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Presumir gênero é inerentemente antitrans?  0

Presumir gênero é inerentemente antitrans?

Aviso de conteúdo: Esta é uma postagem sobre presunção de gênero. Ela é contra a presunção de identidades de gênero, mas como o público-alvo são pessoas que se acham justificadas em presumir gênero, ela menciona exemplos que podem machucar quem lida com disforia de gênero ou com questões similares.

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Quer incluir pessoas não-binárias na língua portuguesa? Priorize o respeito à linguagem pessoal!  1

Bandeira neopronominal (de quem usa neopronomes)


Há uma certa tendência de falar sobre “linguagem neutra” ou “linguagem não-binária” em círculos preocupados com questões de justiça social atualmente. Uso os termos entre aspas porque eles tendem a ser usados mais ou menos como substitutos para neolinguagem: isto é, a existência de palavras que se encontram fora dos gêneros gramaticais impostos pela língua padrão.

Geralmente essas discussões são em torno de usar alguma forma de neolinguagem como linguagem neutra/genérica, que aqui vou definir como a linguagem que deve ser utilizada para pessoas/seres cujos conjuntos de linguagem pessoal são desconhecidos e grupos onde presume-se que membres usem conjuntos de linguagem pessoal diferentes. Então, por exemplo, ao invés de alguém usar o/ele/o como linguagem neutra/genérica, como na oração “aqueles alunos chegaram atrasados“, alguém poderia usar e/elu/e, como em “aquelus alunes chegaram atrasades, i/il/i, como em “aquils alunis chegaram atrasadis, ou qualquer outro conjunto envolvendo neolinguagem.

(Conjunto de linguagem se refere a uma espécie de gênero gramatical, mas é um termo mais flexível por ser compatível com quem quer misturar gêneros gramaticais diferentes. Conjunto de linguagem pessoal é um conjunto de linguagem que deve ser utilizado para se referir a alguém, e então é possível dizer que tal alguém “usa” certo conjunto ou certos conjuntos de linguagem. Mais sobre isso aqui, aqui ou aqui.)

A utilização de neolinguagem como forma de linguagem neutra/genérica é bem-vinda por muites, porque esta combate a ideia de que um conjunto de linguagem geralmente associado com masculinidade e/ou com ser homem (o/ele/o) deva ser o padrão, e também por oferecer uma alternativa mais fácil à inclusão de todes sem que tenham que ser feitos contornos para que o uso de a/ela/a ou de o/ele/o seja mais justificado (como em “todas as pessoas“, “minhas amizades” ou “alguém que trabalha com pintura” ao invés do uso mais problemático de “todos“, “meus amigos” ou “algum pintor“). A integração de um gênero gramatical que se propõe a ser neutro dentro da língua padrão será um passo à frente tanto em relação a facilitar essa questão quanto em relação a fornecer um conjunto de linguagem pessoal visto como neutro mas amplamente aceito, o qual pode assim ser usado por pessoas não-binárias que só querem ser referidas de qualquer forma neutra/genérica ou para se referir a crianças que ainda não desenvolveram suas próprias preferências de linguagem pessoal de forma que não impõe a elas conjuntos de linguagem binários de forma geralmente cissexista e diadista.

Porém, o foco único em padronizar um gênero gramatical neutro muitas vezes deixa de lado a necessidade mais importante de não maldenominar pessoas cisdissidentes e/ou inconformistas de linguagem. De fornecer o respeito básico do uso de pronomes, artigos e outras partes de um conjunto de linguagem que cada pessoa quer que sejam utilizades para si, assim como quem usa a/ela/a ou o/ele/o e possui certa aparência aceitável dentro da sociedade cissexista tem seus conjuntos de linguagem respeitados.

Concordo que o uso de o/ele/o como linguagem neutra/genérica deva ser evitado. Porém, também não acho que isto seja um problema maior do que outras expressões problemáticas comuns no dia-a-dia, como o uso constante de xingamentos capacitistas de forma extremamente casual, de termos racistas para descrever pessoas, culturas, grupos étnicos ou afins, da utilização de termos neutros para descrever grupos marginalizados como gorde ou gay como descrições negativas e por assim vai. Eu defendo o combate a qualquer forma de linguagem opressiva, mas acho ainda mais importante evitar e acabar com formas de violência mais diretas contra pessoas marginalizadas.

Só que o que vejo em debates acerca de qual deve ser o novo gênero gramatical neutro ou se deve existir um novo gênero gramatical neutro é uma falta de consideração com pessoas que dependem de neolinguagem não (só) como uma forma de expressar inclusividade, mas (também) como uma forma de ter conjuntos de linguagem com os quais não se sentem maldenominadas; de ter conjuntos de linguagem que sentem que as representam quando os conjuntos dentro da língua padrão se mostram insuficientes.

