Um espaço de aprendizagem

Termos de identidades de gênero que remetem à infância

Bandeiras barnean, fleurlingen, gênero-menino, gênero-menina, emboyinmaic e gênero-fofo.

Aviso de conteúdo: A introdução desta postagem e o segundo parágrafo do primeiro item mencionam brevemente pedofilia e abuso sexual de menores de idade. Não há exemplos ou detalhes gráficos, mas quem preferir pode querer pular tais seções.


 

O tema do último Rodízio NHINCQ+ foi infância, então tive a ideia de fazer uma postagem reunindo termos para identidades não-binárias que remetem ao assunto. Infelizmente, não a terminei dentro do prazo, mas ainda assim quis terminar e postar.

Por ser uma forma de trollagem popular, quero ressaltar que identidades de gênero de qualquer tipo não são justificativas para realizar quaisquer ações abusivas. Alguém com uma identidade de gênero relacionada a ser criança não necessariamente tem atração por crianças e, independentemente disso, não pode usar sua identidade como desculpa para tentar ter qualquer relação inapropriada com menores de idade. Pessoas dizendo que quaisquer facetas de suas identidades dão algum tipo de permissão para cometer abuso e/ou violência contra outres com menos poder e ter isso respeitado estão ou querendo se aproveitar de pessoas desinformadas ou tentando se aproveitar de pânico moral para virar grupos de pessoas contra pessoas marginalizadas.

Enfim, aqui estão alguns termos que podem ser usados por pessoas de quaisquer idade para descrever que seus gêneros passam sensações de características relacionadas com ser criança. A maioria deles são xenogêneros, então recomendo entender o conceito antes de ler as definições nesta página.

 

Impulgênero

Este termo descreve um gênero que passa a impressão de ser bastante infantil, ativo e/ou impulsivo.

Ele foi provavelmente cunhado entre 2015 e 2017 como kindergender. Infelizmente, o mesmo termo foi usado para uma campanha do 4chan tentando associar o termo com pedofilia (inventando um novo significado de forma que fazia parecer ser um termo usado para pedófiles justificarem ter relações com menores de idade por “se identificarem como crianças”), e assim criar sentimentos anti-inclusão contra pessoas LGBTQIAPN+ em geral, contra pessoas cisdissidentes em geral, contra pessoas não-binárias e/ou contra pessoas xenogênero e sues aliades.

Por conta disso, lesbiancrocker no Tumblr sugeriu o termo impulgender para descrever este gênero. É o termo que recomendo, já que muito mais pessoas ouviram falar do significado troll do termo original e portanto provavelmente presumiriam o pior de alguém se dizendo kindergênero.

 

Gênero-fofo (detalhes aqui)

Este termo pode descrever:

  1. Alguém cujo gênero é baseado em fofura;
  2. Alguém cujo gênero é caracterizado por algo fofo (ou, ao menos, fofo para a pessoa com este gênero).

Como muitas vezes pessoas veem crianças como “fofas”, este é um termo que pode acabar sendo recomendado para pessoas que percebem uma sensação de infantilidade em sua identidade de gênero. Nem toda pessoa pode ver a fofura de seu gênero como relacionada a estéticas infantis, mas acredito que haja uma certa sobreposição nos conceitos.

 

Barnean

[Sugestões de alternativas traduzidas: barneã, barneane com final de palavra flexível (barneano, barneanae, barneany, etc.)]

Este termo descreve um gênero não-binário formado por uma experiência de gênero como “criança” ao invés de “menina” ou “menino” durante a infância. Tal experiência pode ser um resultado de isolamento de qualquer contato com outras crianças, de uma criação propositalmente sem imposições de gênero, de uma falta de identificação dentro de separações binárias feitas por outras crianças ou de outras experiências do tipo.

A ideia deste gênero é que há também uma separação entre quem é barneã e quem é adulte, por conta do tratamento como criança ao invés de ser simplesmente um tratamento neutro ou sem gênero concedido a ume adulte. Dito isso, enquanto o gênero foi cunhado para ser usado principalmente por menores de idade ou para descrever um estado anterior de ume adulte não-binárie que considera que teve uma experiência de ser barneã, é possível que adultes usem o termo pela vida inteira por conta de como suas experiências como criança afetaram seu gênero, desde que não finjam ser menores de idade por conta disso.

