flexão podem ser usades, mas com mais de uma exceção (as quais a pessoa pode preencher no adesivo).

Também haviam opções envolvendo conjuntos rotativos, conjuntos quaisquer desde que estejam dentro da neolinguagem, o uso de nenhume artigo/pronome/flexão (-/-/-), diversas opções envolvendo neopronomes diferentes (elo, ile, elae, el e ila, para citar alguns) e muitos adesivos que permitiam o preenchimento de qualquer conjunto ou de quaisquer dois conjuntos, então as escolhas acima não foram feitas por falta de opção.

Para finalizar o relato, quero dizer que ainda é cedo para saber se vamos tentar novamente no ano que vem. O problema de distribuir panfletos é que muitas vezes dá a impressão de que nada adiantou, de que as pessoas podem ter lido e achado as informações vagamente interessantes mas ainda vão nas redes sociais perguntar qual a diferença de bi e pan ou usar conjuntos no formato “elu/delu”. É possível que tenhamos mudado vidas, mas também é possível que a gente tenha perdido tempo e dinheiro com um esforço inútil.

Pessoalmente, eu não gosto de jogar a toalha. Um esforço de visibilidade pode ser provado inútil, mas desistir de ir em eventos físicos também não vai ajudar a disseminar informações ou ideias. Sendo alguém não-binárie que deve ser referide apenas usando conjuntos de linguagem que não possuem a aprovação dos grandes nomes da “linguagem neutra” brasileiros, eu não tenho a opção de descansar e esperar que algum dia as pessoas vão parar de insistir em me maldenominar (ou indicar que gostariam de fazer isso sem serem pintadas como exorsexistas): o sistema artigo/pronome/final de palavra foi publicado aqui já faz mais de 8 anos, mas já percebi que a maioria das pessoas só vai tentar se esforçar em ser inclusiva quando tem alguém dando motivo pra isso. Também tem as outras questões LGBTQIAPN+ que afetam a mim e a outres, como visibilidade a-espectral, múlti, não-binária e xenogênero.

Ficar batendo na mesma tecla é horrível, mas é isso o que tem pra hoje. Ao menos é possível que a próxima geração tenha que bater menos teclas pra conseguir ser respeitada das mesmas formas.

Que tal usar artigo/pronome/final de palavra para descrever conjuntos de linguagem?  2

Versão em áudio (não inclui os links do final da postagem)


ze/eld/e | ze é artigo: vi ze Aster ontem. | elz é pronome: elz estava no mercado. | e é flexão/terminação: elz é ume escritore?

o sistema a/p/f é prático • apenas 3 elementos definem quase tudo • a/ela/a ocupa menos caracteres do que ela/dela

o sistema a/p/f é inclusivo • quem usa o pronome éli é linde ou lindi? É possível que cada pessoa escolha! • quer usar le/elu/u, e/ele/e, -/ela/a, mi/iau/i? Você pode!

o sistema a/p/f foi pensado para a língua portuguesa • linguagem pessoal vai além de pronomes • contrações como dile e nelu não precisam ser apontadas separadamenteque tal se informar? • visite asters.work/apf.html para saber mais • ajude a normalizar a/p/f usando este formato em sues perfis e introduções

Ei, você ainda usa pronome/d + pronome como forma de expressar linguagem? Que tal especificar suas preferências em um nível um pouco maior?

Além desta vantagem, você ajuda pessoas com conjuntos de linguagem menos óbvios, nos ajudando com o trabalho de repassar essas informações.

Esse é o tipo de informação que pode virar “senso comum” – assim como a ideia do final de palavra e ser adequado como genérico – desde que não seja descartada.

Esse é o tipo de esforço que vai ficar cada vez menor desde que dê pra contar com o apoio da comunidade.

Links com mais informações: Use a/p/f | Links sobre neolinguagem, conjuntos de linguagem e linguagem genérica

Esta postagem em outros lugares: Instagram | Tumblr

Presumir gênero é inerentemente antitrans?  0

Presumir gênero é inerentemente antitrans?

Aviso de conteúdo: Esta é uma postagem sobre presunção de gênero. Ela é contra a presunção de identidades de gênero, mas como o público-alvo são pessoas que se acham justificadas em presumir gênero, ela menciona exemplos que podem machucar quem lida com disforia de gênero ou com questões similares.

Read more

Alguns termos cunhados em 2023  2

Boas vindas ao quarto ano seguido de postagens que apresentam certas identidades que foram cunhadas no ano que recém passou!

Como sempre, esta é apenas uma pequena parcela do que o ano de 2023 teve a oferecer em relação a cunhagens. Epikulupu, neopronouns e ryanyflags são alguns exemplos de Tumblrs que publicaram uma porção de cunhagens novas durante o ano, enquanto r/XenogendersAndMore e LGBTQIA+ Wiki são alguns exemplos de lugares de participação coletiva onde vários termos são publicados.

Também quero ressaltar novamente que o advento de terminologia mais específica não tem o objetivo nem de obrigar pessoas a largarem os rótulos que já usam, nem de obrigar pessoas a adicionarem novos termos às suas listas e nem de colocarem termos mais comuns ou gerais como “ultrapassados”. Para saber mais sobre isso, há dois textos mais antigos por aqui que já tratam desse assunto: “Por que usar [y] ao invés de [x]?”A culpa des excluídes.


Retângulo composto por nove losangos, considerando que cinco deles estão cortados por irem além do retângulo. Suas cores, de fora para dentro, são verde azulada, verde azulada escura, cinza azulada, roxa escura, lavanda clara, púrpura, azul, verde água e cinza clara. A parte lavanda é proporcionalmente maior do que as outras.

Bandeira fictopersonen

Fictopersonen

O primeiro termo desta lista foi cunhado em 3 de fevereiro por epikulupu no Tumblr a pedido de uma pessoa anônima.

Ele é definido como um gênero relacionado à personalidade de ume personagem fictície.

Ficto tem relação com ficcional, enquanto personen provavelmente se refere à palavra pessoas na língua alemã.