Talvez isso pareça fútil para pessoas binárias – especialmente cis – as quais possuem gamas enormes de formas de encontrar validação interna e externa para suas identidades de gênero. Porém, no caso de pessoas não-binárias, muitas vezes a linguagem pessoal é uma das únicas formas que temos para buscar euforia de gênero ou combater inseguranças em relação a não sermos vistes da forma certa. E maldenominação não deixa de poder machucar só porque uma pessoa trans está deixando de ser referida por um conjunto como ê/elu/e ou ly/ily/y ao invés de a/ela/a ou o/ele/o.

Enfim, quando alguém diz que deve existir apenas um conjunto de linguagem válido que inclui neolinguagem e que o resto das possibilidades não presta, isso é um ataque muito mais direto a pessoas inconformistas de linguagem do que o uso de o/ele/o como linguagem neutra/genérica. Quando alguém diz que a única importância da neolinguagem é a formação de um gênero gramatical neutro a ser incluso na norma padrão da língua portuguesa, isso exclui de forma bem mais direta a existência de pessoas que usam neolinguagem em seus conjuntos de linguagem pessoais do que o uso de o/ele/o para se referir a grupos com conjuntos de linguagem pessoais diferentes.

Pessoas não-binárias que não usam (apenas) a/ela/a, o/ele/o, -/-/- ou algum conjunto específico envolvendo neolinguagem já existem. Eu estou entre essas pessoas, assim como outres que conheço. Nós não vamos deixar de existir quando/se houver um gênero gramatical neutro incluso na língua padrão, até porque já nos identificamos usando conjuntos de linguagem pessoais que diferem dos padrões da língua sem aguardar a permissão de ninguém. Nem todo mundo quer expressar neutralidade e/ou indeterminação com a neolinguagem inclusa em seu(s) conjunto(s) de linguagem pessoal(is). Mesmo quem quer expressar tais características pode não estar confortável com os elementos do conjunto escolhido como neutro por qualquer entidade.

A diversidade dos conjuntos que contém neolinguagem não é um problema teórico que pode ser resolvido caso seja decidido um gênero gramatical neutro na língua padrão o mais rápido possível. É uma realidade que precisa ser considerada em qualquer proposta de reavaliação de como se ensina a língua portuguesa de forma que inclui neolinguagem.

Antes de querer debater sobre a inclusão de um gênero gramatical oficial novo, é importante levar em consideração a questão de não impor qualquer conjunto de linguagem em quem não quer ser referide com o uso de tal conjunto, e isso inclui qualquer conjunto de linguagem visto como neutro/genérico. Se a proposta é incluir melhor pessoas não-binárias na língua, é importante não agir como se apenas um dos conjuntos de linguagem usados pelo grupo existisse.

Entendo querer debater sobre qual conjunto é mais adequado como neutro/genérico, levando em consideração questões como a facilidade de ensinar ou de entender o conjunto e o quanto ele parece visualmente ou sonoramente algo “mais masculino” e/ou “mais feminino” do que neutro. Tais discussões podem ser interessantes e saudáveis. Porém, a partir do momento onde são circulades mentiras sobre o quanto outros conjuntos são inacessíveis e/ou ataques/chacota contra elementos neolinguísticos usados por outras pessoas como parte de seus conjuntos de linguagem pessoal, isso deixa de ser apenas uma discussão teórica sobre a inclusão de um gênero gramatical neutro na língua padrão para também impor de forma violenta quais tratamentos pessoas não-binárias podem ou não podem aceitar para si mesmas. E isso a sociedade cissexista já faz; não precisamos de “aliades/camaradas bem intencionades” para isso.

Queerspectivas 3: Não-binaridade e narrativas trans  0

Queerspectivas é uma série de transmissões ao vivo (que depois são gravadas e postadas) feitas com o objetivo de pessoas com certas identidades poderem falar sobre suas próprias experiências sem terem que depender de painéis conduzidos por pessoas que não fazem parte do grupo, ou que são voltados a grupos completamente alheios às questões tratadas na transmissão.

Link para assistir no YouTube

Link para assistir no Nextcloud (ou baixar)

Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Outros links:

Não temos ninguém para transcrever Queerspectivas no momento, mas entre em contato caso você queira fazer isso ou tenha feito uma legenda ou transcrição!

Tentativa de conscientização sobre algumas identidades do espectro arromântico  2

Bandeira arromântica: 5 faixas horizontais de mesmo tamanho nas cores verde, verde clara, branca, cinza e preta.

Conceitos que recomendo saber sobre antes de ler o texto:

Hoje é o terceiro dia da Semana da Conscientização sobre o Espectro Arromântico de 2020 (dias 16 até 22 de fevereiro). Caso você queira postar o que fez/vai fazer para comemorar esta data, não deixe de passar neste tópico!

Como eu já escrevi em uma postagem hoje, ainda há uma ausência muito grande de conteúdo arromântico, então fica chato falar de algum assunto dentro da comunidade arromântica como se fosse mais obscuro do que outros quando não há conteúdo arromântico em geral.

