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Bandeiras de orgulho  0

Bandeiras são pedaços de tecido, ou gráficos imitando tal tecido, utilizados para simbolizar, sinalizar, e/ou decorar.

Bandeira gay original

Bandeira gay original

Antes de existirem bandeiras de orgulho, já existiram outros símbolos para a comunidade LGBTQIAP+. Por exemplo, ambas as cores verde e roxo já foram símbolos de homossexualidade. Porém, em 1978, Gilbert Baker, um artista, desenhou uma bandeira arco-íris de 8 cores, para atender às necessidades de ativistas da época que queriam um símbolo para a comunidade. Como rosa não estava disponível comercialmente na época, decidiram abrir mão dessa cor e de mais uma (azul anil), para ter uma bandeira que pudesse ser dividida igualmente. Assim nasceu a bandeira gay de 6 cores.

As outras bandeiras de orgulho populares, com a exceção das de fetiches, foram criadas no final dos anos 90, ou nos anos 2000. A bandeira bi surgiu em 1998; a lésbica (com o machado) surgiu em 1999; a transgênero também em 1999; a intersexo com o degradê em 2009; a assexual e a genderqueer em 2010.

Depois disso, surgiram várias outras bandeiras. Hoje em dia, é comum que qualquer gênero ou orientação tenha sua bandeira, a ponto de pessoas que recém criaram definições novas já fazerem ou mandarem fazer uma bandeira de orgulho para tal definição.

Enquanto não há nada de errado em ter sua identidade representada, vale lembrar que bandeiras de orgulho nada mais são do que gráficos aleatórios, caso tais bandeiras não sejam boas o suficiente.

A Associação Vexilológica Norte Americana possui uma lista dos 5 princípios básicos de design de bandeiras. Estes são os seguintes:

  1. Mantenha-a simples. Uma criança deve conseguir desenhá-la só com a referência da memória;
  2. Utilize simbolismo significativo;
  3. Utilize de 2 a 3 cores básicas;
  4. Sem letras ou selos. A bandeira deve poder ser vista de longe, e, se você tem que escrever algo para as pessoas entenderem do que é a bandeira, seu simbolismo é falho;
  5. A bandeira deve ser distinta ou relacionada. Tudo bem que a bandeira demirromântica seja parecida com a demissexual, mas não há necessidade de quase todas as bandeiras de orgulho serem compostas de faixas horizontais, só por causa da bandeira gay e/ou das subsequentes.

É claro, não necessariamente as bandeiras tenham que seguir estas regras para serem boas. A bandeira do País de Gales é amada mesmo que seu dragão seja complexo demais para ser desenhado da memória. A bandeira da África do Sul é memorável mesmo que tenha mais do que 3 cores – e o mesmo vale para a bandeira gay.

O problema das bandeiras de orgulho é que elas acabam caindo em certos clichês. Por exemplo, rosa para meninas/feminilidade, azul para homens/masculinidade, roxo para uma mistura entre os dois, ou para gêneros não-binários, amarelo ou verde para gêneros não-binários ou completamente fora do binário masculino/feminino, branco para neutralidade ou para gêneros não-binários. Faixas horizontais.

Quantas bandeiras seguem isto? Temos a bandeira transgênero, a bandeira pansexual, a bandeira polissexual, a bandeira trigênero, a bandeira genderflux… e isso sem mencionar cinza ou preto, que são outras cores comuns em bandeiras de gêneros.

Enquanto apenas utilizar estas cores com estas simbologias não seja algo tão ruim, quem cria certas bandeiras não se importa muito com o fator distinção.

Por exemplo, uma fuzmenina é uma menina trans que não sabe explicar porque pertence ao seu gênero. Uma endomenina é alguém cujo gênero possui flutuações, mas que nunca deixa de ser parcialmente uma menina. Mulheres trans e pessoas transfemininas são pessoas que foram designadas como homens ao nascimento, mas que são mulheres (mulheres trans), ou pessoas não-binárias cujo gênero e/ou apresentação são relacionados com feminilidade ou com ser mulher (pessoas transfemininas). Uma giramenina é alguém que possui múltiplos gêneros, um deles sendo o feminino, e a maioria sendo gêneros desconhecidos para a pessoa. Uma magimenina é alguém cuja maior parte do gênero é feminino, sendo que a outra parte do gênero pode ser outra coisa ou não existir. Uma anomenina é alguém que tem um gênero feminino que lentamente vai desaparecendo, e que eventualmente ressurge, sendo que ele vai desaparecer novamente. Uma entromenina é uma menina cujo gênero está em constante fase de deterioração, desaparecendo lentamente. Uma scorimenina é alguém cujo gênero flui entre três gêneros parecidos – neste caso, alguém cujo gênero flutua entre mulher, mulher não-binária e nanomulher, ou entre juxera, mulher agênero e demimulher, por exemplo.

