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Posts for Tag : recursos não-binários

Dica para pronomes e identidades de gênero  0

Somos treinades para reconhecer dois gêneros (homem/menino, mulher/menina) e dois pronomes pessoais retos em terceira pessoa do singular, associados a estes gêneros (ele, ela). Podem não dizer explicitamente para crianças que existem só esses dois gêneros e tipos de linguagem, mas elas acabam reconhecendo isso, via representação (não veem ninguém tratando pessoas de outro modo) e por conta do exorsexismo de cada dia (“homem ou mulher”, “ele ou ela”, “menino ou menina”, “papai e mamãe”, “gênero oposto”).

O que acontece é que então, quando descobrem pessoas não-binárias, as pessoas acabam tendo reações defensivas, conscientes (“isso não existe [porque ninguém me falou disso antes]”) ou inconscientes (errar a linguagem de uma pessoa sem querer porque normalmente se assumiria “ele” ou “ela” para tal pessoa).

Aqui vão dicas para se acostumar com pronomes (e outros tipos de linguagem) e gêneros:

Pense em pronomes como nomes.

Você conhece todos os nomes que existem? Provavelmente não. E também não é necessário conhecê-los. Mas, você provavelmente sabe nomes (ou sobrenomes, ou apelidos) das pessoas próximas a você.

Assim como você não assume que o nome das pessoas são sempre Carolina ou Paulo, pronomes variam além de ele ou ela. Caso você tenha qualquer indício de que seja um lugar seguro para isso, você pode perguntar pela linguagem de alguém, especialmente se a pessoa não termina palavras referentes à si mesma com o ou a.

Assim como você não se irrita quando alguém te corrige por você ter errado o nome de alguém, você não deve se irritar quando alguém corrige um pronome errado. Assim como você não reclama quando aprende um nome que nunca ouviu, você não deve reclamar quando ouve um pronome que nunca ouviu.

Pense em identidades de gênero como profissões.

Você conhece todas as profissões que existem? Provavelmente não. E também não é necessário conhecê-las. Mas, você provavelmente sabe as profissões das pessoas próximas a você, assim como o significado delas.

Assim como você não assume as profissões de pessoas que você não conhece, na maior parte das vezes, também não há razão para assumir os gêneros ou as identidades de gênero de pessoas que você não conhece, na maior parte das vezes. Você também provavelmente não sente a necessidade de perguntar a profissão de qualquer pessoa, e o mesmo deve servir para o gênero. Caso o assunto surja, ok! Caso contrário, não é algo essencial para várias pessoas.

Às vezes, é necessário perguntar para saber o que é certa profissão, e o mesmo serve para certos gêneros. Às vezes, você consegue entender o significado de uma profissão sem perguntar, ou ao menos parcialmente entender do que se trata. Por exemplo, alguém que sabe o que significa web e design provavelmente não vai precisar de uma definição de webdesigner. Alguém que sabe o que é turismo e o que significa o sufixo -logo deve ter alguma ideia do que faz alguém que se diz turismólogo.

O mesmo serve para gênero: alguém que conhece o prefixo tri- e o conceito de bigênero deve entender o que significa trigênero. Alguém que conhece o prefixo a- e o sufixo -gênero para gêneros não-binários deve ter uma ideia do que é uma pessoa agênero.

O mesmo até serve para orientações! Alguém que conhece os conceitos de arromântique e de bissexual deve entender o que é uma pessoa birromântica. Alguém que conhece o prefixo pan- e o sufixo –sexual deve entender que uma pessoa pansexual é atraída por pessoas de todos os gêneros.

Obviamente, isso nem sempre funciona: uma pessoa pangênero não é de todos os gêneros, uma pessoa duossexual não é necessariamente atraída por dois gêneros, e uma pessoa demirromântica não é atraída por metade dos gêneros. Porém, os nomes dão uma ideia, e, inclusive, uma associação com outras palavras já existentes que fazem com que estes conceitos sejam mais fáceis de lembrar.

