Aviso: Não há forma de explicar este conceito de forma simples e fácil a pessoas sem muita noção de conceitos acerca de gênero. Optei por descrever tudo de forma bem mastigada, mas isso significa que o texto pode parecer complexo ou ser cansativo para quem recém aprendeu conceitos como “sexo e gênero são diferentes” ou “existem gêneros além de homem e mulher”.
Não há pressa em entender os conceitos apresentados aqui, e caso a ideia seja apenas aprender mais sobre gênero para entender mais sobre pessoas cisdissidentes, peço somente respeito em relação aos termos que cada pessoa aplica ou não aplica a si. Há muitos outros conteúdos mais básicos sobre conceitos relacionados a gênero ou cisdissidência para quem está começando, como as postagens mais antigas do blog do Orientando.
Pessoas pleonóticas se identificam com um ou mais termos que se referem a determinado gênero mas não todos (como alguém que é parcialmente de um gênero binário que usa o termo demimenino, sem nunca usar demi-homem). Esta página não é exatamente sobre tal termo, mas sim sobre as diferentes formas de se referir a gêneros binários, suas vantagens e desvantagens, e sobre como as páginas do Orientando lidam com esta questão de forma geral (é possível que haja um ou outro conteúdo antigo que use termos diferentes).
O motivo de não chamar gêneros binários de feminino e masculino
Na língua inglesa, os nomes para gêneros binários são female e male. Estas palavras diferem de suas traduções “gênero feminino” e “gênero masculino” porque, na língua inglesa, os adjetivos relacionados às palavras feminilidade e masculinidade são feminine e masculine, enquanto na língua portuguesa, não há forma fácil de diferenciar um gênero feminino no sentido de feminilidade (feminine gender) de um gênero feminino no sentido de ser mulher (female gender).
Feminilidade e masculinidade são arquétipos relacionados a gêneros binários, mas seus estereótipos acabam indo além destes. Existem homens descrites como afeminades ou feminines sem que haja dúvida de que sejam homens. Existem pessoas não-binárias que gostam de adotar expressões masculinas ainda que não tenham nenhum gênero parecido com o gênero homem; podem ser pessoas agênero, mulheres não-bináries, maveriques ou de quaisquer outras identidades de gênero.
No site Orientando, geralmente o uso de gênero feminino ou de gênero masculino se trata de gêneros relacionados com feminilidade ou masculinidade. Quando termos são cunhados de forma que dizem ser gêneros femininos ou masculinos, mas há sinais de que a ideia é que estejam se referindo a gêneros binários, geralmente eles estão postos aqui como gêneros relacionados ou também relacionados a ser mulher ou homem.
Questões do uso dos termos homem e mulher para se referir a gêneros binários
Também na língua inglesa, há uma diferenciação nas palavras usadas para os gêneros binários quando se referem a crianças e adultes (girl e woman para female, boy e man para male). Ainda que estas palavras ainda remetam a um binário de gênero, há pessoas não-binárias cujas identidades de gênero são relacionadas apenas às versões jovens ou às versões adultas de tais gêneros.
Isso pode ser porque veem as versões jovens como mais livres ou leves em relação aos papéis de gênero esperados. Ou porque veem as versões adultas como maduras, mais sexuais ou mais relacionadas com arquétipos de ser mãe ou pai. Ou por associações negativas com a versão jovem ou adulta por conta de abuso ou assédio. Ou por qualquer outro motivo. Independentemente de qual for, é importante respeitar as escolhas de cada pessoa quanto aos rótulos que aceita ou não aceita.
Enfim, isso traz um problema na língua portuguesa porque as traduções mais próximas para boy e girl são menino e menina. Porém, estes termos acabam sendo mais dependentes da linguagem pessoal do que da identidade de gênero de alguém. Uma homem que usa a/ela/a geralmente vai aceitar ser referida como uma menina. Alguém bigênero que usa o/ele/o geralmente vai aceitar ser referido como menino. O mesmo acontece com a maior parte dos termos que são usados para descrever os gêneros de crianças e adolescentes: a diferença entre guri e guria, garoto e garota, moça e moço e por assim vai é o final de palavra.
Embora eu diria que o uso desses termos em contextos específicos de gênero (como magimenina ou meninos trans) indiquem referências a gêneros binários (e não a pessoas magigênero que usam o final a ou pessoas trans que usam o final o), existem pessoas que se incomodam com igualar meninas com versões jovens de mulheres e meninos com versões jovens de homens.
Nossa posição atual sobre como falar de gêneros binários
Levando essas duas coisas em consideração, o padrão do site Orientando é usar homem e mulher para se referir aos gêneros binários, de forma geral. Afinal, grande parte dos gêneros que usam os conceitos de boy e girl também se aplicam às versões adultas destes gêneros.
Em casos onde não há como evitar separações entre as versões jovens e adultas, isso é apontado nas descrições ou páginas das identidades de gênero, utilizando menina como versão jovem de mulher e menino como versão jovem de homem: a identidade qufa é um exemplo de onde isso acontece. Inavire e gêneros relacionados possuem explicações de termos para pessoas mais jovens e adultas do mesmo gênero usando meninas/meninos como exemplo de mulheres/homens mais jovens também, já que não há equivalentes mais específicos que consideramos populares o suficiente para usar como exemplos.
Existem os termos wifgender e wergender para se referir aos gêneros binários sem separação etária, porém eles são muito pouco conhecidos e pouco intuitivos para falantes da língua portuguesa, ainda mais se uma adaptação tiver que ser usada (uife e uer, talvez). É possível que esta posição mude de acordo com a quantidade de pessoas pleonóticas ou com a popularização de termos que se refiram a gêneros binários sem dividi-los por idade, mas este não é o caso atual.