Essas bandeiras são muito parecidas. Enquanto alguns destes gêneros sejam parecidos entre si, e todos tenham a ideia de menina, é muito fácil perder uma bandeira entre as outras, e é difícil de lembrar da composição da maior parte delas, especialmente as que possuem vários tons de rosa.

E então, existem bandeiras como estatimenina, necromenina, ou como esta outra bandeira para fuzmeninas. Estas bandeiras conseguem se distinguir mais, porém, elas acabam se tornando menos simples de serem reproduzidas, pelos seus resultados só terem sido obtidos por causa da existência de filtros digitais.

Agora, considerar: gênero-nulo, uma identidade para alguém cujo gênero não existe por não poder ser classificado. Sem gênero, uma identidade para quem não possui gênero, e que não gosta de utilizar termos como agênero para descrever sua falta de gênero. Xumgênero, uma identidade para quem não consegue classificar seu gênero, mas sem conseguir se contentar com isso. Verangênero, uma identidade para alguém cujo gênero muda sempre que este é identificado. Gênero-vago, uma identidade para pessoas neurodivergentes que não conseguem entender completamente seu gênero por causa de sua neurodivergência. Gênero-negativo, o estado de uma pessoa genderflux cujo gênero não existe no momento. E gênero-cinza, alguém que possui um gênero fraco e/ou indeterminado.

Estas bandeiras são mais distinguíveis entre si, pelo uso de símbolos e/ou de designs alternativos. A maior parte destas bandeiras possuem cores simples e fáceis de lembrar, e não são tão difíceis de serem desenhadas à mão.

Uma análise mais direta de certas bandeiras:

Bandeira de orgulho de ser um homem/menino não-binário

Identidade: Homem/menino não-binário. Uma pessoa não-binária que possui afinidades com masculinidade e/ou com o gênero masculino de alguma maneira.

Prós:

  • A simbologia faz certo sentido; verde é uma das cores mais associadas a meninos, depois do azul; o cinza dá a ideia de transição, de entre uma coisa e outra (neste caso, entre uma identidade binária e uma não-binária);
  • As cores combinam;
  • Não é a bandeira mais fácil de lembrar, mas também não é super difícil de se lembrar das cores. É possível de ser desenhada da memória.

Contras:

  • Possui um design parecido com várias outras bandeiras, como agênero e demihomem;
  • Não há a necessidade para tantas faixas, o mesmo conceito poderia ser resumido em 3, 4 ou 5 faixas.

Bandeira de orgulho de ser gravgênero

Identidade: Gravgênero. Alguém cujo gênero é intenso, forte.

Prós:

  • As estrelas deixam a bandeira distinguível entre outras;
  • Os elementos da bandeira (faixas e estrelas) não são difíceis de serem desenhados;
  • As cores combinam entre si, o que deixa a bandeira agradável de ser olhada.

Contras:

  • As cores verde e roxo não lembram força, e o degradê no fundo não dá a sensação de algo intenso e estável, e sim de algo que muda de intensidade, de transição;
  • Como são 5 tons de roxo diferentes no fundo, fica difícil de lembrar quais as cores exatas da bandeira;
  • O fundo com variação de cor é completamente dispensável. Se o fundo fosse só em um tom de roxo, o design seria mais limpo;
  • Por que três estrelas, com uma maior do que as outras? Parece-me que uma estrela maior faria um trabalho melhor.

Bandeira de orgulho de ser gênero-branco

Identidade: Gênero-branco. Alguém que só consegue pensar num espaço em branco, em relação ao próprio gênero.