Aviamasculine

Onze faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores rosa, rosa avermelhada, roxa, púrpura, azul, verde água, azul, púrpura, roxa, rosa avermelhada e rosa.

Bandeira aviamasculina

Este termo foi cunhado em 5 de abril por Reign, mogai-sunflowers no Tumblr, a pedido de Atticus-Kirby, fagdykefrank na mesma rede.

Ele se refere a um gênero masculino da mesma forma que pássaros experienciam masculinidade. Isso porque é comum que pássaros “machos” sejam chamativos e/ou coloridos e tentem chamar a atenção de parceires em potencial por meio de danças e cantos.

O termo original é aviamasc, e pode ser viável utilizá-lo assim na lusosfera também, mas decidi por traduzi-lo utilizando uma forma mais completa do sufixo. Desta forma, seu final de palavra é flexível: uma pessoa seria aviamasculina, um grupo seria aviamasculino, etc.


Gênero-ponte, pontegênero ou ponte

Em 17 de abril, Nil (kitgay em write.as) publicou um texto detalhando o que este xenogênero cobre. Ele pode ser lido na íntegra aqui, e acredito que dê pra resumir alguém que possui esta identidade de gênero como:

  • Alguém cuja identidade de gênero possui, está aberta a construir ou é composta por “uma ponte” que atravessa ou vem de outras experiências de sua vida, como neurodivergência, orientação ou regionalidade, por exemplo;
  • Alguém que percebe que a própria identidade de gênero contém pontes entre seus gêneros;
  • Alguém cujo gênero é relacionado com uma ou mais pontes reais ou imaginárias em relação a suas estruturas, seus materiais, suas cores ou afins;
  • Alguém que se apresenta para o mundo de forma aberta à possibilidade de relacionar sua identidade de gênero com pontes.

Alguém não precisa cumprir todos estes parâmetros para se dizer gênero-ponte; só há a necessidade de associar de alguma forma a identidade de gênero com alguma forma de ponte, sendo os itens acima alguns exemplos de como atingir isso.


Gênero-baleia

Theo

Portanto, é um termo que pode abranger praticamente qualquer gênero que tenha a ver com baleias, como um gênero grande como uma baleia, ou que lembra sons que baleias fazem.


Retângulo composto por três faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores amarela, creme e amarela. Há um girassol estilizado no centro da faixa creme.

Bandeira méstrica

Méstrique

Este termo descreve qualquer forma de atração, relacionamento, orientação ou afins que envolvam ao menos uma pessoa não-binária. Ele foi cunhado em 4 de julho por Delta, the-delta-quadrant no Tumblr.

Méstrique é uma resposta a diamórique, um termo juvélico que foi feito para centralizar pessoas não-binárias. Uma pessoa não-binária pode chamar qualquer atração que tem de diamórica, e qualquer relacionamento envolvendo ao menos uma pessoa não-binária pode ser chamado de diamórico, mas pessoas binárias (as que são sempre, completamente e somente homens ou sempre, completamente e somente mulheres) não podem se dizer diamóricas. No entanto, uma pessoa binária que sente atração por pessoas não-binárias pode chamar tal atração de méstrica.

Para facilitar a explicação da diferença entre méstrique e outros termos juvélicos que envolvem pessoas não-binárias, vou usar as seguintes siglas:

  • NBaNB descreve pessoas não-binárias atraídas por pessoas não-binárias.
  • BaNB descreve pessoas binárias atraídas por pessoas não-binárias.
  • NBaB descreve pessoas não-binárias atraídas por pessoas binárias.
  • NB/NB descreve um relacionamento envolvendo duas pessoas não-binárias.
  • NB/B descreve um relacionamento envolvendo uma pessoa não-binária e uma pessoa binária.

(Não existem termos específicos para relacionamentos envolvendo mais de duas pessoas, e portanto fica a critério de cada ume que termos se aplicam a si dentro de um polículo.)

Enfim:

  • Embinárique (enboric) descreve atração de qualquer pessoa LGBTQIAPN+ por pessoas não-binárias.
    • Atração NBaNB pode ser descrita como embinárica.
    • Atração BaNB pode ser descrita como embinárica.
    • Atração NBaB não deve ser descrita como embinárica.
    • De forma geral, este termo não parece ter sido feito para descrever relacionamentos.
  • Enebeane (enbian) descreve atração/relacionamentos entre duas pessoas não-binárias.
    • Atração NBaNB pode ser descrita como enebeana.
    • Atração BaNB ou NBaB não deve ser descrita como enebeana.
    • Relacionamentos NB/NB podem ser descritos como enebeanos.
    • Relacionamentos NB/B não devem ser descritos como enebeanos.
  • Diamórique (diamoric) descreve relacionamentos envolvendo ao menos uma pessoa não-binária ou a atração de uma pessoa não-binária que considera sua não-binaridade relevante.
    • Atração NBaNB pode ser descrita como diamórica.
    • Atração BaNB não deve ser descrita como diamórica.
    • Atração NBaB pode ser descrita como diamórica.
    • Relacionamentos NB/NB podem ser descritos como diamóricos.
    • Relacionamentos NB/B podem ser descritos como diamóricos.
    • Em adição a isso, o termo “orientações diamóricas” é ocasionalmente utilizado para falar sobre orientações e termos juvélicos que envolvem atração vinda de pessoas não-binárias, como enebeane, mártique, feminamórique e escapolitiane.
  • E, finalmente, méstrique (mestric) descreve qualquer relacionamento, orientação ou atração envolvendo alguma pessoa não-binária.
    • Atração NBaNB pode ser descrita como méstrica.
    • Atração BaNB pode ser descrita como méstrica.
    • Atração NBaB pode ser descrita como méstrica.
    • Relacionamentos NB/NB podem ser descritos como méstricos.
    • Relacionamentos NB/B podem ser descritos como méstricos.
    • Em adição a isso, o termo “orientação méstrica” pode ser usado para descrever quaisquer orientações e termos juvélicos que envolvem especificamente atração por e/ou vinda de pessoas não-binárias.