Mitos e verdades sobre orientações  0

Mitos e verdades é uma série de posts que vão direto ao ponto sobre opiniões preconceituosas ou errôneas de alguma outra forma.

Mito: Pessoas que defendem que existem infinitas orientações obrigam pessoas a se encaixarem em orientações extremamente específicas
Verdade: A maioria das pessoas que defendem que existem infinitas orientações também defendem que cada pessoa tenha o direito de se identificar como queira, desde que não seja de forma preconceituosa.
Por exemplo: uma pessoa que já se apaixonou por pessoas de diversos gêneros, mas que nunca sentiu atração sexual, pode se chamar de bissexual apenas, se preferir isso a se chamar de assexual birromântica ou polirromântica. Uma mulher não-binária que apenas sente atração por mulheres e por outras mulheres não-binárias pode se chamar de lésbica, ao invés de proquassexual ou finsexual.

Mito: Pessoas bissexuais são pessoas que são atraídas apenas por gêneros binários
Verdade: Qualquer pessoa que se sente atraída por mais de um gênero pode se chamar de bi, não importa quais os gêneros ou quantos são.

Mito: Homossexual é a maneira mais formal/correta de se referir à identidade de uma pessoa gay
Verdade: Homossexual foi uma palavra muito utilizada para classificar pessoas com atração pelo mesmo gênero no meio médico. A palavra homossexualidade era listada como o nome de um transtorno psicológico nos Estados Unidos até 1973, por exemplo. Por isso, as palavras “homo” e “homossexual” são consideradas estigmatizadas, e não devem ser utilizadas para descrever pessoas que não se identificam especificamente como tal, ou para descrever a comunidade gay e lésbica num geral.
As palavras gay, lésbica, e bissexual também possuem origem em insultos ou patologizações, porém, houveram movimentos bem maiores para utilizar estas palavras em contextos não ofensivos.

Mito: Orientação sexual é baseada em sexo biológico
Verdade: Orientação sexual é baseada em gênero. Quando há atração por pessoas que são vistas na rua, tal atração não é pela genitália, que nem pode ser vista (na maior parte das vezes). Muito menos é pela quantidade de hormônios ou pelos cromossomos de alguém.
Enquanto pessoas podem ter certo nojo de fazer sexo com alguém com certos tipos de genitália, muitas vezes é mais pela associação da genitália com um certo gênero do que pela genitália em si. É claro que tal repulsa deve ser respeitada, mas ela não existe até que a pessoa tira a roupa.

Mito: Pessoas cetero são simplesmente pessoas gay
Verdade: Pessoas cetero são pessoas não-binárias que sentem atração apenas por outras pessoas não-binárias. Porém, existe uma infinidade de gêneros não-binários; existem pessoas agênero, pessoas poligênero, maveriques, andrógines, pessoas gênero-fluxo, pessoas gênero-estrela, magimeninos, juxeras, pessoas gênero-cinza, pessoas gênero-vago… enfim. Vários destes gêneros são muito diferentes uns dos outros, mesmo que todos sejam não-binários.
Pessoas cetero podem se identificar como gay, dependendo da situação… mas é importante saber que cetero não é uma substituição eficiente para “pessoa gay não-binária”.

Mito: Homens são gays, mulheres são lésbicas
Verdade: Originalmente, realmente era assim. Porém, o tempo passou, e agora gay é uma palavra que pode ser utilizada por pessoas de qualquer gênero que se identificam como tal.

Mito: Qualquer relação entre gêneros diferentes é hétero
Verdade: Além dessa suposição ser danosa para pessoas multi no geral, ela também é ruim para pessoas em relações diamóricas; ou seja, relações envolvendo no mínimo uma pessoa não-binária. Relações diamóricas podem “parecer hétero” em certos casos, e “parecer gay” em outros. Porém, muitas vezes, tais descrições desconsideram totalmente o gênero das pessoas não-binárias envolvidas em tal relação. Pessoas não-binárias não são um coringa que servem para ser o mesmo gênero de sues companheires, e nem pessoas que devem ter seu gênero desconsiderado por não parecerem gay ou trans o suficiente.