Prós:

  • Elementos simples;
  • Cores simples e que combinam;
  • Elementos lembram um pouco da identidade. Estas cores são frequentemente utilizadas para identidades sem gênero, ou de gênero indefinido;
  • Design original, não é composto apenas por listras.

Contras:

  • Proporções podem ser um pouco difíceis de serem lembradas, já que não existem guias;
  • Cores não se destacam muito, mesmo que isso não seja um grande problema, já que a identidade em si faz referência a um conceito de “em branco”.

Enfim, meu ponto com esta postagem é: quando for fazer ou pedir para fazerem uma bandeira, lembre-se de fazer algo que pode ser desenhado facilmente no papel, e, de preferência, com cores originais a ponto de você poder desenhar algo referenciando a paleta de cores da bandeira.

Depoimentos de pessoas não-binárias  1

Edição (29/03/2021): Este texto foi escrito há bastante tempo, e portanto contém alguns equívocos nas traduções que hoje em dia eu consideraria errados, ou ao menos controversos:

  • Ainda que muita gente use “gênero feminino” e “gênero masculino” como descrições para gêneros binários, a forma mais correta de se referir a eles é apenas mulher e homem, respectivamente. Afinal, nem todas as pessoas com gêneros ou identidades feminines são mulheres, nem todas as pessoas que são mulheres estão confortáveis com serem chamadas de femininas, nem todas as pessoas com gêneros ou identidades masculines são homens e nem todas as pessoas que são homens estão confortáveis com serem chamadas de masculinas.
  • Algumas pessoas argumentam que menina só significa “pessoa jovem que usa o final de palavra a”, e que menino só significa “pessoa jovem que usa o final de palavra o”, ao invés de tais palavras serem sinônimos de mulher jovem e de homem jovem, respectivamente. Eu ainda acho que em certas circunstâncias é justificável traduzir uma palavra como demigirl como demimenina, por exemplo (escrevi mais sobre isso aqui), mas estou tentando evitar fazer isso para que não haja confusão, usando sempre homem ou mulher quando se trata de nomes de gêneros.

Peço que quem queira ler este texto (que ainda é muito relevante, considerando a pouca quantidade de pessoas descrevendo suas experiências de gênero) tenha essas coisas em mente, e não repita esses problemas.


É comum perguntarem quais são as especificações de alguém que se identifica como não-binárie. Muitas pessoas acabam generalizando, achando que a pessoa é simplesmente andrógine (tendo um gênero entre homem e mulher) ou gênero-fluido (alguém cujo gênero muda de tempos em tempos; pessoas cis geralmente acham que pessoas gênero-fluido só mudam entre serem homens e mulheres).

Há alguns meses, fiz uma pesquisa sobre pessoas não-binárias. Aqui estão algumas respostas da pergunta “como você sabe que é o gênero que é?”, separadas pelo gênero com o qual a pessoa se identifica:

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“Por que usar [y] ao invés de [x]?”  0

É muito comum haverem dúvidas – muitas vezes por parte de pessoas que querem simplificar rótulos LGBTQIAP+ por não quererem que pessoas possam definir a si mesmas, ou por parte de pessoas que querem se mostrar mais respeitáveis do que “esses aí que querem ser especiais e criam palavras novas o tempo todo” – sobre o motivo de existirem “rótulos demais”, ou “rótulos redundantes”, para definir gênero e orientação.

Seguem os motivos para tais identidades:

a) Experiências separadas

A maioria das pessoas em comunidades assexuais nunca sente atração sexual ou vontade de fazer sexo. Afinal, é por isso que vão parar em comunidades assexuais!

Portanto, é natural que certas pessoas que tenham vontade de fazer sexo, sem sentir atração sexual (cupiossexuais), ou que pessoas que às vezes sentem atração sexual (gray-assexuais e outros termos do espectro assexual), criem seus próprios termos e comunidades.