O termo foi cunhado por neogenders no Tumblr em 17 de novembro de 2020.

 

Sproutlingen (cunhagem aqui) & fleurlingen (cunhagem aqui)

Ambos estes termos foram cunhados por mogaisprout no Tumblr, e são gêneros associados com a capacidade infantil de se maravilhar, com inocência, com nostalgia e com a sensação de estar em campo/floresta/outro lugar com natureza em um dia morno.

A diferença é que sproutlingen é um gênero que passa a sensação de ser um broto e fleurlingen passa a sensação de ser uma flor, ainda que em ambos os casos as plantas passem também a impressão de serem pequenas e ainda não completamente desenvolvidas.

Apesar destes termos serem bastante específicos, não é tão óbvia a existência desses biogêneros mais ou menos relacionados com infância!

 

Versões jovens de homem/mulher (como identidades pleonóticas)

A cunhagem de pleonótique foi feita em 16 de março de 2019 por imoga-pride no Tumblr. O termo descreve alguém que não se identifica com todos os termos que são geralmente considerados sinônimos de uma mesma identidade de gênero. Os termos menino e homem muitas vezes são considerados referentes a um mesmo gênero, por exemplo, assim como menina e mulher. Porém, existem pessoas que veem o seu gênero especificamente como relacionado a ser menina ou menino, e não às “versões adultas” de tais gêneros.

Em 11 de novembro de 2019, carpsstuff/genderiswhaaat no Tumblr cunhou boygender, termo que pode ser traduzido aproximadamente como gênero-menino (visto que não temos diferenciação na língua portuguesa entre criança do gênero homem e criança que usa o final de palavra o). Em 17 de agosto de 2020, neopronouns no Tumblr falou sobre os possíveis termos correspondentes gênero-menina, gênero-homem e gênero-mulher.

Pessoas podem se ver dentro desses termos por sentir que seus gêneros são relacionados a arquétipos mais relacionados com ser “menina”/”menino” do que com as “versões adultas” desses gêneros. Isso pode ter a ver com estéticas, normas de gênero um pouco diferenciadas ou arquétipos representados na mídia, por exemplo. Obviamente, assim como outres não podem usar suas identidades de gênero como desculpas para comportamentos inapropriados, ser destes gêneros não significa que pessoas podem tentar escapar de quaisquer responsabilidades relacionadas com suas idades, ou que qualquer pessoa sequer esteja usando essas identidades para algum tipo de fraude.

Existem algumas interpretações mais específicas de gênero-menina e gênero-menino. Por exemplo, a postagem de carpsstuff menciona um senso de inocência; já TurtRose neste tweet coloca gênero-menino como caracterizado por ser menino, por masculinidade leve e por não-binaridade/feminilidade.

 

Quella

Este gênero é associado com ser menina, mas não mulher, sem que isso tenha a ver com idade; também tem a ver com princesas, ar, água e a cor azul. Pode ser tradicionalmente feminino, mas não precisa ser. O termo foi cunhado em 2019 por aminotunique-blog em envios ao Tumblr beyond-mogai-pride-flags.

 

Enboyinmaic

Este gênero masculino, neutro e xenino é relacionado com hombridade jovem não-binária e com os termos boy (menino), handsome (lindo, mas de forma distintamente masculina) e gentleman (cavalheiro), sem ter relação com o termo homem. Foi cunhado por pupyzu no Tumblr no dia 12 de março de 2021.


Os gêneros mencionados acima são apenas exemplos. Devem existir muitos outros termos por aí relacionados com infância, meninidade ou afins.

Finalmente, quero apontar que pessoas não-binárias são frequentemente infantilizadas. Não é incomum ver pessoas regurgitando argumentos exorsexistas sobre pessoas não-binárias só se identificarem como tal por não entenderem como funciona a suposta materialidade do conceito de gênero ou caricaturizando pessoas não-binárias como adolescentes imatures e chorones. Por isso, acho bom evitar presumir “meninidade” de pessoas não-binárias que não se identificam com tal conceito. Se você não usaria “meninos”/”moços” para falar de um grupo de homens, não faz sentido usar “menines”/”moces” para um grupo de pessoas não-binárias da mesma idade.

Independentemente da identidade ou expressão de gênero que alguém tiver, não infantilize pessoas que não pediram por isso.

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