O termo mestric foi inspirado em Mnestra/Mestra da mitologia grega, que ganhou a habilidade de trocar de forma do deus Poseidon. A tradução, méstrique, possui final de palavra flexível: um símbolo seria méstrico, alguém que usa i como final de palavra seria méstriqui e por assim vai.

A bandeira méstrica usa a cor amarela para simbolizar não-binaridade e um girassol para representar alegria.


Retângulo dividido em cinco faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores violeta, lavanda, amarela clara, lavanda e roxa escura. No centro da faixa central, há um círculo - também amarelo claro - que se expande por cima das faixas adjacentes, o qual contém um halo e cinco estrelas em volta do halo, na cor branca com contornos pretos.

Bandeira angelissexo/angeligenital

Angeligenital ou angelissexo

Em 15 de agosto, queer-coining no Tumblr postou uma resposta à pergunta de uma pessoa anônima que pediu uma bandeira para o termo. A bandeira foi postada em 27 de agosto.

Os termos em si se referem a alguém que quer ter genitália/sexo angelical. É um termo altersexo do mesmo tipo que transgenital, angenital e genital-fluxo, por exemplo.

Esta identidade provavelmente foi cunhada com base na ideia de que anjos não possuem genitália ou possuem genitália que não é humana, visto que não é uma espécie que precisa se reproduzir de acordo com várias histórias produzidas sobre a espécie.


Retângulo dividido em seis faixas horizontais de tamanhos ligeiramente diferentes, nas cores marrom, marrom clara, bege, salmão, vermelha e roxa escura.

Bandeira queertina

Queertine

Em 12 de dezembro, queer-coining publicou bandeiras e definições de queertine, que se refere àquelus cujas identidades queer são influenciadas por serem latines (ou seja, por serem ou terem ascendência da América Latina). É possível dizer que este termo é uma forma de identidade vesil.

Queertine tem final de palavra flexível. Uma pessoa é queertina, um grupo é queertino, etc.


Virnorromântique

Retângulo composto por sete faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores roxa escura, roxa, roxa clara, rosa clara, rosa, vermelha acinzentada e vinho.

Bandeira virnorromântica

Este termo foi cunhado por lovesicklie no Tumblr em uma postagem feita em 14 de dezembro. Sua base foi um pedido feito no Tumblr the-mogai-request-graveyard publicado em 2 de dezembro por Autumn, autumnmoon-morrison no Tumblr. O pedido em si continha uma definição sem qualquer menção a possíveis nomes ou símbolos para a identidade.

Uma pessoa virnorromântica – o final de palavra é flexível, assim como acontece em geral com orientações românticas – sente atração romântica facilmente por conta de neurodivergência e/ou trauma. No sentido de que tem quedas por praticamente qualquer pessoa em volta de sua idade que demonstra bondade para ela e compatibilidade com suas preferências.

Esta orientação não especifica gênero, então é tanto possível que seja uma orientação múlti que não depende de identidade de gênero quanto uma orientação “combinável” com outras (hétero, tóren, bi, etc). É, de qualquer forma, uma neuro-orientação.


Retângulo composto por cinco faixas iguais do mesmo tamanho, nas cores verde, verde clara, amarela, amarela clara e branca.

Bandeira enebaorientada

Enba- (possíveis traduções: emba, eneba)

A pedido de uma pessoa anônima, Dexter, neopronouns no Tumblr, cunhou a orientação enba e postou sobre ela e sua bandeira em 28 de dezembro. O termo descreve alguém que sente atração por pessoas não-binárias, de forma que explicitamente não se refere à identidade de gênero de quem possui tal atração.

Enba vem de enban, um termo para descrever pessoas não-binárias adultas (o qual eu adaptaria como embã ou enebã). A orientação é para ser equivalente a home/ma e mulhe/woma; por isso a ausência da última letra. A bandeira também imita algumas das bandeiras de tais orientações.

Como o termo é quase que uma palavra usada para descrever pessoas não-binárias, pode ser uma boa ideia tentar usá-lo com sufixos de orientações quando possível, como em enbaorientade, embarromântique ou enebassexual.


Retângulo composto por cinco faixas horizontais, os quais possuem as cores índigo, ameixa, vermelha clara, bege e laranja clara.

Bandeira saliliana

Saliliane

Também no dia 28 de dezembro, Lacey, haunted-thing no Tumblr, cunhou salilian, uma palavra para descrever lésbiques inconformistas de gênero.

A cunhagem foi inspirada por laveniane, que descreve turianes (homens gays) inconformistas de gênero.

Saliliane é uma palavra com final de palavra flexível. Uma lésbica seria saliliana, enquanto um lésbico seria saliliano. (Há pessoas que, mesmo tendo alguma associação com mulheridade, não usam a/ela/a, por conta de não-binaridade e/ou inconformismo de gênero. Leia mais sobre não-conformidade de linguagem aqui.)


Como quatro destes termos foram cunhados em dezembro, que tal uma lista rápida com mais termos, um por mês?

  • Janeiro: humor-fluxo, uma forma de gênero-fluxo que varia com base no humor;
  • Fevereiro: poetauródique, alguém cujo gênero é relacionado a ter uma aura de tragédia poética;
  • Março: turiknight (ou turicavaleire), um gênero relacionado a ser homem com atração por homens e ume cavaleire;
  • Abril: deceptóxique, alguém cujo gênero é relacionado a parecer mais perigose do que realmente é;
  • Maio: myceriane (ou miceriane), um neurogênero relacionado a fungos de forma que é vasto, interconectado, relacionado a ciclos naturais, além da compreensão e só entendível depois de deixar conceitos mundanos para trás;
  • Junho: sistema de gêneros shroom, o qual é majoritariamente composto por gêneros relacionados a outros gêneros mas de forma que só podem ser conceitualizados como fungos;
  • Julho: bitgênero, 1-10% de um gênero enquanto o resto é outra(s) coisa(s), de forma similar a nanogênero/demigênero;
  • Agosto: eteriane, alguém que é veldiane e urânique, e talássique, alguém que é lésbique e netúnique;
  • Setembro: chaosoul, um gênero relacionado com a alma da pessoa e com caos;
  • Outubro: cenilunar, uma identidade relacionada com feminilidade e/ou com ser mulher ou que está indo em direção a isso, e cenitidal, uma identidade relacionada com masculinidade e/ou com ser homem ou que está indo em direção a isso;
  • Novembro: luminaeiane, um termo juvélico para pessoas transfemininas atraídas por pessoas transfemininas, e estariane, um termo juvélico para pessoas transmasculinas atraídas por pessoas transmasculinas;
  • Dezembro: gênero-alegria, um gênero que tem a sensação de ser feliz e alegre; um gênero relacionado a euforia de gênero e felicidade; um gênero que tem a sensação de ser morno como um dia de sol.