Mito: Novos termos para orientações vêm de fora da comunidade LGBTQIAP+
Verdade: Normalmente, novos termos possuem origem em comunidades LGBTQIAP+ já existentes, para melhor definir certos grupos. Por exemplo: a comunidade assexual veio da comunidade bissexual, já que um nível de atração igual em relação a todos os gêneros é uma característica assexual, mesmo que tal nível de atração seja zero. A comunidade arromântica veio da comunidade assexual, onde se discutiu sobre pessoas assexuais terem atração romântica de formas diferentes umas das outras. As comunidades polissexual e pansexual provavelmente vieram da comunidade bissexual, quando houve a necessidade para termos que não parecem se referir ao binário de gênero.

O que você pode fazer para não alienar pessoas não-binárias  0

Por impulso ou preconceito, pessoas acabam escolhendo expressões que alienam ou que podem causar desconforto a pessoas não-binárias. Veja aqui algumas substituições mais adequadas para elas.

Em situação de alguém se apresentando com neolinguagem (como ed/eld/e ou -/ile/e):

Evitar:Isso é muito novo e difícil pra mim, então vou errar bastante“, ou “não posso usar (insira outra linguagem aqui)?

Tentar: “Vou tentar respeitar isso ao máximo da minha capacidade“, “vou anotar para não esquecer“, “posso ter alguns exemplos de como sua linguagem é utilizada, pra fixar melhor?“, ou formar alguma frase com a linguagem da pessoa para ter certeza de que entendeu.

Em situação de não ser oferecida uma opção para pessoas não-binárias escolherem em alguma situação que precisa de gênero:

Evitar: “Isso é muito novo ainda, vai demorar para alguém levar a sério“, “apenas escolha o que corresponde com seu sexo biológico“, ou “apenas escolha (insira gênero pelo qual a pessoa passa aqui)“.

Tentar: “Vou ver se consigo outra opção para você“, “tem algum destes grupos que você acha menos pior de ser encaixade?“, “você pode não preencher/participar desta parte se você quiser“.

Em situação de errar a linguagem da pessoa:

Evitar:Desculpe, é que é tão difícil!“, ou “é que nunca vou me acostumar com essas coisas“.

Tentar:Desculpe, acho que esqueci do que você usa ao invés de (palavra errada)” ou corrigir na hora a palavra errada (“ele– uh, éli“, por exemplo).

Em situação de não se lembrar da linguagem ou do gênero da pessoa:

Evitar: Chutar qualquer palavra e torcer para que não esteja errado/para que a pessoa não note, ou reclamar que é algo muito difícil de lembrar.

Tentar: Perguntar para a pessoa ou para pessoas próximas qual é a linguagem certa ou o gênero certo.

Em situação de não saber o que significa o gênero da pessoa, ou de recém aprender o que ele significa:

Evitar:Como isso é possível?“, “isso existe mesmo?“, “por que você escolheu se identificar desta forma?“, “mas todo mundo é meio assim!“, “pra quê se rotular assim?

Tentar:Você se sente à vontade para explicar o que é?“, “não sabia que isso existia, legal poder aprender!“, escutar sem falar nada para contestar, mesmo que não tenha conseguido entender direito, e depois procurar mais na internet, caso realmente queira aprender.

