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Mitos e verdades sobre pessoas não-binárias

Mitos e verdades é uma série de posts que vão direto ao ponto sobre opiniões preconceituosas ou errôneas de alguma outra forma.

Mito: Pessoas não-binárias não devem ser consideradas transgênero
Verdade: Algumas pessoas não-binárias não acham que transgênero é uma palavra adequada para suas experiências, mas várias pessoas não-binárias se identificam como pessoas trans.

Mito: Pessoas não-binárias utilizam o pronome elx
Verdade: Enquanto pessoas não-binárias podem utilizar o pronome elx, pessoas não-binárias também podem utilizar ile, elu, eld, entre outros, ou até mesmo ele ou ela, ou ainda, podem não se importar com qual pronome é utilizado. Depende da preferência de cada pessoa.

Mito: Linguagem neutra envolve terminar tudo com x ou com y
Verdade: Linguagem verdadeiramente neutra em relação a pessoas deve fazer com que todas as pessoas sejam inclusas, sejam pessoas não-binárias, homens ou mulheres. Não adianta dizer “todxs somos lutadores”, porque lutadores está na linguagem considerada masculina, o que anula a neutralidade da frase. “Todxs xs organizações” também é desnecessário, porque organizações é uma palavra que pede a/ela/a.
Também é preferencial utlilizar termos neutros mais pronunciáveis, como aquelus ou todes, ao invés de aquelxs ou todxs.

Mito: Pessoas não-binárias estão inventando gêneros para parecerem especiais
Verdade: Pessoas não-binárias muitas vezes precisam criar novas palavras para se descreverem, porque as existentes não são suficientes. Pessoas não-binárias muitas vezes não dizem que são não-binárias, ou não especificam seus gêneros, por causa de todo o preconceito e da possibilidade de isolamento e violência que envolve ser uma pessoa transgênero ou não-binária. Ser não-binárie não é uma fonte de popularidade ou de respeito, muito pelo contrário; não há porque adotar uma identidade não-binária por “modinha”.

Mito: Pessoas não-binárias só ligam para roupas, não sentem disforia e nem fazem nenhum tipo de transição que seja permanente
Verdade: Algumas pessoas não-binárias não possuem interesse em transição, porque a tecnologia atual não é o suficiente, por causa de problemas de saúde, por causa de problemas financeiros, e/ou por causa de falta de apoio de pessoas próximas, entre outros motivos. Porém, várias pessoas não-binárias sofrem disforia, e muitas fazem transição, tomando hormônios, fazendo cirurgia para remover peitos ou ter uma face considerada mais feminina, entre outras coisas.

Mito: Gêneros não-binários foram uma invenção recente
Verdade: Várias palavras que descrevem gêneros não-binários são datadas da década de 90 (por exemplo: gênero-fluido, neutrois), e algumas pessoas já se descreviam como andrógines no fim do século XIX e no início do século XX. O título neutro Mx, que poderia ser traduzido como Sre. (senhore) em português, foi utilizado em via impressa pela primeira vez em 1977. Também é uma boa ideia lembrar de que a ideia de só haverem dois gêneros não é universal; certas culturas não dividiam dois gêneros desta forma, e outras possuem ou possuíam de 3 a 6 gêneros. Pessoas de tais culturas que possuem gêneros incompatíveis com o binário homem/mulher de atualmente certamente não são cis, mas possuem o direito de escolher se querem ou não se rotular como pessoas transgênero e/ou não-binárias.

Mito: A palavra cisgênero nasceu em redes sociais
Verdade: A palavra cisgênero foi inventada em 1995 por um homem trans.

Mito: Pronomes neutros foram inventados em redes sociais
Verdade: Talvez isso até seja verdade em português, mas ao menos em inglês, existem neopronomes neutros (ou seja, que não são they ou it) datados de 1789 (ou), 1858 (thon), 1884 (ip, le), 1888 (ir), 1890 (e), 1970 (co), 1975 (ey), 1977 (em), 1979 (et) e 1982 (hu), entre outros.

Mito: Pessoas não-binárias são só adolescentes que ficam na internet o dia todo e que não sabem como o mundo real funciona
Verdade: Pessoas não-binárias podem ter diversas idades, e embora muitas utilizem a internet como principal meio de interação e expressão, parte disso é causado pela repressão que identidades incomuns sofrem no mundo real. Cissexismo e exorsexismo são algo real, e é por isso que muita gente só tem coragem de dizer que é não-binárie em redes sociais.

Mito: Pessoas intersexo são biologicamente não-binárias
Verdade: Enquanto pessoas intersexo são intersexo por não se encaixarem em categorias biológicas de “sexo masculino” ou de “sexo feminino”, são raros os casos onde uma pessoa intersexo não é categorizada como um gênero binário ao nascimento. Uma mulher intersexo que foi designada como menina ao nascimento não é trans; uma pessoa não-binária que é intersexo não é cis. Tentar relacionar possibilidades de características sexuais primárias e secundárias com gêneros não-binários também é cissexista e diadista.

Fonte das questões históricas: http://nonbinary.org/wiki/History_of_nonbinary_gender

7 Comments

me descobri recentemente não-binária mas namoro uma mulher cisgênero, e estou insegura em relação ao sexo,se puder me dar um conselho… obrigada!