Aqui terminam os destaques de 2023. Que eles tenham ajudado a descobrir termos novos para considerar!

Termos de identidades de gênero que remetem à infância  0

Bandeiras barnean, fleurlingen, gênero-menino, gênero-menina, emboyinmaic e gênero-fofo.

Aviso de conteúdo: A introdução desta postagem e o segundo parágrafo do primeiro item mencionam brevemente pedofilia e abuso sexual de menores de idade. Não há exemplos ou detalhes gráficos, mas quem preferir pode querer pular tais seções.


 

O tema do último Rodízio NHINCQ+ foi infância, então tive a ideia de fazer uma postagem reunindo termos para identidades não-binárias que remetem ao assunto. Infelizmente, não a terminei dentro do prazo, mas ainda assim quis terminar e postar.

Por ser uma forma de trollagem popular, quero ressaltar que identidades de gênero de qualquer tipo não são justificativas para realizar quaisquer ações abusivas. Alguém com uma identidade de gênero relacionada a ser criança não necessariamente tem atração por crianças e, independentemente disso, não pode usar sua identidade como desculpa para tentar ter qualquer relação inapropriada com menores de idade. Pessoas dizendo que quaisquer facetas de suas identidades dão algum tipo de permissão para cometer abuso e/ou violência contra outres com menos poder e ter isso respeitado estão ou querendo se aproveitar de pessoas desinformadas ou tentando se aproveitar de pânico moral para virar grupos de pessoas contra pessoas marginalizadas.

Enfim, aqui estão alguns termos que podem ser usados por pessoas de quaisquer idade para descrever que seus gêneros passam sensações de características relacionadas com ser criança. A maioria deles são xenogêneros, então recomendo entender o conceito antes de ler as definições nesta página.

Read more

Quer incluir pessoas não-binárias na língua portuguesa? Priorize o respeito à linguagem pessoal!  1

Bandeira neopronominal (de quem usa neopronomes)


Há uma certa tendência de falar sobre “linguagem neutra” ou “linguagem não-binária” em círculos preocupados com questões de justiça social atualmente. Uso os termos entre aspas porque eles tendem a ser usados mais ou menos como substitutos para neolinguagem: isto é, a existência de palavras que se encontram fora dos gêneros gramaticais impostos pela língua padrão.

Geralmente essas discussões são em torno de usar alguma forma de neolinguagem como linguagem neutra/genérica, que aqui vou definir como a linguagem que deve ser utilizada para pessoas/seres cujos conjuntos de linguagem pessoal são desconhecidos e grupos onde presume-se que membres usem conjuntos de linguagem pessoal diferentes. Então, por exemplo, ao invés de alguém usar o/ele/o como linguagem neutra/genérica, como na oração “aqueles alunos chegaram atrasados“, alguém poderia usar e/elu/e, como em “aquelus alunes chegaram atrasades, i/il/i, como em “aquils alunis chegaram atrasadis, ou qualquer outro conjunto envolvendo neolinguagem.

(Conjunto de linguagem se refere a uma espécie de gênero gramatical, mas é um termo mais flexível por ser compatível com quem quer misturar gêneros gramaticais diferentes. Conjunto de linguagem pessoal é um conjunto de linguagem que deve ser utilizado para se referir a alguém, e então é possível dizer que tal alguém “usa” certo conjunto ou certos conjuntos de linguagem. Mais sobre isso aqui, aqui ou aqui.)

A utilização de neolinguagem como forma de linguagem neutra/genérica é bem-vinda por muites, porque esta combate a ideia de que um conjunto de linguagem geralmente associado com masculinidade e/ou com ser homem (o/ele/o) deva ser o padrão, e também por oferecer uma alternativa mais fácil à inclusão de todes sem que tenham que ser feitos contornos para que o uso de a/ela/a ou de o/ele/o seja mais justificado (como em “todas as pessoas“, “minhas amizades” ou “alguém que trabalha com pintura” ao invés do uso mais problemático de “todos“, “meus amigos” ou “algum pintor“). A integração de um gênero gramatical que se propõe a ser neutro dentro da língua padrão será um passo à frente tanto em relação a facilitar essa questão quanto em relação a fornecer um conjunto de linguagem pessoal visto como neutro mas amplamente aceito, o qual pode assim ser usado por pessoas não-binárias que só querem ser referidas de qualquer forma neutra/genérica ou para se referir a crianças que ainda não desenvolveram suas próprias preferências de linguagem pessoal de forma que não impõe a elas conjuntos de linguagem binários de forma geralmente cissexista e diadista.

Porém, o foco único em padronizar um gênero gramatical neutro muitas vezes deixa de lado a necessidade mais importante de não maldenominar pessoas cisdissidentes e/ou inconformistas de linguagem. De fornecer o respeito básico do uso de pronomes, artigos e outras partes de um conjunto de linguagem que cada pessoa quer que sejam utilizades para si, assim como quem usa a/ela/a ou o/ele/o e possui certa aparência aceitável dentro da sociedade cissexista tem seus conjuntos de linguagem respeitados.

Concordo que o uso de o/ele/o como linguagem neutra/genérica deva ser evitado. Porém, também não acho que isto seja um problema maior do que outras expressões problemáticas comuns no dia-a-dia, como o uso constante de xingamentos capacitistas de forma extremamente casual, de termos racistas para descrever pessoas, culturas, grupos étnicos ou afins, da utilização de termos neutros para descrever grupos marginalizados como gorde ou gay como descrições negativas e por assim vai. Eu defendo o combate a qualquer forma de linguagem opressiva, mas acho ainda mais importante evitar e acabar com formas de violência mais diretas contra pessoas marginalizadas.