Depoimentos de pessoas não-binárias  1

Edição (29/03/2021): Este texto foi escrito há bastante tempo, e portanto contém alguns equívocos nas traduções que hoje em dia eu consideraria errados, ou ao menos controversos:

  • Ainda que muita gente use “gênero feminino” e “gênero masculino” como descrições para gêneros binários, a forma mais correta de se referir a eles é apenas mulher e homem, respectivamente. Afinal, nem todas as pessoas com gêneros ou identidades feminines são mulheres, nem todas as pessoas que são mulheres estão confortáveis com serem chamadas de femininas, nem todas as pessoas com gêneros ou identidades masculines são homens e nem todas as pessoas que são homens estão confortáveis com serem chamadas de masculinas.
  • Algumas pessoas argumentam que menina só significa “pessoa jovem que usa o final de palavra a”, e que menino só significa “pessoa jovem que usa o final de palavra o”, ao invés de tais palavras serem sinônimos de mulher jovem e de homem jovem, respectivamente. Eu ainda acho que em certas circunstâncias é justificável traduzir uma palavra como demigirl como demimenina, por exemplo (escrevi mais sobre isso aqui), mas estou tentando evitar fazer isso para que não haja confusão, usando sempre homem ou mulher quando se trata de nomes de gêneros.

Peço que quem queira ler este texto (que ainda é muito relevante, considerando a pouca quantidade de pessoas descrevendo suas experiências de gênero) tenha essas coisas em mente, e não repita esses problemas.


É comum perguntarem quais são as especificações de alguém que se identifica como não-binárie. Muitas pessoas acabam generalizando, achando que a pessoa é simplesmente andrógine (tendo um gênero entre homem e mulher) ou gênero-fluido (alguém cujo gênero muda de tempos em tempos; pessoas cis geralmente acham que pessoas gênero-fluido só mudam entre serem homens e mulheres).

Há alguns meses, fiz uma pesquisa sobre pessoas não-binárias. Aqui estão algumas respostas da pergunta “como você sabe que é o gênero que é?”, separadas pelo gênero com o qual a pessoa se identifica:

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Duplo vínculo aplicado a identidades não-binárias  0

Duplo vínculo – muitas vezes conhecido como catch-22 (ardil-22) – é uma expressão que se refere a situações nas quais não existem boas alternativas para quem está envolvide. Neste texto, me refiro ao que acontece com pessoas não-binárias por minha própria experiência, mas vários destes itens também se referem a experiências de pessoas trans em geral.

Em um duplo vínculo, existem duas proposições. Uma pessoa que passa em uma inevitavelmente falha na outra, porém. É um dos jeitos que nossa sociedade cissexista e exorsexista desencoraja pessoas a experimentarem e se identificarem com identidades não-cis. Aqui estão alguns exemplos:

Quem usa roupas de acordo com o próprio gênero acha que gênero é só sobre roupas;
Quem não usa roupas de acordo com o próprio gênero está mentindo sobre seu gênero, já que não o leva a sério o suficiente para investir em um visual correspondente.

Quem utiliza pronomes ele ou ela na verdade é um homem binário ou uma mulher binária, respectivamente;
Quem utiliza outros pronomes está dificultando as coisas desnecessariamente, e só quer ser especial, sem querer levar a própria identidade a sério.

Quem tenta agir como sua identidade de gênero está reforçando estereótipos, e deixando implícito que gêneros são apenas compostos por estereótipos;
Quem não age como um estereótipo não está oferecendo justificativas suficientes para que acreditem em sua identidade de gênero.

Quem não mostra sinais de que sempre foi do gênero que diz ser está deixando de se identificar como cis por modinha/impulso;
Quem mostra sinais de que sempre foi do gênero que diz ser está se forçando a identificar com um certo gênero apenas para encaixar comportamentos passados que na verdade possuem outras justificativas.

Quem tem identidades de gênero que possuem conotação ligada à gêneros binários, como demimulher e homem agênero, na verdade é de tais gêneros binários;
Quem tem identidades de gênero que não são ligadas a gêneros binários, como eafluide ou maverique, não entende o que é gênero de verdade, ou está só inventando moda.

Quem usa um rótulo genérico, como não-binárie, não sabe do que está falando e só diz isso por não entender de gênero;
Quem usa uma identidade mais específica, como magineutrois nanoandrógine, está querendo ser especial, ou está tentando se esforçar demais em relação a “achar caixinhas” para sua identidade de gênero.