E quando eu falo de conteúdo, eu falo em relação a tudo. Faltam personagens arromântiques em mídias populares; falta conteúdo informativo sobre o que é ser arromântique que não seja só sobre a definição de arromântique; faltam matérias bem feitas em revistas sobre o que é ser arromântique; faltam postagens, vídeos, podcasts e afins de pessoas arromânticas falando de suas histórias que alcançam pessoas fora da comunidade arromântica.

Esta postagem é sobre pessoas arromânticas que sentem alguma atração romântica. Porém, quero explicitar que minha intenção não é dizer que este grupo é mais apagado do que todos os outros em contextos arromânticos, e nem jogar pessoas arromânticas que não sentem atração romântica debaixo do ônibus. Este é apenas um assunto que escolhi, mas existem vários outros que merecem atenção também.

A possibilidade de pessoas serem arromânticas é extremamente apagada, em geral.

Quando é considerada, porém, é comum que esta consideração só se estenda à ideia de que a pessoa não sente atração romântica nenhuma.

E mesmo pessoas que aceitam a possibilidade de alguém não sentir atração romântica podem não aceitar que alguém se identifique como grisromântique, arofluxo, akoirromântique, demirromântique ou afins. Afinal, não sentir atração romântica comumente ou deixar de sentir atração depois de um tempo “é normal”, e portanto dentro dos padrões alorromânticos.

A questão é, ao lidar com algo “novo” que alguém está dizendo que é, algo fora do padrão que não tem boa representação na mídia, a tendência é duvidar. Isso é um problema para toda a comunidade, especialmente quando não existe forma de “provar” que alguém não tem gênero ou não sente atração por pessoas de certo gênero ou afins.

E atração romântica é algo que muita gente que é ou que se diz alorromântica vê como nebuloso, então, de fora, uma “escala cinza” entre alguém sem atração romântica nenhuma e com atração romântica forte/frequente/consistente pode não parecer “real” ou “útil”.

Eu vou citar aqui umas possibilidades que podem ser meio extremas, mas que podem dar uma ideia melhor dos motivos pelos quais pessoas podem se dizer de certas orientações no espectro arromântico.

Akoirromântique/lithromântique/etc.: Uma pessoa tem várias quedas durante sua vida, mas elas raramente são recíprocas, e, quando são, a pessoa perde interesse rapidamente. Mesmo que tente namorar e ache alguém de quem gosta muito, a atração romântica sempre parece sumir no início do relacionamento. A pessoa pode realmente querer que uma relação dê certo e pode realmente gostar de outras pessoas, mas não consegue se manter apaixonada por ninguém.

Amicusromântique: Uma pessoa nunca se apaixona por personagens, celebridades, ou por pessoas que conhece mais ou menos que se declaram para ela. Porém, frequentemente se apaixona por pessoas em seu grupo de amizades, por mais que seja pequeno e/ou que as pessoas nele estejam indisponíveis.

Arofluxo: Uma pessoa por anos não se apaixona por ninguém. Depois passa algum tempo se apaixonando por várias pessoas, mas tal paixão vai embora bem rápido após relacionamentos começarem. Depois a pessoa passa um ano sem se apaixonar por ninguém. Daí a pessoa se apaixona por uma única pessoa e a paixão permanece por alguns anos. Depois ela vai embora totalmente. Depois ela volta, e a pessoa se apaixona por várias pessoas bem rápido por algum tempo. Depois a pessoa para de se apaixonar e questiona se realmente é capaz disso.

Caligorromântique: Uma pessoa começa a se apaixonar anos depois de suas amizades, mas tal paixão parece ser extremamente fraca e a pessoa questiona várias vezes se tal atração é real ou apenas pressão social. Em todos os relacionamentos que entra, ainda que ame romanticamente as outras pessoas, parece que sempre as outras pessoas a amam muito mais.

Claperromântique: Uma pessoa sentia atração romântica com frequência, mas após um relacionamento abusivo, nunca mais sentiu atração romântica. Ainda que tivesse sido alorromântica antes, ela não vê sentido em se identificar como tal quando é atualmente incapaz de se apaixonar e desinteressada em ter outros relacionamentos românticos.

Cupiorromântique: Uma pessoa não sente atração romântica nenhuma, mas pensa que namorar pode ser divertido e quer ter relacionamentos românticos mesmo sem ser capaz de se apaixonar por outras pessoas.

Demirromântique: Uma pessoa nunca se apaixona por ninguém, e detesta o quanto outras pessoas ficam puxando o assunto de possíveis relacionamentos românticos como se pessoas tivessem que estar apaixonadas o tempo todo. Depois de anos, a pessoa se apaixona por uma pessoa ou outra, mas apenas por pessoas que admira muito e com quem conviveu por bastante tempo.

Grisromântique: Uma pessoa só se apaixonou uma vez na vida há anos atrás, e não considera que isso define mais sua orientação do que todos os outros anos nos quais não sentiu atração nenhuma.