Aster says:

Hm, como assim em relação ao sexo?

Se você tem medo que sua namorada perca a atração sexual ao saber que você é não-binária, não há muito o que fazer… é uma questão complicada, e você pode não dizer que é NB se quiser, mas acho que não é muito legal você ter que esconder isso durante o relacionamento inteiro.

Também não é porque alguém é cis que não pode sentir atração por pessoas não-binárias. É possível sentir atração por mulheres e por pessoas não-binárias, sentindo atração por homens ou não.

Se for em relação a fazer sexo tendo disforia, você pode explicar que não quer fazer certas coisas, mesmo sem explicar a questão de gênero.

Se for em relação a não ter disforia durante sexo, você não precisa se preocupar, não é menos não-binária por isso.

Desculpe se não toquei no ponto que você queria, seu pedido foi meio vago.


memel says:

olá. Recentemente, uma pessoa próxima de mim se descobriu não-binária e isso me fez pesquisar mais sobre esse tipo de identificação. Eu queria saber sobre os relacionamentos com essas pessoas: mulheres que se relacionam com outras mulheres são lésbicas; se uma mulher se relaciona com alguém de gênero não-binário, do sexo feminino ou masculino, essas relações tem um nome especial?


Aster says:

Temos uma lista de termos juvélicos (que são os termos corretos para se referir a atrações ou relacionamentos individuais) em https://orientando.org/listas/lista-de-termos-juvelicos/, e uma lista de orientações em https://orientando.org/listas/lista-de-orientacoes/.

Respondendo a pergunta: um relacionamento entre uma pessoa não-binária e qualquer outra é diamórico; um relacionamento entre pessoas não-binárias é enebeano; um relacionamento entre uma pessoa não-binária e uma mulher é trízico; um relacionamento entre uma pessoa não-binária e um homem é dórico. Estes termos não são equivalentes a gay, lésbica e hétero, e sim a aquileano, sáfica e duárique (caso você não entenda do que estou falando, confira a lista de termos juvélicos).

Quanto a orientações: uma pessoa não-binária atraída apenas por mulheres é feminamórica. Uma pessoa não-binária atraída apenas por homens é viramórica. Uma pessoa não-binária atraída apenas por outras pessoas não-binárias é cetero ou medisso. Estas são orientações mais equivalentes a gay, lésbica ou hétero.

Não existem termos para pessoas binárias atraídas somente por pessoas não-binárias que são aceitos, por preocupações com fetichização. Porém, pessoas LGBTQIAPN+ atraídas por pessoas não-binárias (exclusivamente ou não) podem se dizer embináricas, sendo que mulheres em tal situação podem se dizer asterianas e homens e tal situação podem se dizer astroidianos.

Peço que não envolva a corporalidade (“sexo biológico”) em questões de gênero ou orientação sexual. Considerar gêneros designados ao nascimento e corporalidades em rótulos de atração é cissexista (contra pessoas cisdissidentes, como pessoas trans) e diadista (contra pessoas intersexo).


noah says:

olá, eu me descobri ser gênero fluído e gay, mas estou gostando de um garoto hetero, nós podemos ficar juntos?


Aster says:

Assim, se duas pessoas quiserem ficar juntas, não faz sentido dizer que isso não é possível por conta da orientação que alguém diz ter. Se há atração no relacionamento, isso é uma coisa a ser discutida entre vocês, mas mesmo relacionamentos sem atração ou sem atração constante são possíveis (ainda que nem sempre desejados).

Agora, é importante avaliar se a situação é mesmo a que parece ser. Se uma pessoa hétero (ou que se diz atraída por um gênero só em geral) diz sentir atração por alguém não-binárie, é possível que a pessoa esteja sendo cissexista: ou por não considerar que a pessoa possa ser realmente considerada alguém que não é do gênero que “parece ser” de acordo com a pessoa hétero, ou por não considerar que a atração por uma pessoa trans ou não-binária de certo gênero designado “conte” para que a pessoa se diga bi, multi, heteroflexível ou afins.

Acima de discutir rótulos, é fundamental discutir o que cada pessoa espera do relacionamento, e se há respeito entre os limites de todas as partes envolvidas.


Observador says:

Depende do que eu chamo complementariedade! Com 56 anos, cisgenero e gay, comecei fluidamente a transar com então hetero, casado e com 59 anos! Nossa 1a.vez me lembro que ele nem fez alarde dos pelos e começou a me penetrar com certa ereção em curso! Fazia uns 5 anos que a esposa dele teve aquela “congelada” (deixando de transar) e ele nem pensou em buscar mulher. Começar um relacionamento do zero! Quando comecei a elogiar nosso “papo cabeça” mesmo sem falarmos de sexualidade, percebemos que poderíamos ter intimidades! Paqueramos algumas vezes por telefone, sem pudor nos elogiamos, incluindo o corpo, até confidenciou maroto que numa dessas conversas, pensou consigo “essa voz grossa me satisfaz recebendo penetracao”, percebi ele se “achando” e maroto eu disse que ereção gostosa ele alcança comigo! E encaramos numa boa o clima sexual que temos!!!


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