Pessoas que querem ir atrás de hormônios, terapias e cirurgias para se sentirem mais à vontade com seu corpo na verdade são pessoas trans binárias;
Pessoas que não querem ir atrás de hormônios, terapias e cirurgias por acharem que não é necessário, ou porque acham que as opções disponíveis não são adequadas para seu gênero, não são pessoas trans de verdade, porque não querem tomar riscos com seu corpo.

Pessoas que descobrem sua identidade quando mais novas estão muito novas para saber o que estão dizendo;
Pessoas que descobrem sua identidade quando mais velhas estão mentindo, porque passaram muito tempo sem se identificar de certo modo.

Certas pessoas não-binárias são tratadas como “basicamente pessoas trans binárias”, enquanto outras são tratadas como “basicamente pessoas cis”.

É importante ressaltar que pessoas não-binárias podem ser de qualquer idade, raça, gênero designado ou neurotipo, dentre outras características. Uma pessoa pode ter seu gênero influenciado por características como ser autista, otherkin, intersexo, ou sobrevivente de trauma, porque estas experiências e percepções podem influenciar uma identidade de gênero de forma única, de modo que a identidade de gênero da pessoa não pode ser separada de suas outras identidades e experiências.

Além disso, ninguém precisa ser cis para ser GNC (gender non-conforming; alguém cuja expressão de gênero não é típica para seu gênero). Uma pessoa que é andrógine pode preferir se apresentar de forma feminina, e ume demimulher pode preferir se apresentar de forma masculina. Isso não anula os próprios gêneros destas pessoas. Ser uma pessoa com interesses e expressões mais femininas ou mais masculinas não anula o gênero com o qual uma pessoa se identifica, mesmo que este seja não-binário.

(Obviamente, ume demimulher pode considerar que seus visuais mais masculinos na verdade são a forma pela qual elu expressa seu gênero, e ume andrógine pode expressar seu gênero por meio de vestidos e maquiagem. Isso varia entre pessoas não-binárias, mesmo entre as pessoas de um mesmo gênero.)

Cada pessoa tem seus motivos para dizer ser de uma certa identidade, e não é o papel de alguém de fora, que nem tem como saber de tudo pelo que a pessoa passou, dizer que a identidade de alguém está incorreta (a não ser que seja intrinsecamente problemática, como uma pessoa dizer que é de algum gênero não pertencente à suas experiências de vida). E ninguém deve ter que justificar o quanto sua identidade de gênero é válida, tendo que contar sobre momentos privados da infância, pensamentos particulares da adolescência, e desejos para o futuro. Muito menos se ainda vai ter um julgamento para dizer que tais experiências e desejos não são o suficiente.

Se qualquer tipo de experiência não-binária é um incômodo e não parece certa, não são as pessoas não-binárias que estão erradas. Pessoas que estão seguras sobre a própria identidade com certeza possuem mais experiência do que alguém que sente insegurança em relação à existência de algo novo.

Mitos e verdades sobre pessoas não-binárias  9

Mitos e verdades é uma série de posts que vão direto ao ponto sobre opiniões preconceituosas ou errôneas de alguma outra forma.

Mito: Pessoas não-binárias não devem ser consideradas transgênero
Verdade: Algumas pessoas não-binárias não acham que transgênero é uma palavra adequada para suas experiências, mas várias pessoas não-binárias se identificam como pessoas trans.

Mito: Pessoas não-binárias utilizam o pronome elx
Verdade: Enquanto pessoas não-binárias podem utilizar o pronome elx, pessoas não-binárias também podem utilizar ile, elu, eld, entre outros, ou até mesmo ele ou ela, ou ainda, podem não se importar com qual pronome é utilizado. Depende da preferência de cada pessoa.

Mito: Linguagem neutra envolve terminar tudo com x ou com y
Verdade: Linguagem verdadeiramente neutra em relação a pessoas deve fazer com que todas as pessoas sejam inclusas, sejam pessoas não-binárias, homens ou mulheres. Não adianta dizer “todxs somos lutadores”, porque lutadores está na linguagem considerada masculina, o que anula a neutralidade da frase. “Todxs xs organizações” também é desnecessário, porque organizações é uma palavra que pede a/ela/a.
Também é preferencial utlilizar termos neutros mais pronunciáveis, como aquelus ou todes, ao invés de aquelxs ou todxs.