Proculromântique: Uma pessoa tem paixões assim como suas amizades, mas ao contrário delas, suas paixões são sempre por celebridades, personagens fictícies, ou outras pessoas completamente inacessíveis. E não só como adolescente; isso continua por vários anos e a pessoa nunca se apaixona por pessoas de qualquer gênero que estão à sua volta.

Recipromântique: Uma pessoa nunca se apaixona ou tem interesse em relacionamentos. Porém, algumas das vezes nas quais outras pessoas se declararam apaixonadas por ela, a pessoa começou a se apaixonar por estas pessoas, sem nunca ter tido nenhuma paixão fora disso.

Independentemente das experiências de cada pessoa e da sua opinião sobre que rótulos deveriam estar usando, por favor, respeite a identificação alheia. Cada pessoa tem seus motivos para usar os termos que usa.

26 de outubro: Dia da Visibilidade Intersexo  0

Uma das bandeiras intersexo, criada pela OII

Esta é uma das poucas datas dedicadas a pessoas intersexo. Nenhuma identidade LGBTQIAPN+ possui muitas datas por si só, mas levando em consideração a invisibilidade de questões intersexo dentro de espaços LGBTQIAPN+, parece que é pouco.

Caso você não saiba o que significa intersexo, você pode ver a página sobre isso aqui. Caso esteja sem tempo, pessoas intersexo são pessoas que, por motivos congênitos – ou seja, naturais, e não induzidos por acidentes, terapia hormonal ou cirurgias – não se encaixam nos padrões diadistas de “sexo feminino” ou “sexo masculino”. Isso pode ser devido a uma série de fatores, afinal existem dezenas de variações corporais relacionadas a sexo conhecidas.

Poucos países possuem o direito à autodefinição de gênero ou à autonomia corporal de pessoas intersexo. De fato, apenas Malta, um pequeno país europeu, atualmente garante integridade física, autonomia corporal, reparações, proteções anti-discriminação, acesso a documentos de identificação, acesso aos mesmos direitos de pessoas perissexo/diádicas (não-intersexo) cisgênero, direito a mudar seus documentos entre masculino e feminino e acesso a uma classificação X nos documentos caso não se sintam confortáveis com categorias binárias. (Fontes: 1, 2)

Ou seja, na maior parte dos países, pessoas intersexo não possuem acesso a classificações além de “masculina” ou “feminina” em seus documentos. Tais classificações não podem ser autodeterminadas. Pessoas intersexo menores de idade não possuem proteções contra terapias hormonais e cirurgias de mutilação genital forçadas e/ou erroneamente recomendadas por pessoas da área médica que acreditam que ser intersexo é “doença” ou “malformação” a ser “curada”. Não possuem nenhuma proteção contra discriminação por serem intersexo. Também não possuem nenhum direito a reparações pelo sofrimento que essas condições de vida podem causar. E, ainda assim, muitos grupos que lutam por direitos humanos nem mencionam questões intersexo.

A partir da introdução e da fortificação do binário de sexo e gênero, pessoas intersexo tornaram-se marginalizadas por seus corpos supostamente “não alinharem” com seus gêneros, assim como outras pessoas não-cis (outras porque pessoas intersexo não possuem privilégio cis), e assim como pessoas não-hétero são excluídas pelos seus gêneros/corpos “não alinharem” com as expectativas sobre suas atrações. Por isso, pessoas intersexo fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+, ainda que existam pessoas intersexo que não se sentem seguras ou que não fazem questão de participar de espaços para a comunidade, assim como existem pessoas gays, bi, assexuais, não-binárias, etc. que fazem o mesmo.

Algumas organizações atualmente incluem pessoas intersexo em suas versões da sigla (LGBTI, LGBTIQ, LGBTQIA, etc.), mas muitas tentam passar a ideia de que questões intersexo são totalmente diferentes de “questões LGBT” (como se as identidades cobertas por essas quatro letras não tivessem demandas diferentes entre si), que pessoas intersexo “cis e hétero” estão “se forçando na comunidade”, ou que pessoas de alguma outra identidade “controversa” (queer, assexual, arromântica, não-binária, etc.) estão “forçando pessoas intersexo na comunidade” para “confundir as pessoas e arranjar desculpas para invadir a comunidade”. Essas versões da história ou do propósito da comunidade são desrespeitosas tanto a pessoas intersexo quanto a outras pessoas que não são visivelmente parte da sigla que foi definida como “tradicional” ou “consagrada”.

Como comunidade e como pessoas, devemos aceitar, respeitar e incluir pessoas intersexo, não só por suas demandas serem parecidas com outras partes da comunidade, mas também por serem um grupo marginalizado pela sociedade dicissexista por si só.

Procurem se informar, especialmente pelo dia de hoje ter gerado diversas postagens sobre questões intersexo.

Intersex Day (inglês/espanhol) (+ Facebook)

Visibilidade Intersexo (+ Tumblr)

Intersexo e Dignidade

Coletivo Intersexo RS (sem postagens informativas no momento, precisa de gente)

#VisibilidadeIntersexo no Twitter

#VisibilidadeIntersexo no Instagram

#Intersexo no Instagram

Libertação x Cissexismo  0

Existem dois extremos em relação a como tratar gêneros.