O mesmo ocorre com outras identidades. Não que todas estas derivem das outras citadas, mas:

  • Muitas pessoas poli se identificam como tal porque bi é uma orientação muitas vezes utilizada ou atribuída a quem sente atração por “ambos os gêneros”, ou ainda, por “ambos os sexos”. Uma pessoa poli pode se identificar como bi, por sentir atração por dois ou mais gêneros, mas pode preferir uma comunidade que aceite mais a existência de gêneros não-binários.
  • Muitas pessoas que se identificam como omni, mas não como pan, o fazem porque pan é uma orientação descrita muitas vezes como “atração independentemente do gênero”. Pessoas omni podem aceitar que certas pessoas pan sentem atração por todos os gêneros sem “ignorar” o gênero, enquanto podem não querer uma conotação errônea para sua orientação.
  • Uma das definições de neutrois é “um gênero separado do masculino e do feminino”. Mesmo assim, outra definição de neutrois é “um gênero completamente neutro”. Pessoas que não sentem que seu gênero é neutro podem preferir se identificar como genderqueer ou maverique, por exemplo.
  • Gênero-fluido é uma expressão que serve para qualquer pessoa cujo gênero muda, mas como pessoas podem ter experiências completamente diferentes em relação a esta fluidez, existem termos como condigênero (um gênero experienciado sob circunstâncias específicas), eafluíde (alguém que tem seu gênero fluido apenas entre gêneros não-binários), gênero-fluxo (alguém que experiencia mudanças na intensidade de gênero), fluxofluide (alguém cuja identidade muda tanto em gênero quanto em intensidade) e bigênero-fluido (alguém cujo gênero é fluido entre apenas dois gêneros), entre outros.

b) Os termos podem ter sido criados na mesma época

Às vezes, não tem a ver com algum tipo de sentimento em relação ao grupo ou em relação a outras pessoas desconsiderarem outros significados da identidade. Como a comunidade LGBTQIAP+ não é unificada, termos diferentes e parecidos podem pipocar em diferentes regiões, especialmente se não há um espaço de tempo grande o suficiente para um dos termos se espalhar.

Fica a critério de cada ume qual o termo/descrição que prefere. Mas é bom notar que estes termos normalmente são ligeiramente diferentes um do outro. Por exemplo, aporagênero e maverique são termos que surgiram mais ou menos na mesma época, e são ambos gêneros completamente separados de gêneros masculinos, femininos e/ou neutros. No entanto, a definição de maverique coloca ênfase na certeza sobre o próprio gênero e na independência pessoal de maveriques, enquanto aporagênero só é descrito como um gênero que certamente existe, mas que não é nem masculino, nem feminino, nem neutro.

c) Os termos podem ajudar pessoas a se entenderem melhor

Uma pessoa pode nunca pensar em si mesma como bissexual, mesmo que já tenha tido atrações por pessoas de vários gêneros, mas não o tempo todo. Mas tal pessoa pode acabar descobrindo o termo abrossexual, e descobrir que existe uma palavra para o que esta pessoa está sentindo! Talvez, de agora em diante, a pessoa até consiga dizer que é bissexual, para simplificar as coisas, porque já sabe que sua experiência é uma experiência multissexual válida.

Alguns outros exemplos de como isso pode acontecer:

  • Uma pessoa não se sente arromântica o suficiente e nem allorromântica o suficiente, e só consegue se entender quando descobre o termo akoirromântique.
  • Uma mulher não sente que é não-binária o suficiente, mas também sente que não é cis. Passa a se identificar como mulher não-binária ou como magimulher.
  • Um homem trans sofre com disforia e certamente sabe que não é uma mulher, se identificando como homem porque acha que não existem mais opções. Posteriormente, descobre que é neutrois.
  • Uma pessoa não consegue entender o conceito de gênero e como isso pode ser importante, mas gosta de utilizar roupas “masculinas” e por isso se identifica como homem ao invés de agênero, já que não consegue pensar em se apresentar de forma “andrógena”. Após descobrir o termo libragênero, esta pessoa descobre ser libramasculina.
  • Uma pessoa não quer se chamar de bissexual porque não possui atração por homens, mesmo que esta pessoa já tenha tido atração por pessoas agênero, maveriques e mulheres. Essa pessoa acaba se identificando como polissexual e como nãomensexual.
  • Uma pessoa pensa em si mesma como assexual, mas eventualmente sente atração sexual por alguém. A pessoa teme ter sido apenas uma fase ou uma repressão, e não sabe mais seu lugar na comunidade. Eventualmente, esta pessoa descobre que há pessoas assexuais que sentem atração com algumas condições, como pessoas gray-assexuais, demissexuais, e amicussexuais.