Só que o que vejo em debates acerca de qual deve ser o novo gênero gramatical neutro ou se deve existir um novo gênero gramatical neutro é uma falta de consideração com pessoas que dependem de neolinguagem não (só) como uma forma de expressar inclusividade, mas (também) como uma forma de ter conjuntos de linguagem com os quais não se sentem maldenominadas; de ter conjuntos de linguagem que sentem que as representam quando os conjuntos dentro da língua padrão se mostram insuficientes.

Talvez isso pareça fútil para pessoas binárias – especialmente cis – as quais possuem gamas enormes de formas de encontrar validação interna e externa para suas identidades de gênero. Porém, no caso de pessoas não-binárias, muitas vezes a linguagem pessoal é uma das únicas formas que temos para buscar euforia de gênero ou combater inseguranças em relação a não sermos vistes da forma certa. E maldenominação não deixa de poder machucar só porque uma pessoa trans está deixando de ser referida por um conjunto como ê/elu/e ou ly/ily/y ao invés de a/ela/a ou o/ele/o.

Enfim, quando alguém diz que deve existir apenas um conjunto de linguagem válido que inclui neolinguagem e que o resto das possibilidades não presta, isso é um ataque muito mais direto a pessoas inconformistas de linguagem do que o uso de o/ele/o como linguagem neutra/genérica. Quando alguém diz que a única importância da neolinguagem é a formação de um gênero gramatical neutro a ser incluso na norma padrão da língua portuguesa, isso exclui de forma bem mais direta a existência de pessoas que usam neolinguagem em seus conjuntos de linguagem pessoais do que o uso de o/ele/o para se referir a grupos com conjuntos de linguagem pessoais diferentes.

Pessoas não-binárias que não usam (apenas) a/ela/a, o/ele/o, -/-/- ou algum conjunto específico envolvendo neolinguagem já existem. Eu estou entre essas pessoas, assim como outres que conheço. Nós não vamos deixar de existir quando/se houver um gênero gramatical neutro incluso na língua padrão, até porque já nos identificamos usando conjuntos de linguagem pessoais que diferem dos padrões da língua sem aguardar a permissão de ninguém. Nem todo mundo quer expressar neutralidade e/ou indeterminação com a neolinguagem inclusa em seu(s) conjunto(s) de linguagem pessoal(is). Mesmo quem quer expressar tais características pode não estar confortável com os elementos do conjunto escolhido como neutro por qualquer entidade.

A diversidade dos conjuntos que contém neolinguagem não é um problema teórico que pode ser resolvido caso seja decidido um gênero gramatical neutro na língua padrão o mais rápido possível. É uma realidade que precisa ser considerada em qualquer proposta de reavaliação de como se ensina a língua portuguesa de forma que inclui neolinguagem.

Antes de querer debater sobre a inclusão de um gênero gramatical oficial novo, é importante levar em consideração a questão de não impor qualquer conjunto de linguagem em quem não quer ser referide com o uso de tal conjunto, e isso inclui qualquer conjunto de linguagem visto como neutro/genérico. Se a proposta é incluir melhor pessoas não-binárias na língua, é importante não agir como se apenas um dos conjuntos de linguagem usados pelo grupo existisse.

Entendo querer debater sobre qual conjunto é mais adequado como neutro/genérico, levando em consideração questões como a facilidade de ensinar ou de entender o conjunto e o quanto ele parece visualmente ou sonoramente algo “mais masculino” e/ou “mais feminino” do que neutro. Tais discussões podem ser interessantes e saudáveis. Porém, a partir do momento onde são circulades mentiras sobre o quanto outros conjuntos são inacessíveis e/ou ataques/chacota contra elementos neolinguísticos usados por outras pessoas como parte de seus conjuntos de linguagem pessoal, isso deixa de ser apenas uma discussão teórica sobre a inclusão de um gênero gramatical neutro na língua padrão para também impor de forma violenta quais tratamentos pessoas não-binárias podem ou não podem aceitar para si mesmas. E isso a sociedade cissexista já faz; não precisamos de “aliades/camaradas bem intencionades” para isso.

Um podcast acerca de aliades  1

Eu e Oltiel gravamos este podcast no dia 9 de março para o Rodízio NHINCQ+ sobre o tema aliades. O áudio tem quase uma hora de duração e fala sobre tanto o que aliades fazem de ruim quanto o que fazem de bom.

A edição foi feita por mim (Aster), enquanto a transcrição ficou com Oltiel. Tal transcrição ainda não está disponível e será disponibilizada quando estiver pronta.

Avisos de conteúdo: Como este podcast fala sobre erros de aliades e sobre resistência contra o sistema, ele fala sobre aspectos de opressão (por exemplo: maldenominação, falta de emprego, repressão policial). Não há relatos muito gráficos, mas esse tipo de assunto é discutido.

Ouvir/baixar versão .mp3 | Ouvir/baixar versão .wav


Créditos de músicas, em ordem:

  1. chien•ne errant•e – résoudre mon problème s’il vous plait
  2. Adeline Adrenaline – square roots
  3. passerine – cavernous
  4. Komiku – Should we be afraid or sad ?
  5. Monplaisir – a=landmine
  6. ni_ni – geni das rosas cintilantes
  7. isabel nogueira e luciano zanatta – queer noise
  8. Aster – Experiências de gênero (demo de versão muito anterior à final)
  9. chien•ne errant•e – Encore un effort
  10. Aster – twinkles (indisponível publicamente)
  11. jentesselin – Unraveling/Nothing
  12. passerine – seaside
  13. Loyalty Freak Music – Lack of Color – Sugar and coffee
  14. Anonymous420 – Demon Funder
  15. Loyalty Freak Music – Hug Convoy
  16. Loyalty Freak Music – Lack of Color – Aeroplane
  17. jentesselin – Frustration/Going Nowhere
  18. bm_128 – bm_128 (número
  19. das_synthikat – _erroristen

Alguns termos cunhados em 2022  1

Descrição: Bandeiras de orgulho em vários tamanhos e ângulos, umas por cima das outras. Elas representam as identidades simigênero, erossêntien, aceactial, viadevesil, limenegênero, somewharo, valeogênero, gênero-roubado, laveniq e sertãopunkic.