Um deles é o cissexista: só existem dois gêneros, determinados por dois sexos, que supostamente causam também certas escolhas em comportamento e apresentação. Cada um desses gêneros possui uma linguagem associada a tal (o/ele/o para homens e a/ela/a para mulheres).

O outro é supostamente libertador e vanguardista: a ideia de que gênero não existe e não deveria ser levado em consideração, de que pessoas deveriam utilizar qualquer pronome e roupa porque nada dita o gênero de alguém. De que deveríamos ser uma sociedade pós-gênero.

Enquanto esta segunda opção é tentadora para várias pessoas não-binárias, ela também é desrespeitosa com várias pessoas não-cis, e ignora a realidade em que vivemos. Ela também reproduz partes do cissexismo, dependendo de como é tratada.

Bandeira genderqueer

A comunidade genderqueer é formada tanto por pessoas que querem quebrar as normas e o conceito de gênero quanto por pessoas que querem ter sua identidade respeitada, seja qual for.

Caso você queira se identificar como alguém que vai além de gênero – seja como pomogênero, pangênero, sem gênero ou sem rótulos – você pode fazer isso pessoalmente. Caso você queira aceitar qualquer tipo de linguagem e usar qualquer tipo de roupa, você também pode fazer isso.

Porém, você não pode forçar pessoas a agir desta forma, ou fazê-las se sentirem culpadas por perpetuarem estereótipos de gênero, quando estas pessoas também são vítimas do cissexismo.

Uma pessoa gênero-estrela que enfrenta forte disforia social e não aguenta mais escolher entre ser chamada de “ela” ou “ele” não deveria ter que se sentir culpada por buscar um visual ambíguo e insistir em linguagem alternativa.

Uma mulher trans que tem medo de andar na rua e sofrer violência por parecer “homem vestido de mulher” não deveria ser culpada por “perpetuar estereótipos femininos” como se depilar e usar maquiagem e roupas vistas pela sociedade como femininas, para parecer menos com o que a sociedade enxerga como homem e se sentir mais segura.

Uma pessoa transmasculina que tem sua identidade constantemente invalidada por sua família e escola tem o direito de se sentir braba com pessoas que acham que essa pessoa deveria aceitar usar qualquer pronome e qualquer roupa, já que tecnicamente essas coisas não possuem gênero.

Uma pessoa dois-espíritos não deveria ter que encontrar pessoas dizendo que gênero e rótulos relacionados a gênero não importam e deveriam sumir.

Não, você não pode olhar para uma pessoa e decidir sua linguagem, seu gênero, e se essa pessoa é trans ou cis ou não. Mas só agir como se gênero e linguagem não tivesse significado nenhum – especialmente quando isso é direcionado a pessoas não-cis – só isola pessoas que possuem a coragem de explorar e de se identificar com gêneros que a sociedade cissexista e exorsexista diz que não podem. E tem pouco efeito em uma população cis que pode justificar seu gênero de acordo com uma lógica cissexista, sexista e diadista.

“Radicalismo” reformista  1

Piadas e manifestações de desprezo genéricas contra opressories* e pessoas ignorantes podem ser catárticas e importantes. Porém, quando são levadas ao patamar de princípios, retiram nuances existentes na vida real, além de criarem um ideal distorcido para grupos ativistas.

Estou falando tanto sobre teorias que desprezam a realidade em troca de dualidades falsas de opressories e oprimides, quanto sobre piadas e brincadeiras que ajudam a normalizar essas dualidades.

É importante perceber que a maior parte dos grupos oprimidos consistem de várias identidades diferentes, e que nem sempre uma vai ser mais ou menos oprimida do que a outra. Isso porque a sociedade centraliza uma característica como certa e outras características como erradas em cada eixo, por não se encaixarem no modelo privilegiado por diferentes motivos.

Por exemplo, uma pessoa heterorromântica é vista como padrão pela sociedade. Uma pessoa heterorromântica exibe interesse romântico em pessoas somente de um gênero, aquele que é considerado oposto pela sociedade, e eventualmente se apaixona e entra em relacionamentos amorosos com pessoas do gênero “certo”.

Enquanto isso, existem pessoas que não são heterorromânticas. Pessoas multirromânticas vão sofrer repressão por não sentirem atração por só um gênero, além de sofrerem repressão por sentir atração por algum gênero “errado”; pessoas arromânticas e do espectro arromântico vão sofrer repressão por não desejarem ou manterem relações românticas com o “gênero certo”; e gays, lésbicas, e pessoas de orientações similares vão sofrer repressão por sentirem atração pelo “gênero errado” e não pelo “gênero certo”.

Existem maneiras, é claro, de uma pessoa heterorromântica não parecer heterorromântica, e ser confundida com alguém de outra orientação, recebendo então repressões por parte da sociedade. Porém, no momento, vamos lidar com um modelo teórico de uma pessoa heterorromântica que não dá a impressão de ser arromântica, gay, etc.