Existem pessoas que tentam categorizar todos os termos em “úteis” e “inúteis”, ou que tentam redefinir termos sem as comunidades que utilizam esses termos concordarem, para sua própria conveniência. Existem pessoas que tentam pintar certos termos como monossexistas, heterossexistas ou cissexistas, quando, enquanto podem ser utilizados destas maneiras, podem também ser termos úteis para quem quer descrever suas orientações.

Por exemplo, os termos heteroflexível e homoflexível podem ser monossexistas, para quem não quer se identificar como bi por pessoas bi “não conseguirem escolher um gênero logo”, ou por não quererem se associar com promiscuidade, ou por não quererem “trair” a própria orientação. Porém, são termos úteis para quem raramente sente atração em relação a certo gênero, e acha que isso não é destacado o suficiente com bi ou poli.

O termo bi também recebe reclamações de vários lados. Pessoas bi são acusadas de “apropriar” as orientações poli, pan e omni, por elas caberem na definição de “dois ou mais gêneros”, ou de afirmar com sua orientação que só existem dois gêneros. A comunidade bi, porém, se define como atração por mais de um gênero por décadas, antes mesmo de outras orientações multissexuais serem definidas.

E isso não significa que pessoas não possam preferir colocar ênfase em sua atração por muitos/todos gêneros, utilizando termos como poli, penúlti, pan e omni.

O objetivo desta postagem é mostrar que, desde que a pessoa se sinta confortável com sua identidade, não importa se outra identidade é mais simples de entender, ou mais específica para a situação. Uma pessoa pode se identificar como bi, pan e abro em diferentes situações, ou ao mesmo tempo, e isto não está errado. Uma pessoa pode só querer se identificar como não-binária e/ou como transgênero após entender exatamente como é seu gênero, e isto não está errado.

Por uma normalização da linguagem LGBTQIAP+  0

Aviso de conteúdo: Menção de violência transmisógina e de assuntos que podem evocar disforia. Intersexofobia, transfobia e ignorância em relação a identidades incomuns no geral.

Há um trabalho sério de educação a ser feito em volta da linguagem que utilizamos no dia-a-dia. Enquanto algumas pessoas – não qualquer pessoa, mas pessoas em grupos ativistas ou em universidades – já incorporam, de certa forma, a possibilidade de alguém ter um relacionamento com alguém do mesmo gênero, é bem mais raro haver a inclusão de outras identidades na linguagem do dia-a-dia.

Muites utilizam o x em redes sociais para simbolizar neutralidade, em frases como “todxs contra a violência”, mas, ao falar na vida real, utilizam “todos e todas”, como se estivessem sendo completamente inclusives por incluírem “ambos os gêneros”.

Muitas mulheres comentam que suas vidas seriam melhores se tivessem nascido com pênis, como se não houvesse uma enorme quantidade de assassinatos de mulheres trans e de outras pessoas de identidades transfemininas, por estas serem mulheres ou pessoas confundidas com mulheres que nasceram com pênis.

Muitas pessoas tratam de gravidez, de aborto e de menstruação como se fossem exclusivos de mulheres, ou deixam implícito que toda mulher conhece estas coisas, o que exclui diversas pessoas trans e intersexo.

Pessoas não-binárias não podem se apresentar e dizer seus pronomes e ter gente entendendo o que está acontecendo. E, se entendem, vão quase sempre enfrentar comentários sobre o quanto é difícil se referir a alguém com pronomes que não lhes vem à mente para a pessoa.

Pessoas de qualquer identidade mais incomum, não importa o quanto refletiram sobre serem de certa identidade, vão encontrar pessoas perguntando se possuem certeza, e se isso não é só uma vontade de querer ser especial ou de querer se encaixar, se contarem sobre sua identidade para outras pessoas.

Deveríamos ter grupos LGBTQIAP+ lutando por mais visibilidade, de formas concretas como panfletos e workshops. Isso é uma questão muito mais simples do que pautas vagas de acabar com a homofobia/transfobia, e muito mais efetiva do que declarações de repúdio ao bullying. Estas são coisas importantes também, mas não devem ser as únicas pautas que mobilizam a comunidade.