Boas vindas a mais uma retrospectiva arbitrária de cunhagens NHINCQ+! Assim como em 2017, 2020 e 2021, esta postagem destaca alguns termos interessantes que, por serem relativamente novos e/ou específicos, podem não aparecer muito em listas de identidades por aí, especialmente no momento atual.

Quero destacar que esta lista ou qualquer outra não tem a intenção de obrigar ninguém a usar certos rótulos por se encaixar neles, e muito menos de fazer com que pessoas se forcem a agir de certa forma para que se encaixem melhor em identidades mais específicas. Apenas cada pessoa pode dizer em quais termos identitários se encaixa, e pessoas que só usam termos mais abrangentes como assexual mesi, múlti ou não-binárie não são superiores ou inferiores a pessoas que preferem especificar que são cáligo, ômni, beluagênero ou termos desta ou de qualquer outra lista.

Algumas pessoas preferem usar termos mais específicos, especialmente em ambientes onde identidades NHINCQ+ são discutidas em maiores detalhes, enquanto outras não se importam com isso, e ambas estas posturas devem ser respeitadas. Questionar a necessidade de termos quando eles descrevem experiências existentes é uma atitude queermísica, ainda que venha de pessoas que também são cisdissidentes e/ou heterodissidentes.

Ao “não entender” uma identidade, é importante refletir sobre os possíveis preconceitos que fazem com que tal identidade seja “impossível” (ex.: uma identidade arromântica que envolve namorar ou um gênero não-binário que não usa os gêneros binários como referência), e pesquisar mais sobre experiências destas comunidades que vão além de definições básicas ou estereótipos.

Caso isso ainda não tenha ajudado com a dúvida, dá pra perguntar para quem conhece do assunto. Porém, é fundamental levantar a questão de forma respeitosa, sem desdém ou presunções negativas contra pessoas que usam ou que entendem a identidade. Afinal, se a “pergunta sincera” parece mais um deboche, faz sentido exigir paciência e compaixão de quem tem a capacidade de responder? Aplique o caso a qualquer outro assunto, seja profissão, hobby ou mídia: se você não sabe muito sobre algo que faz parte da vida de outras pessoas por anos, faz sentido exigir respostas enquanto é passada a impressão de que quem sabe sobre o assunto não presta, e de que a pessoa ignorante sobre o assunto na verdade sabe mais mesmo que nunca tenha tentado entender sobre ele em boa-fé?

Enfim, fica aí a reflexão pra quem precisar. Sem mais enrolação, vamos aos termos!


Retângulo composto por quatro faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores rosa, rosa avermelhada, vermelha e roxa.

Bandeira aceactial

Aceactial descreve alguém que deseja realizar ações tipicamente sexuais com pessoas pelas quais sentem atração romântica, ainda que não sintam atração sexual.

Aromactial descreve alguém que deseja realizar ações tipicamente românticas com pessoas pelas quais sentem atração sexual, ainda que não sintam atração romântica.

Ainda que os termos sejam centrados apenas em atrações românticas e sexuais (para quem não sabe, existem outros tipos), eles são interessantes por serem para pessoas variorientadas que sentem atração sexual sem atração romântica – ou vice-versa – sem definir a atração que conseguem sentir como alo ou a-espectral.

Caso eles pareçam específicos demais, é porque termos como cúpio já existem. Aroflirt (aroflerte? Acho que faria sentido uma tradução que também seja substantivo, mas não sei dizer qual substantivo seria adequado) também é um termo cunhado em 2022, e descreve pessoas arromânticas que gostam de flertar mas que não possuem interesse em relacionamentos românticos. Bélus (bellus) é um prefixo com utilidade similar: é para pessoas que não sentem atração mas que gostam de algumas ações tradicionalmente associadas com tal atração.

Retângulo composto por quarto faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores vermelha, rosa, rosa clara e verde.

Bandeira aromactial

A parte act de aceactial e aromactial vem do verbo atuar na língua inglesa, então é possível que algumas pessoas prefiram remover a letra T destes termos ao usá-los no contexto da língua portuguesa brasileira. Mas estou só especulando: em geral, tem muita gente que não se importa em traduzir os termos que usam para suas orientações, identidades de gênero ou afins.

Ambos os termos foram cunhados pela mesma pessoa: Dexter (neopronouns no Tumblr). Eles foram requisitados por pessoas anônimas. A cunhagem de aromactial foi em 11 de junho, e a de aceactial no dia 20 do mesmo mês. As bandeiras também foram feitas por Dexter.


Erossêntien (adaptação minha) ou erosentien (original) é um prefixo que pode ser usado para descrever quando uma orientação é afetada por não-humanidade. Alguém erossentienromântique é alguém cuja orientação romântica é afetada, entrelaçada ou definida por sua identidade não-humana, por exemplo.

Retângulo composto por 11 faixas horizontais, sendo as quatro primeiras e quatro últimas do mesmo tamanho, a faixa central maior e as faixas ao redor da faixa central menores a ponto de serem praticamente linhas. Suas cores são índigo, roxa azulada, lilás, branca, roxa, rosa, roxa, branca, amarela, laranja e vermelha. No centro da bandeira, há um símbolo preto composto por flechas cruzadas apontando para quatro direções diagonais, um círculo grande, um círculo menor com duas linhas pequenas saindo dele para cima e para baixo e um losango quase do tamanho do círculo maior.

Bandeira erossêntien

Não-humanidade, aqui, é um conceito utilizado no sentido que alterumanes usam. Este termo é basicamente a versão para orientações da identidade de gênero gênero-alterumano. Tanto erossêntien quanto gênero-alterumano não definem exatamente qual a orientação ou qual a identidade de gênero específica de quem usa tais termos, somente que são definidas por sua não-humanidade ou alterumanidade, respectivamente.