Mesmo assim, uma pessoa heterorromântica não é necessariamente privilegiada em outros aspectos. Uma pessoa heterorromântica ainda pode ser transgênero, mulher, deficiente, indígena, profissional do sexo e/ou até mesmo não-heterossexual, para citar algumas das inúmeras minorias existentes no planeta.

Dentro da comunidade LGBTQIAP+, existem diversos tipos de marginalização. A comunidade é unida desta forma porque a sociedade ainda vê certas características como desvio das normas de gênero: muitas vezes não separam um homem trans hétero de uma mulher cis lésbica, ou uma mulher trans perisexo de uma mulher ipsogênero, por exemplo.

No entanto, é importante que cada pessoa possa se identificar em seus próprios termos, não importa se a sociedade as coloca no mesmo saco de pessoas estranhas que deveriam ser tiradas de vista ou corrigidas. Só que, dentro da comunidade, alguns grupos se aproveitam da invisibilidade de outros para tentar homogeneizar a comunidade, o que só leva à criação de grupos assimilacionistas; grupos que tentam ser mais aceitáveis para a sociedade que os oprime, para ganharem privilégio a troco da marginalização de quem não está nesses grupos.

Existe um fenômeno chamado homonormatividade, que é, essencialmente, a normalização da identidade gay – e, na maioria das vezes, da identidade lésbica também – como a identidade LGBTQIAP+ “padrão”, muitas vezes colocando questões gays como as mais importantes para a comunidade, e tratando representação gay como o único tipo de representação importante para a comunidade.

É a homonormatividade que vende o padrão de casais gays/lésbicos monogâmicos, cis, brancos, de classe média e razoavelmente atraentes como a experiência LGBTQIAP+ ideal. Que mostra a liberdade de casais do mesmo gênero poderem se casar oficialmente e adotar filhes como as pautas mais importantes para o progresso da sociedade, quando crianças intersexo passam por cirurgias forçadas e pessoas transfemininas são frequentemente assassinadas por não “parecerem mulheres” o suficiente.

Essa homonormatividade também desvaloriza outras identidades não apenas por ignorá-las, mas por considerá-las extensões das identidades gay e lésbica. É daí que vem a preocupação de pessoas trans hétero serem “gays ao extremo”, de pessoas trans gays/lésbicas serem “pessoas hétero com um fetiche”, de pessoas não-binárias poderem ser “pessoas que querem ser de outro gênero por terem homofobia internalizada” ou “pessoas cis e hétero que se acham especiais”, de pessoas bi serem “apenas parcialmente gays”, “secretamente hétero”, ou “secretamente gays”, de identidades como poli e pan serem irrelevantes, de pessoas intersexo não terem nada a ver com a comunidade, etc.

Este tipo de pensamento se estende dentro das comunidades LGBTQIAP+, quando há uma pressão para ser o mais gay possível; ou, em certos casos, o mais trans possível. Por exemplo:

  1. Dizer que uma personagem que possui relacionamentos tanto com homens quanto como mulheres é lésbica não é desrespeitoso com pessoas bi, porque várias lésbicas já tiveram relacionamentos com homens. Porém, dizer que uma personagem que só possui relações com mulheres é possivelmente bi é desrespeitoso, porque passa a mensagem de que lésbicas não existem/que qualquer mulher deve “estar disponível a um homem”;
  2. Uma pessoa multi não pode dizer que sua atração por pessoas do mesmo gênero é gay, ou se chamar de palavras estigmatizadas direcionadas a pessoas gays/lésbicas (viado, sapatão, etc.); porém, casais formados por pessoas do mesmo gênero são “casais gays”, direitos para estes casais são “direitos gays”, etc.
  3. Lésbicas e homens gays podem sentir atração por pessoas não-binárias que ~parecem ser~ do gênero que geralmente se atraem, e isso, de alguma forma, não é desrespeitoso. Porém, se uma pessoa se identifica com alguma identidade multi por sentir atração por pessoas de vários gêneros que não é o seu, essa pessoa é “basicamente hétero” e “fetichiza identidades não-binárias”;
  4. Pessoas assexuais ou arromânticas que também são lésbicas ou gays sofrem de “homofobia internalizada” por não se identificarem completamente como lésbicas ou gays, mas pessoas assexuais ou arromânticas que também são hétero são “basicamente hétero” e não deveriam estar em “espaços LGBT”;
  5. Pessoas trans precisam de disforia de gênero para serem “trans de verdade”, que são as únicas pessoas trans que devem ser respeitadas. Porém, identidades não-binárias e pronomes alternativos são constantemente alvos de chacota, sem que ninguém pense na possibilidade dessas pessoas possuírem disforia.

