A ação discriminatória causada por cada um desses sistemas normalmente é chamada de [alguma coisa]fobia. Como esta escolha de palavras infere que, digamos, homofobia é algo com origens e consequências similares à claustrofobia e à aracnofobia, estaremos evitando estas palavras o quanto possível no site. Em seu lugar, ou falaremos dos sistemas que causam essas discriminações mais específicas, ou substituiremos o sufixo -fobia por -misia, que significa ódio.
Existem mais sistemas do que os listados aqui: só estamos listando os mais relevantes ao propósito do site.
Diadismo: A crença de que pessoas intersexo são raras ou inexistentes, e que as que existem, devem ser “consertadas” para que sejam corretamente vistas como um sexo binário. A crença de que pessoas intersexo não devem ser consideradas na hora de dizer frases do tipo “todas as mulheres não-trans possuem úteros”, ou “você só pode ser biologicamente macho ou fêmea”. Diadismo gera intersexomisia.
Cissexismo/cisnormatividade: A crença de que só existem dois gêneros, determinados biologicamente pela genitália, e de que qualquer pessoa que diz ser de “outro” gênero (incluindo o que “não corresponde com seus genitais”) está mentindo, tem apenas um fetiche ou doença mental, não deve ser encorajada a pensar que isso é verdade, etc. Cissexismo gera transmisia, travestimisia, exorsexismo, entre outras questões.
Exorsexismo: A crença de que pessoas não-binárias – ou de que quaisquer outras pessoas que não se identificam somente, constantemente e completamente como homens ou como mulheres – estão só imaginando coisas, ou mentindo. De que não existem, ou de que não devem ser consideradas relevantes. De que sempre houveram dois gêneros, homem e mulher, durante toda a história de todas as sociedades. De que certos gêneros não são reais e merecem ser desrespeitados. De que gêneros não podem ser influenciados por neurodivergência, intersexualidade ou outros fatores. De que gêneros possuem uma fixa quantidade, ou de que não podem ser fluidos. Exorsexismo é um subtipo de cissexismo, e os termos similares com o sufixo misia são nbmisia e enebemisia.
Ainda dentro do exorsexismo, a redução de pessoas não-binárias àquelas que são “basicamente homens” e àquelas que são “basicamente mulheres”, não importa o quanto a identidade não-binária é respeitada superficialmente, se chama reducionismo de gênero. A suposição de que todo mundo tem um (único) gênero ou gênero principal e a pressão para que pessoas sem um gênero ou com mais de um gênero se encaixem nos moldes de quem tem um gênero se chama monogenerismo.
Heterossexismo/heteronormatividade: A crença de que ser hétero é “normal/natural/padrão” e o resto não. De que pessoas de qualquer outra orientação só estão fingindo ser o que não são, ou de que são doentes e devem ser isoladas, “curadas” ou mortas. A crença de que casais que não são compostos por um homem e por uma mulher num relacionamento sexual e romântico não deveriam ter os mesmos direitos dos que são. Isso gera qualquer opressão ligada a orientações, como homomisia, bimisia, acemisia, monossexismo, duaricismo, entre outras.
Monossexismo: A crença de que pessoas só são atraídas por um gênero. De que pessoas multi estão mentindo, ou são doentes. De que eventualmente todes vão escolher apenas um gênero. De que pessoas multi vão trair para ficar com alguém de outro gênero. Monossexismo gera bimisia, multimisia, etc., e pode ocasionalmente contribuir para aromisia, para acemisia, para a crença de que existem pouquíssimas orientações válidas, entre outras coisas.
Duaricismo: A crença de que relacionamentos duáricos (entre um homem e uma mulher) são mais verdadeiros, saudáveis, desejáveis ou ideais, em comparação com outras configurações de relacionamentos. A crença de que está tudo bem ter relacionamentos não-duáricos desde que “no final” ou publicamente pessoas heterodissidentes se mostrem duáricas, ou de que mesmo pessoas binárias que não sintam atração pelo outro gênero binário seriam mais felizes em um relacionamento duárico. Esta é uma forma de heterossexismo mais específica que não cobre monossexismo ou alossexismo (entre outras suposições), e que gera homomisia e descrença em relação a ser possível alguém querer se relacionar com pessoas não-binárias, entre outras coisas.
Zedsexismo/allossexismo/alossexismo: A crença de que todas as pessoas vão eventualmente ser atraídas por outras, e querer relacionamentos com outras. A crença de que um relacionamento sem atração sexual ou romântica é incompleto ou de menos valor, e de que pessoas que não sentem atração ou que não querem relacionamentos precisam ser “consertadas”. A crença de que pessoas assexuais e arromânticas devem ter sofrido algo para ficarem assim (pode ser o caso, mas nem sempre, e mesmo assim isso não seria motivo para desrespeito ou “conserto”). Zedsexismo gera acemisia, aromisia e afins.
Amatonormatividade: A crença de que relações românticas são mais importantes do que amizades. A crença de que pessoas precisam ter um grande amor como objetivo de vida. A crença de que pessoas que não se apaixonam não possuem empatia em outros aspectos, ou que são doentes. A crença de que pessoas que nunca sentiram atração romântica um dia vão “encontrar a pessoa certa”. Amatonormatividade também gera aromisia, além de discriminações anti-poliamor.
Di/cis/heterosexismo: Mistura de diadismo, cissexismo e heterossexismo. É o sistema que causa todas as opressões contra a comunidade LGBTQIAPN+.
Quanto à lesbomisia e à transmisoginia, estas são geradas por intersecções de misoginia e heterossexismo e por cissexismo e misoginia, respectivamente. Existem outras intersecções importantes, como, por exemplo, com raça ou deficiência, mas até o momento, não sabemos de palavras para descrevê-las.
Já binarismo, ainda que seja uma palavra muito usada no lugar de exorsexismo, também é uma palavra para falar do colonialismo que lutou para apagar identidades além de homem e mulher em culturas que tinham mais identidades de gênero além dessas, ou uma palavra para falar sobre papéis de gênero que separam tudo entre homem e mulher. Para não causar confusão, utilizamos exorsexismo para falar sobre a opressão que só considera (somente, constantemente, completamente) homem e (somente, constantemente, completamente) mulher como identidades válidas.