Existem outras orientações que funcionam da mesma forma. Pessoas neurossexuais ou aroicas podem ou não saber se são oligossexuais, pansexuais, heterossexuais e/ou de outras orientações que definem se sentem atração sexual ou por quem/de qual forma, mas expressam que suas orientações sexuais são afetadas por neurodivergência e arromanticidade.

Esse termo, composto por eros (amor) e sentien (de senciência), foi cunhado em 7 de dezembro por Reign (mogai-sunflowers no Tumblr). A postagem especifica que este termo não deve ser usado para justificar abuso de seres que não podem consentir.


Retângulo composto por sete faixas horizontais do mesmo tamanho, nas cores preta, cinza, cinza clara, branca, amarela, rosa e azul.

Bandeira gênero-roubado

Gênero-roubado (termo original: stolengender) descreve alguém que tem a sensação de ter roubado um ou mais gêneros de outres.

A descrição não especifica como esse processo acontece, de quem um gênero pode ser roubado ou o motivo pelo qual a identidade é descrita como um roubo ao invés de uma cópia de gêneros alheios, então tais questões ficam abertas à interpretação de quem usa o termo.

Assim como ocorre em outras experiências poligênero, é possível que a pessoa mude entre os gêneros que roubou, ou é possível que acumule-os de forma que tenha todos de forma simultânea.

Esta identidade é descrita por quem a cunhou como um xenogênero, e é provável que isso seja por conta da sensação do gênero não ser originalmente da pessoa e/ou do conceito de “roubar o gênero” em geral.

A cunhagem foi realizada em 26 de fevereiro pelo Coletivo Aoi (the-aoi-collective-term-archive no Tumblr).


Retângulo composto por cinco faixas diagonais da mesma altura. Elas vão do canto superior direito até o canto inferior esquerdo. Começando do canto superior esquerdo, suas cores são roxa, roxa clara, bege clara, marrom clara e marrom.

Uma das cinco bandeiras de orgulho lavenique postadas junto com o anúncio do termo

Lavenique ou laveniq foi um termo decidido em conjunto para descrever lésbiques pretes/negres. Isso é por causa de muites laveniques se sentirem desconectades e/ou serem excluídes de tal rótulo por conta da dominação branca dentro da história, dos estereótipos e dos espaços lésbiques.

É um termo explicitamente aberto para qualquer pessoa preta/negra (multirracial ou não) que poderia se dizer lésbica, de forma que não limita ou define o que é ser lésbique.

Geralmente, termos NHINCQ+ que são originalmente terminados em -ique (exemplos: maverique, autonomique) não são traduzidos como se tivessem final de palavra flexível: uma maverique que usa a/ela/a ainda seria chamada de maverique e não de maverica. Porém, visto que lavenique é uma orientação, como lésbique, vóirique ou netúnique, é possível que eventualmente tenham pessoas se dizendo lavenicas (ou até mesmo lavênicas) ao invés de laveniques.

O termo foi postado no Tumblr thegenderthieves no dia 27 de julho.


Retângulo composto por cinco faixas do mesmo tamanho, nas cores vermelha, salmão, amarela pálida, azul esverdeada e azul metálica.

Bandeira limenegênero

Limenegênero (termo original: limenegender) é um gênero conectado a lugares que passam uma sensação de liminaridade ou eterealidade. São lugares que atraem com falsa sensação de segurança e cores claras e bonitas, mas que não são seguros.

Este gênero também é relacionado a kidcore (uma estética relacionada a temas infantis), autoisolamento e esconder-se de monstros ao redor, que podem ou não ser ameaças.

Este xenogênero foi cunhado por Cupid, catgirlprotag no Tumblr, no dia 1º de dezembro.


Retângulo composto por nove faixas horizontais do mesmo tamanho. As faixas das pontas são laranjas e a do meio é marrom. As outras faixas formam uma espécie de degradê entre as cores.

Bandeira sertãopunkic

Sertãopunkic é um gênero relacionado à estética sertãopunk.

Sertãopunk é um movimento nordestino baseado em realismo mágico, solarpunk e afrofuturismo, o qual é descrito aqui e aqui.

Assim como em gêneros com o sufixo wavic, é meio complicado traduzir punkic (alguns outros termos com o sufixo podem ser encontrados aqui). É possível usar punkique, pânquique ou outro, ou mesmo punkic como na língua inglesa.

O termo foi cunhado por Adam, gender-mailman no Tumblr, em 16 de julho.


Retângulo composto por sete faixas horizontais que são do mesmo tamanho com a exceção da faixa central que é praticamente uma linha, nas cores rosa, rosa clara, amarela, branca, verde, ciano e turquesa.

Bandeira simigênero

Simigênero descreve alguém que, mesmo não sendo necessariamente trans binárie, prefere ser viste como alguém do gênero binário diferente daquele imposto ao nascimento.

Por conta disso, está mais para um termo de expressão de gênero do que para uma identidade de gênero.

O termo pode ser útil para pessoas transfemininas ou transmasculinas questionando sua binaridade e para pessoas não-binárias que gostam de ter expressões de gênero binárias, por exemplo.

Quem cunhou o termo em 20 de agosto, serromani no Reddit, é transmasculine e não-binárie, e prefere ser percebide como homem pela maioria das pessoas.


Retângulo composto por seis faixas horizontais do mesmo tamanho. A primeira faixa é turquesa escura e a última é amarela limão; as outras faixas formam uma espécie de degradê entre as duas cores, com a exceção da quarta faixa (verde clara) sendo mais escura do que a quinta (amarela escura).

Bandeira somewharo

Somewharo (possível tradução: algum lugaro) é um termo que descreve alguém que se encaixa no espectro arromântico, mas sem saber onde.

A definição original também explica que ou a pessoa não se encaixa em nenhum rótulo existente, tem uma orientação romântica que muda entre várias possibilidades dentro do espectro arromântico ou não consegue definir um termo específico para si por conta de neurodivergência.