Isso também culmina em ódio a pessoas hétero que nem realmente são hétero. Ódio a “relacionamentos hétero” muitas vezes afeta pessoas dentro da comunidade BTQIAP+; ódio a identidades não-binárias que ~parecem falsas~ muitas vezes afeta pessoas que não são cis; ódio a pessoas com fetiches ou em relacionamentos poliamorosos por “acharem que podem ser LGBT” afeta pessoas LGBTQIAP+ nestas comunidades.

E de que adianta rir de pessoas que se identificam como demissexuais ou magigênero? De que adianta alienar pessoas multi, que são grande parte da comunidade, dizendo que não podem se sentir representadas na mídia, e que são sujas por terem “relacionamentos hétero”? Quem ganha com a ideia de que pessoas trans precisam entrar em um certo molde para serem respeitadas?

Apenas o sistema, é claro, e as pessoas que querem fazer parte dele.

Porque, de resto, você está alienando partes de um grupo que se uniu justamente para ser mais forte e visível desta maneira.

Combater heteronormatividade e cissexismo em espaços LGBTQIAP+ é importante, mas tentar manter um ideal de pessoas que são “oprimidas o suficiente” está mantendo estes sistemas, dando a ideia de que só certos pequenos grupos são puros o suficiente para serem respeitados.

Se você tem medo de agressões contra lésbicas, pessoas gays e pessoas trans binárias na comunidade, o ideal é educar qualquer pessoa sobre cisheteronormatividade, e não reduzir a comunidade LGBTQIAP+ apenas a estas pessoas.

É um erro pensar que qualquer pessoa que não é de certa identidade vai ser preconceituosa contra certa identidade (especialmente em espaços LGBTQIAP+), e também é um erro pensar que qualquer pessoa que é de certa identidade não vai ser preconceituosa contra pessoas dessa mesma identidade.

Também é muito importante combater racismo, misoginia, capacitismo e outras marginalizações que não são relacionadas à comunidade LGBTQIAP+, afinal existem outros sistemas que devem ser destruídos.

* Recentemente, fui informade que palavras que já possuem e podem ser acompanhadas de i para serem claramente neutras, como em professories, opressories ou trabalhadories. Pretendo escrever desta forma de agora em diante.

Política de respeitabilidade  0

Esta é uma questão que aparece bastante em relação a questões LGBTQIAP+, embora também exista em razão de outras questões de discriminação (raça, neurotipo, etc). Consiste basicamente em passar a mensagem para o grupo dominante de que “fora essa pequena diferença, somos como vocês, então nos aceitem“.

Isso faz com que certo grupo adquira mais respeito pelo grupo dominante, a troco de setores que não conseguem passar por “pessoas normais” tão facilmente. Este processo é chamado de assimilação.

Esta postagem tem o objetivo de apontar este fenômeno como algo ocorrente em movimentos LGBTQIAP+. Portanto, aqui estão alguns exemplos deste tipo de política:

  • Promover uma imagem pura do casal de mesmo gênero que “só quer amar e ter uma família como você“, geralmente de pessoas brancas cisgênero dentro dos padrões de beleza, o que prejudica casais que já seriam mal vistos de outras maneiras por sua aparência, pessoas em relacionamentos poliamorosos, pessoas arromânticas, pessoas que não querem ter relacionamentos fechados, etc.;
  • Promover um padrão clichê de como uma pessoa transgênero deve ser, por meio de criar uma narrativa normativa de como desde que era criança a pessoa já queria usar roupas e brincar com brinquedos associados com seu gênero, e de como a pessoa sofre por não ter um corpo parecido com o de uma pessoa cisgênero e perisexo de seu gênero. Esta narrativa prejudica pessoas trans que não querem realizar sua transição, pessoas não-binárias num geral, pessoas que não possuem dinheiro para realizar sua transição, pessoas trans que não querem obedecer os papéis de gênero, etc.;
  • Promover um padrão de como uma pessoa não-binária “de verdade” deve ser e agir; sendo sempre de um gênero que envolve ambos os gêneros binários ou de um gênero neutro; sempre tendo disforia e total certeza de que cirurgias deve fazer para mudar seu corpo; sempre tendo linguagem fácil de utilizar; não se importando com microagressões; falando que é não-binárie e trans de verdade, ao contrário de pessoas não-binárias mais “radicais”; o que obviamente prejudica pessoas não-binárias com gêneros mais complexos, com disforia física inexistente ou impossível de aliviar, entre outras;
  • Promover a imagem de pessoas intersexo que “entendem” que são exceções e que precisam ser “consertadas”. Também promover que pessoas intersexo não são LGBTQAP+, por possuirem uma condição diferente de outras pessoas LGBTQAP+, tentando se distanciar do fato de que tais grupos foram considerados similares historicamente;
  • Promover que relacionamentos “gay” são iguais a relações “hétero”, e que pessoas só ficam em relacionamentos do mesmo gênero porque não possuem nenhuma outra opção, o que prejudica pessoas multi e pessoas assexuais/arromânticas;
  • Promover definições fechadas e fáceis de entender, como definir “LGBT” como a sigla mais completa e definir o resto das identidades que se encaixam em não-pericishétero como irrelevantes, como definir o mínimo de orientações e de identidades de gênero possíveis, como definir apenas os casos mais extremos como “LGBT+ o suficiente”.

