Posts for : janeiro 2017
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Como uma identidade é formada? 0
A resposta para esta pergunta varia de acordo com cada pessoa.
Com certeza existem instituições pesquisando o que forma o gênero ou a atração. Mas, convenhamos: isso não importa. A única coisa que vai acontecer serão testes que invalidarão as identidades de pessoas que não se encaixarem no critério adequado. E, se o motivo for genes, esterilização forçada será uma possibilidade.
Enfim, a comunidade LGBTQIAP+ precisa parar de se distanciar de pessoas que formam suas identidades de forma diferente. Assimilação tem sua parte nisso, mas outros fatores também.
Algumas pessoas possuem atração fluida. Isso significa que podem sentir atração por gêneros diferentes – ou por gênero nenhum – em períodos de tempo diferentes.
Às vezes, pessoas conhecem identidades como gênero-fluido e suas variações, mas raramente são encontradas pessoas que conhecem orientações como bifluxo, abro e duo.
(A mensagem aqui é: parem de falar como se todas as pessoas nascessem com certa atração ou falta de atração e mantessem ela pela vida toda! Parem de falar que fluidez não existe, que é só uma incerteza!)
Poucas pessoas também conhecem omnigay, uma identidade que pode ser utilizada tanto como gênero quanto como orientação. Uma pessoa omnigay é basicamente uma pessoa de gênero-fluido que é sempre atraída pelo mesmo gênero que o seu; uma pessoa que é atraída por homens quando é homem, por mulheres quando é mulher, etc.
Omnigay é uma identidade que pode ser tanto gênero quanto orientação. Muitas pessoas desta identidade não sabem identificar se mudam seu gênero por causa de sua atração ou se mudam sua atração por causa de seu gênero.
(A mensagem aqui é: Parem de falar como se orientação e gênero fossem sempre identidades completamente separadas! Para muitas pessoas, essas identidades estão ligadas! É bom saber que existem diferenças, e que gênero geralmente não deixa certa orientação implícita, mas muita gente sente conexão entre uma coisa e outra, e identidades como omnigay deixam estes dois conceitos inseparáveis!)
Algumas pessoas se preocupam com a suposta heteronormatividade das comunidades trans e não-binárias. Afinal, e se uma pessoa bissexual gênero-fluido está só “criando uma desculpa” para sempre ter “privilégio hétero”, se ela é sempre homem quando está com parceiras mulheres e mulher quando está com parceiros homens?
Em primeiro lugar, sua orientação já será questionada por estar tanto com mulheres quanto com homens. Pessoas bi não deixam de ser bi se estão em relacionamentos.
Em segundo lugar, mesmo que a heteronormatividade seja um fator que contribua com estas mudanças – algo que não é impossível – a pessoa ainda é gênero-fluido. A pessoa ainda pode se identificar como transgênero e/ou não-binária, e ainda sofre com cissexismo e exorsexismo.
Em terceiro lugar, ao invés de fazer a pessoa se sentir mal por “contribuir com a heteronormatividade” (o que não acontece por razões acima, fora que pessoas cis e hétero raramente acham isso uma solução desejável para pessoas gays/lésbicas), que tal aceitá-la como é na comunidade, onde ela poderá ter outras pessoas não-hétero por perto e aprender mais sobre sua identidade?
Por falar em fatores que contribuem com mudanças: já sabemos que tanto gênero quanto orientação podem ser mutáveis, certo? E gênero geralmente é construído em relação aos gêneros de outras pessoas, e em relação a experiências diversas. Algumas destas experiências podem mudar completamente a identidade de alguém, ou influenciá-la desde o início de sua formação.
(A mensagem aqui é: Parem de falar como se orientação e gênero fossem sempre identidades com as quais a pessoa nasce/”sempre soube”! Parem de falar como se pessoas cujas identidades possuem influência externa fossem inválidas!)
Tanto orientação quanto gênero podem ter a ver com experiências em cultura diferente, neurodivergência, intersexualidade, trauma, kin, disforia, religião, experiências diferenciadas na infância, entre muitos outros fatores.
Não, uma pessoa que se diz arromântica por causa de neurodivergência ou agênero por causa de trauma não precisa ser “curada”.
Não, uma pessoa que diz que seu gênero tem a ver com certa estética (espaço, cores, etc.) ou com ser intersexo não está confusa ou mentindo.
E também não é necessário ter medo de alguém que escolhe não ser cis ou hétero, porque a pessoa não tem nada a ganhar da sociedade com esta escolha. Se é mais alguém que quer quebrar padrões, que aceita as consequências envolvidas, e a pessoa não vai pisar no dedão de ninguém enquanto isso, que se junte ao barco.
Libertação x Cissexismo 0
Existem dois extremos em relação a como tratar gêneros.
Um deles é o cissexista: só existem dois gêneros, determinados por dois sexos, que supostamente causam também certas escolhas em comportamento e apresentação. Cada um desses gêneros possui uma linguagem associada a tal (o/ele/o para homens e a/ela/a para mulheres).
O outro é supostamente libertador e vanguardista: a ideia de que gênero não existe e não deveria ser levado em consideração, de que pessoas deveriam utilizar qualquer pronome e roupa porque nada dita o gênero de alguém. De que deveríamos ser uma sociedade pós-gênero.
Enquanto esta segunda opção é tentadora para várias pessoas não-binárias, ela também é desrespeitosa com várias pessoas não-cis, e ignora a realidade em que vivemos. Ela também reproduz partes do cissexismo, dependendo de como é tratada.
Caso você queira se identificar como alguém que vai além de gênero – seja como pomogênero, pangênero, sem gênero ou sem rótulos – você pode fazer isso pessoalmente. Caso você queira aceitar qualquer tipo de linguagem e usar qualquer tipo de roupa, você também pode fazer isso.
Porém, você não pode forçar pessoas a agir desta forma, ou fazê-las se sentirem culpadas por perpetuarem estereótipos de gênero, quando estas pessoas também são vítimas do cissexismo.
Uma pessoa gênero-estrela que enfrenta forte disforia social e não aguenta mais escolher entre ser chamada de “ela” ou “ele” não deveria ter que se sentir culpada por buscar um visual ambíguo e insistir em linguagem alternativa.
Uma mulher trans que tem medo de andar na rua e sofrer violência por parecer “homem vestido de mulher” não deveria ser culpada por “perpetuar estereótipos femininos” como se depilar e usar maquiagem e roupas vistas pela sociedade como femininas, para parecer menos com o que a sociedade enxerga como homem e se sentir mais segura.
Uma pessoa transmasculina que tem sua identidade constantemente invalidada por sua família e escola tem o direito de se sentir braba com pessoas que acham que essa pessoa deveria aceitar usar qualquer pronome e qualquer roupa, já que tecnicamente essas coisas não possuem gênero.
Uma pessoa dois-espíritos não deveria ter que encontrar pessoas dizendo que gênero e rótulos relacionados a gênero não importam e deveriam sumir.
Não, você não pode olhar para uma pessoa e decidir sua linguagem, seu gênero, e se essa pessoa é trans ou cis ou não. Mas só agir como se gênero e linguagem não tivesse significado nenhum – especialmente quando isso é direcionado a pessoas não-cis – só isola pessoas que possuem a coragem de explorar e de se identificar com gêneros que a sociedade cissexista e exorsexista diz que não podem. E tem pouco efeito em uma população cis que pode justificar seu gênero de acordo com uma lógica cissexista, sexista e diadista.