Alguns termos já servem para tais situações: alguém vexerromântique não consegue dizer onde está no espectro arromântico por não entender o conceito de atração romântica, alguém arofluxo tem uma orientação fluida entre mais de uma do espectro arromântico, alguém arovague tem sua orientação no espectro arromântico afetada por neurodivergência, alguém quoirromântique não consegue aplicar nenhuma orientação romântica a si e por assim vai. Mesmo assim, somewharo oferece um trocadilho e uma definição um pouco diferenciada das existentes.

O termo foi cunhado por aro-mantic-fairy no Tumblr em 3 de agosto.


Valeogênero descreve uma identidade de gênero que amadurece, se desenvolvendo com o passar do tempo. Embora seja uma identidade que passe por mudanças, assim como gênero-fluido, ela não muda completamente, assim como uma criança não muda todas as suas características ao crescer.

Retângulo composto por sete faixas horizontais, nas cores preta, vermelha escura, vermelha, laranja, laranja pálida, rosa dessaturada e roxa dessaturada. Em seu centro há um símbolo que é um olho fechado estilizado dentro de um círculo, tudo isso em cor dourada com contorno vermelho.

Bandeira valeogênero

Pessoas valeogênero não conseguem explicar ou entender completamente sua identidade de gênero, por conta das mudanças ocorridas com o passar do tempo. Além disso, como experiências variam de pessoa para pessoa valeogênero, não é possível descrever este rótulo como necessariamente feminino, masculino, xenino ou afins.

Porém, a descrição de valeogênero também ressalta que quem utiliza esta identidade tem uma presença de gênero, e que portanto tais pessoas não são sem gênero.

Outros termos parecidos são mutare, progrefluide e gênero-plasma, ainda que apenas mutare passe perto da descrição de valeogênero e ainda assim pode descrever experiências diferentes.

Quem cunhou valeogênero foi Rhapsody, venitvesperum no Tumblr, em 3 de dezembro.


Viadevesi, vesiviade ou viadevesil é um termo vesil para viades. Ou seja:

  • Retângulo composto por oito faixas horizontais, na proporção 2:2:1:1:1:1:2:2. As três primeiras faixas vão de um marrom em tom médio até um marrom de tom bem claro. A quarta faixa é roxa e a quinta é magenta. As três últimas faixas vão de um marrom bem claro até um marrom médio.

    Bandeira viadevesi

    Quem pode usar o termo é qualquer pessoa que se diz viada. A identidade viada é um insulto ressignificado positivamente entre certes homens queer e pessoas trans, entre outras pessoas.

  • Por ser um termo vesil, ele denota que a identidade viada da pessoa é relevante para outros aspectos de sua vida, como algo que influencia identidade de gênero, orientação, expressão de gênero, alterumanidade e/ou outras coisas.

O termo foi cunhado como viadevesil, mas segundo a postagem original sobre o termo vesil, termos vesis devem ser grafados sem a letra L; por isso as alternativas citadas. Viade tem final de palavra flexível, então alguém que usa o final -o seria viadovesi, alguém que usa o final -ae seria viadaevesi, e por assim vai.

A pessoa que fez a bandeira e juntou os termos é Sami, julietianboy no Tumblr.


Então é isso, em relação a esta postagem. Obviamente houveram muito mais termos cunhados em 2022 do que estes destacados aqui: gênero-buquê, calagênero, omnagênero, tidálique/mareique, pondigênero (aviso: link menciona comida), rain-, aéldique, ápex-, vális-, -zódium, withoure e distaregênero são alguns exemplos.

Algo que prejudica este tipo de compilação (assim como outres listas e arquivos) são os desejos de não ter termos repostados e de não querer que certos termos sejam usados por pessoas que não se encaixem em certo lado em certas discussões irrelevantes à identidade. Embora não exista lei que vá defender o direito exclusivo a uma palavra que não é pra ser nome próprio de empresa/mídia/etc., não quero desrespeitar o pedido de quem quer que seus termos permaneçam exclusivos, e assim eles não serão copiados aqui.

Só que não há como impedir alguém de se encaixar em certa identidade, especialmente se ela for abrangente. Então peço pela consideração de quem está lendo isso e quer cunhar termos eventualmente: a ideia é mesmo cunhar uma palavra pra preencher um vácuo léxico, ou é mais importante que a palavra seja considerada uma propriedade sua que não deve ser espalhada em outros círculos sociais, onde haverá riscos da palavra evoluir para outra coisa fora de seu controle ou ser usada por pessoas com opiniões diferentes? E se é pra ser uma propriedade sua, faz sentido postar ela publicamente, onde pessoas podem facilmente escolher desrespeitar tal pedido?

Já vi gente pensando que a ideia do Orientando é confundir pessoas sobre rótulos. Não é. A ideia é oferecer informações sobre termos para que pessoas possam se comunicar melhor em relação a eles: seja utilizando-os em perfis sabendo que outras pessoas vão poder pesquisar para saber o que significam, seja mencionando-os em discussões e podendo usar links para explicar a quem nunca entrou em contato com eles, seja oferecendo opções a quem não tinha antes vocabulário para poder comparar suas experiências.

Portanto, para mim, a utilidade da diversidade de termos é a comunicação, especialmente das pessoas que não veem termos populares como suficientes para suas experiências. E, quanto mais essas palavras se tornam comuns, mais fácil fica a comunicação das nuances de gênero, orientação, relacionamentos e afins. Como palavras que não podem ser repostadas não podem ser traduzidas ou adicionadas a listas que não podem conter links, isso prejudica sua popularização e, portanto, a tal da comunicação.

Não posso impedir alguém de querer considerar seus termos como propriedade intelectual exclusiva. No entanto, como não sei o quanto tal retórica está sendo somente copiada sem que haja muita reflexão sobre o assunto, este é meu pedido para que haja uma reflexão antes de igualar repostagens de cunhagem de termos a repostagens de textos/imagens/outros conteúdos artísticos.

Enfim, que o ano de 2023 tenha mais cunhagens interessantes para destacar!