 

Mitos e verdades sobre orientações  0

Mitos e verdades é uma série de posts que vão direto ao ponto sobre opiniões preconceituosas ou errôneas de alguma outra forma.

Mito: Pessoas que defendem que existem infinitas orientações obrigam pessoas a se encaixarem em orientações extremamente específicas
Verdade: A maioria das pessoas que defendem que existem infinitas orientações também defendem que cada pessoa tenha o direito de se identificar como queira, desde que não seja de forma preconceituosa.
Por exemplo: uma pessoa que já se apaixonou por pessoas de diversos gêneros, mas que nunca sentiu atração sexual, pode se chamar de bissexual apenas, se preferir isso a se chamar de assexual birromântica ou polirromântica. Uma mulher não-binária que apenas sente atração por mulheres e por outras mulheres não-binárias pode se chamar de lésbica, ao invés de proquassexual ou finsexual.

Mito: Pessoas bissexuais são pessoas que são atraídas apenas por gêneros binários
Verdade: Qualquer pessoa que se sente atraída por mais de um gênero pode se chamar de bi, não importa quais os gêneros ou quantos são.

Mito: Homossexual é a maneira mais formal/correta de se referir à identidade de uma pessoa gay
Verdade: Homossexual foi uma palavra muito utilizada para classificar pessoas com atração pelo mesmo gênero no meio médico. A palavra homossexualidade era listada como o nome de um transtorno psicológico nos Estados Unidos até 1973, por exemplo. Por isso, as palavras “homo” e “homossexual” são consideradas estigmatizadas, e não devem ser utilizadas para descrever pessoas que não se identificam especificamente como tal, ou para descrever a comunidade gay e lésbica num geral.
As palavras gay, lésbica, e bissexual também possuem origem em insultos ou patologizações, porém, houveram movimentos bem maiores para utilizar estas palavras em contextos não ofensivos.

Mito: Orientação sexual é baseada em sexo biológico
Verdade: Orientação sexual é baseada em gênero. Quando há atração por pessoas que são vistas na rua, tal atração não é pela genitália, que nem pode ser vista (na maior parte das vezes). Muito menos é pela quantidade de hormônios ou pelos cromossomos de alguém.
Enquanto pessoas podem ter certo nojo de fazer sexo com alguém com certos tipos de genitália, muitas vezes é mais pela associação da genitália com um certo gênero do que pela genitália em si. É claro que tal repulsa deve ser respeitada, mas ela não existe até que a pessoa tira a roupa.

Mito: Pessoas cetero são simplesmente pessoas gay
Verdade: Pessoas cetero são pessoas não-binárias que sentem atração apenas por outras pessoas não-binárias. Porém, existe uma infinidade de gêneros não-binários; existem pessoas agênero, pessoas poligênero, maveriques, andrógines, pessoas gênero-fluxo, pessoas gênero-estrela, magimeninos, juxeras, pessoas gênero-cinza, pessoas gênero-vago… enfim. Vários destes gêneros são muito diferentes uns dos outros, mesmo que todos sejam não-binários.
Pessoas cetero podem se identificar como gay, dependendo da situação… mas é importante saber que cetero não é uma substituição eficiente para “pessoa gay não-binária”.

Mito: Homens são gays, mulheres são lésbicas
Verdade: Originalmente, realmente era assim. Porém, o tempo passou, e agora gay é uma palavra que pode ser utilizada por pessoas de qualquer gênero que se identificam como tal.

Mito: Qualquer relação entre gêneros diferentes é hétero
Verdade: Além dessa suposição ser danosa para pessoas multi no geral, ela também é ruim para pessoas em relações diamóricas; ou seja, relações envolvendo no mínimo uma pessoa não-binária. Relações diamóricas podem “parecer hétero” em certos casos, e “parecer gay” em outros. Porém, muitas vezes, tais descrições desconsideram totalmente o gênero das pessoas não-binárias envolvidas em tal relação. Pessoas não-binárias não são um coringa que servem para ser o mesmo gênero de sues companheires, e nem pessoas que devem ter seu gênero desconsiderado por não parecerem gay ou trans o suficiente.

Mito: Novos termos para orientações vêm de fora da comunidade LGBTQIAP+
Verdade: Normalmente, novos termos possuem origem em comunidades LGBTQIAP+ já existentes, para melhor definir certos grupos. Por exemplo: a comunidade assexual veio da comunidade bissexual, já que um nível de atração igual em relação a todos os gêneros é uma característica assexual, mesmo que tal nível de atração seja zero. A comunidade arromântica veio da comunidade assexual, onde se discutiu sobre pessoas assexuais terem atração romântica de formas diferentes umas das outras. As comunidades polissexual e pansexual provavelmente vieram da comunidade bissexual, quando houve a necessidade para termos que não parecem se referir ao binário de gênero.