Mito: Pessoas não-binárias estão inventando gêneros para parecerem especiais
Verdade: Pessoas não-binárias muitas vezes precisam criar novas palavras para se descreverem, porque as existentes não são suficientes. Pessoas não-binárias muitas vezes não dizem que são não-binárias, ou não especificam seus gêneros, por causa de todo o preconceito e da possibilidade de isolamento e violência que envolve ser uma pessoa transgênero ou não-binária. Ser não-binárie não é uma fonte de popularidade ou de respeito, muito pelo contrário; não há porque adotar uma identidade não-binária por “modinha”.

Mito: Pessoas não-binárias só ligam para roupas, não sentem disforia e nem fazem nenhum tipo de transição que seja permanente
Verdade: Algumas pessoas não-binárias não possuem interesse em transição, porque a tecnologia atual não é o suficiente, por causa de problemas de saúde, por causa de problemas financeiros, e/ou por causa de falta de apoio de pessoas próximas, entre outros motivos. Porém, várias pessoas não-binárias sofrem disforia, e muitas fazem transição, tomando hormônios, fazendo cirurgia para remover peitos ou ter uma face considerada mais feminina, entre outras coisas.

Mito: Gêneros não-binários foram uma invenção recente
Verdade: Várias palavras que descrevem gêneros não-binários são datadas da década de 90 (por exemplo: gênero-fluido, neutrois), e algumas pessoas já se descreviam como andrógines no fim do século XIX e no início do século XX. O título neutro Mx, que poderia ser traduzido como Sre. (senhore) em português, foi utilizado em via impressa pela primeira vez em 1977. Também é uma boa ideia lembrar de que a ideia de só haverem dois gêneros não é universal; certas culturas não dividiam dois gêneros desta forma, e outras possuem ou possuíam de 3 a 6 gêneros. Pessoas de tais culturas que possuem gêneros incompatíveis com o binário homem/mulher de atualmente certamente não são cis, mas possuem o direito de escolher se querem ou não se rotular como pessoas transgênero e/ou não-binárias.

Mito: A palavra cisgênero nasceu em redes sociais
Verdade: A palavra cisgênero foi inventada em 1995 por um homem trans.

Mito: Pronomes neutros foram inventados em redes sociais
Verdade: Talvez isso até seja verdade em português, mas ao menos em inglês, existem neopronomes neutros (ou seja, que não são they ou it) datados de 1789 (ou), 1858 (thon), 1884 (ip, le), 1888 (ir), 1890 (e), 1970 (co), 1975 (ey), 1977 (em), 1979 (et) e 1982 (hu), entre outros.

Mito: Pessoas não-binárias são só adolescentes que ficam na internet o dia todo e que não sabem como o mundo real funciona
Verdade: Pessoas não-binárias podem ter diversas idades, e embora muitas utilizem a internet como principal meio de interação e expressão, parte disso é causado pela repressão que identidades incomuns sofrem no mundo real. Cissexismo e exorsexismo são algo real, e é por isso que muita gente só tem coragem de dizer que é não-binárie em redes sociais.

Mito: Pessoas intersexo são biologicamente não-binárias
Verdade: Enquanto pessoas intersexo são intersexo por não se encaixarem em categorias biológicas de “sexo masculino” ou de “sexo feminino”, são raros os casos onde uma pessoa intersexo não é categorizada como um gênero binário ao nascimento. Uma mulher intersexo que foi designada como menina ao nascimento não é trans; uma pessoa não-binária que é intersexo não é cis. Tentar relacionar possibilidades de características sexuais primárias e secundárias com gêneros não-binários também é cissexista e diadista.

Fonte das questões históricas: http://nonbinary.org/wiki/History_of_nonbinary_gender